Bota-fora em bairro da capital: Ao lado de alterações climáticas, fatores sociais e urbanísticos aumentam o risco de arboviroses -  (crédito: Leandro Couri /EM/D.A Press)

Bota-fora em bairro da capital: Ao lado de alterações climáticas, fatores sociais e urbanísticos aumentam o risco de arboviroses

crédito: Leandro Couri /EM/D.A Press

 

 Regionais de Belo Horizonte como a Pampulha e a Leste estão entre as que mais experimentariam ampliação de casos de dengue até 2030, caso haja descuido no combate à doença e ao enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo o estudo “Análise de vulnerabilidade às mudanças climáticas – Dengue 2030”, encomendado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), considerando-se os dados de 2024 entre janeiro e a terceira semana epidemiológica de fevereiro, a Pampulha poderia ter incremento de até 500%, passando de 154 casos confirmados para 924. Já a Regional Leste experimentaria 484% mais casos, passando de 265 para 1.548, podendo se tornar a segunda com mais doentes da cidade.


Caso as projeções se confirmassem, no entanto, a Regional Barreiro que tinha a mais grave situação até fevereiro de 2024, com 555 casos confirmados, teria um aumento menos expressivo, de 182%, mas manteria a liderança entre as regiões de BH com mais casos de dengue, somando 1.556.


De forma geral, as regionais Norte, Venda Nova, Pampulha, Nordeste e Noroeste poderão apresentar até 226% mais casos de dengue em 2030 do que os registrados no ano-base de 2016, enquanto Leste, Oeste, Centro-Sul e Barreiro, até 440%. A mesma proporção pode representar uma ampliação média de 180% na comparação com 2024.


Setor Norte vulnerável

No futuro, a tendência da distribuição espacial atualmente observada na exposição climática se mantém, mas com uma intensidade bastante maior em todas as regiões, segundo a análise de vulnerabilidade à dengue. “A região Norte (Pampulha, Venda Nova, Norte, Noroeste e Nordeste) continuará a ser a mais afetada pelos fatores extremos climáticos de temperatura, pelo aumento da temperatura mínima e chuvas, apresentando as maiores médias e máximas de potencial a dengue”, observa o estudo.


“Temperaturas mais elevadas relacionadas a dinâmica de chuvas do setor territorial Norte criam um ambiente propício para o aumento populacional do vetor (o Aedes aegypti). A associação desses fatores climáticos favoráveis com a recorrência de extremos pode indicar aumento dos picos de explosão populacional do mosquito”, avaliam os técnicos que fizeram o levantamento.


O estudo prevê ainda que as regionais Centro-Sul, Leste, Oeste e Barreiro chegarão a igualar os números de casos das áreas mais ao norte, o que já vem ocorrendo em 2024. “Essa região poderá apresentar suscetibilidade à dengue no futuro, em uma dimensão semelhante às que se encontram os maiores focos da doença no município.”


Destaque para o Barreiro, atualmente com alto número de casos e potencialmente também no futuro. “Na Regional Barreiro, indicadores de saneamento, como coleta de lixo e desabastecimento de água, indicaram alta sensibilidade nessa regional para aumento de criadouros (do mosquito), mesmo diante de temperaturas mais amenas. A falta de água na rede pode implicar aumento de criadouros, uma vez que acaba por direcionar a reserva de água em domicílio que é feita, muitas vezes, de forma inadequada, favorecendo o surgimento de criadouros atípicos em baldes, tambores e caixas d’água expostas”, indicam os pesquisadores.


“O aumento das médias de temperatura favorecem o estabelecimento do mosquito mesmo no inverno nas regionais presentes na porção Sul de Belo Horizonte”, acrescenta o trabalho.


Capital investe em vigilância e combate

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte afirma manter o georreferenciamento dos casos notificados e confirmados de dengue e outras arboviroses. “O acompanhamento permite que o município identifique as áreas com maior proporção/ocorrência de casos da doença e intensifique as ações de prevenção”, informa.


As atividades atualmente são planejadas e definidas conforme avaliação técnica de cada território, considerando os aspectos epidemiológicos (ocorrência de casos humanos), entomológicos (densidade vetorial do Aedes aegypti) e operacionais de cada área analisada.


Os agentes de combate a endemias trabalham percorrendo imóveis e reforçando as orientações sobre os riscos do acúmulo de água, para que não se tornem criadouros do mosquito. “Nessas visitas, também são repassadas orientações sobre como eliminar os focos e, se necessário, é feita a aplicação de biolarvicidas. Em 2024, mais de 364 mil imóveis já foram visitados pelas equipes”, informa a Saúde municipal.


Inseticida e drones

A pasta informou que também aplica o inseticida a ultrabaixo volume (UBV) para o combate a mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local e também após avaliação ambiental pelas equipes da Zoonoses. “Em 2024, já foi realizada a aplicação do inseticida em mais de 16 mil imóveis. Mutirões de limpeza são realizados pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) durante todo o ano. Foram feitos 36 mutirões, com o recolhimento de mais de 160 toneladas de resíduos, em cerca de 3.200 imóveis”, contabiliza a pasta da Saúde.


Segundo a secretaria, ao longo do ano são feitos também sobrevoos com drones, para mapear locais, diagnosticar focos e intervir quando necessário. Neste ano, segundo a prefeitura, ocorreram 19 voos.


Armadilha para o mosquito

O município informa realizar também o monitoramento do número de ovos do mosquito, por meio das ovitrampas, instaladas em imóveis selecionados pela equipe de Zoonoses. São armadilhas que simulam o ambiente para a procriação do mosquito e armazenam substância que atrai as fêmeas. No recipiente, as fêmeas depositam ovos que são contados para verificação do número de mosquitos adultos circulando na região.


Atualmente há 1.772 ovitrampas em imóveis de todas as regiões, instaladas em locais sombreados, abrigados da chuva e com menor fluxo de pessoas e animais. Após sete dias de instalação, as armadilhas são recolhidas e é feita a contagem de ovos em laboratório da PBH. “A partir desses resultados, são realizadas análises para o direcionamento estratégico das ações em campo. Em 2024 já foram realizadas cerca de 7 mil visitas para monitoramento”, informa a PBH.


Outro monitoramento considerado importante pelo município é o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), feito em cerca de 88 mil locais da capital, que identifica áreas da cidade com maior proporção ou ocorrência de focos do mosquito e os criadouros predominantes. “As informações do LIRAa possibilitam a intensificação das ações de combate à dengue nos locais com maior presença do Aedes aegypti, além de orientação para os agentes e população a respeito dos principais criadouros do mosquito”, destaca a PBH.


A batalha em números

 

364 mil

imóveis visitados em BH por agentes de combate a endemias


16 mil

imóveis na capital receberam aplicação de inseticida a ultrabaixo volume (UBV) para eliminar mosquitos adultos

 

160


toneladas de resíduos recolhidos em cerca de 3.200 imóveis durante 36 mutirões de limpeza em Belo Horizonte


19


voos de drones, para mapear locais com potencial para abrigar focos do
Aedes aegpyti na cidade este ano


7 mil


visitas para monitoramento das ovitrampas instaladas na capital


1.772


armadilhas para mosquitos (ovitrampas,), instaladas em imóveis de todas as regiões para monitoramento de ovos do transmissor da dengue


88 mil


locais em BH onde é feito o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), para identificar áreas da cidade com mais focos e criadouros