"Peguei dengue e não sei como, porque lá em casa tomamos todos os cuidados, recebemos os agentes da prefeitura e estamos sempre atentos, mas acabou acontecendo", relata a comerciante Isabel Ferraz, que estava no Centro de Saúde Vera Cruz na manhã deste sábado (24/2), também marcado como o Dia D de combate à dengue em Belo Horizonte e em mais de 500 municípios mineiros. A iniciativa é da Secretaria de Estado de Saúde em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
No entanto, Isabel se preocupa com a falta de cuidado de outras pessoas na vizinhança. "Temos um terraço coberto que está bem cuidado e os agentes da prefeitura usam para observar outras casas, e é sempre um descuido: caixas d'água destampadas, calhas sujas e acumulando água. Aí ficamos vulneráveis", explica.
Neste sábado, as ações de prevenção na capital serão realizadas nas nove regionais da cidade, com intensificação das vistorias dos Agentes de Combate a Endemias (ACE) em imóveis, para verificação dás condições dos ambientes e eliminar os possíveis criadouros dos mosquitos. Na região Leste, os secretários de Saúde municipal e estadual, Danilo Borges Matias e Fábio Baccheretti, respectivamente, estiveram presentes para acompanhar os trabalhos das equipes pela manhã.
Geladeiras e calhas podem ser criadouros de mosquitos
O Dia D de combate à dengue e outras arboviroses consiste em ações de mobilização para conscientizar a população sobre a responsabilidade diária de manter o cuidado nos ambientes domiciliares. Durante as visitas, os agentes orientam sobre a eliminação dos possíveis criadouros e, se necessário, aplicam biolarvicidas – como aconteceu na casa da técnica de enfermagem Efigênia de Jesus Vieira.
Durante a visita, nos fundos da casa, os servidores viram uma calha com grande potencial de acúmulo de água parada. Esvaziada, o agente presente aplicou o biolarvicida, um pequeno comprimido que elimina as larvas de Aedes aegypti.
“A gente olha, olha, mas quando eles chegam, procuram por detalhes que a gente não vê no dia a dia, como as calhas, atrás da geladeira. Dengue eu nunca tive, mas também não quero ter”, explica Efigênia.
E lugar inusitado para criadouro de mosquito não falta. Na casa da aposentada Elza Batista, durante a vistoria, os agentes lembraram que a geladeira pode ser um foco de larvas – o que pode ser evitado com limpas frequentes e um pouco de detergente. Enquanto o agente de saúde aplicava um detergente, um mosquito saiu voando.
“Peguei logo meu celular para avisar minha filha, porque eu não sabia que poderia ter foco atrás da geladeira. A gente cuida de plantinha, de caixa d’água, mas nunca pensa em olhar aqui”, explica Elza.
A colaboração das pessoas é indispensável. De acordo com o último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), 86,9% dos focos estão dentro das casas. Os criadouros predominantes são: 33,1% em pratinhos de plantas, 21% em inservíveis (embalagens de algum produto) e 8,9% em recipientes domésticos.
'Dia D deve ser todos os dias', diz secretário
Para o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, o Dia D deve ser todos os dias, e que é importante fazer a sua parte para que toda a comunidade possa evitar a contaminação por arboviroses, principalmente neste período, considerado o pior da história em Minas Gerais.
“A gente percebe como temos que abrir as portas para os agentes de endemias, e nós também temos um papel como sociedade, de falar com os vizinhos, com os amigos, sobre o que a gente sabe. Este Dia D tem que ser todos os dias, e estamos aqui para sensibilizar a população”, afirma.
“Essa semana choveu muito e hoje está fazendo calor, então é dia de visitar todos aqueles locais que podem acumular água, principalmente aqueles em que a gente não imagina que possam acumular”, complementa o secretário municipal de Saúde, Danilo Borges Matias.
Algumas das dicas para evitar o foco de Aedes aegypti são:
- Retirar os pratinhos das plantas;
- Manter a caixa d’água bem fechada;
- Colocar pneus velhos em um lugar fechado ou levar para uma URPV;
- Lavar bem as vasilhas dos pets;
- Limpar telhas e calhas para não acumular água;
- Virar garrafas e potes vazios;
- Colocar o lixo no saco plástico e fechar bem a lixeira;
- Conferir o quintal em busca de água parada;
- Retirar a água de bandejas externas de geladeira e ar-condicionado;
- Limpar a piscina e tratar com cloro.
“São coisas que a gente, no nosso dia a dia, não percebe, mas o olhar clínico dos agentes está sempre procurando – e achando”, conta o diretor de Zoonoses da PBH, Eduardo Viana.
Recusa das visitas dos agentes
O secretário municipal de Saúde também fez um pedido para que as pessoas não se recusem a receber os Agentes de Combate a Endemias em suas casas, o que tem acontecido em alguns casos. Nesses casos, o secretário municipal de Saúde afirma que podem ser feitas notificações, multas e até mesmo entradas forçadas nas residências que negarem as visitas.
A subsecretária de Vigilância em Saúde de Minas Gerais, Thaisa Pereira, incentiva que as visitas sejam bem-vindas e explica que a privacidade dos moradores não será violada. “Às vezes, nos deparamos com situações que chamam a atenção, mas que não são intencionais, e sim por desconhecimento”, explica ela. “É importante que as pessoas abram suas casas, porque a visita é individual, mas o momento é coletivo e de emergência de saúde. ”, complementa Thaisa.
Durante a passagem do EM pelos arredores do Centro de Saúde Vera Cruz, a reportagem recebeu uma denúncia de água parada em um quintal: dois recipientes deixados em meio ao mato alto que crescia nos fundos de uma casa grande. “A gente vê, avisa os vizinhos, mas eles não fazem nada e brigam com a gente. Nem recebem os agentes da prefeitura”, afirma um morador que preferiu não ser identificado.
“A gente precisa exatamente disso. A prefeitura tem um canal de denúncias que pode ser feita de forma anônima, então não precisa ter problema com vizinhos. Então, através do portal de serviços da prefeitura, do BHApp ou do Disque 156, a pessoa pode denunciar: ‘olha, a casa de número tal, ao lado da minha casa, tem um possível foco de Aedes aegypti’. A partir disso, mandamos um agente”, explicou o diretor de Zoonoses da PBH, Eduardo Viana.
De acordo com ele, o uso de drones auxiliará em casos como este. “Por exemplo, aqui a gente nem imaginava. A gente entra numa área comum, limitam acesso a alguns outros lugares. O bom de também usarmos drone é que a gente vê por cima, já marca os pontos e o agente já vai direto ali”, conclui.