A Justiça condenou nesta segunda-feira (26/2) Jaqueline Roberta Ornelas, nome social de Matheus Ornelas, de 27 anos, a 13 anos e quatro meses de prisão em regime fechado por tentativa de homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e meio cruel, e coação feita em novembro de 2021 contra Victor Guimarães Rodrigues, de 25 anos, e seus familiares. O julgamento aconteceu no 2° Tribunal do Júri em Belo Horizonte.
Ornelas chegou a ser presa em frente ao hospital, cerca de um mês após o crime. Atualmente, já se identificando como mulher trans, está na penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, na Grande BH.
O conselho de sentença era formado por quatro mulheres e três homens.
A vítima e sua mãe se emocionaram em diversos momentos do julgamento. Ambos foram os primeiros a prestar depoimento. Outra que depôs foi a namorada de Victor. Na época do crime, eles haviam rompido o namoro. Mas ela se reaproximou da família para ajudar nos cuidados com Victor e acabaram reatando o relacionamento após o ocorrido.
No depoimento, a namorada disse que no período posterior ao crime, assim como a mãe de Victor, sofreu ameaças da acusada pelo celular e pessoalmente. A namorada relatou que Ornelas chegou a ir dezenas de vezes ao pronto socorro em que a vítima estava internada e na casa dos pais de Victor para intimidar a família.
Já a acusada se recusou a responder quaisquer questionamentos da promotoria e respondeu apenas as perguntas de sua defesa. O Ministério Público pediu a condenação de Ornelas por tentativa de homicídio qualificado e enfatizou o risco de morte decorrente dos ferimentos causados pelas queimaduras de óleo, além das sequelas permanentes sofridas pela vítima. O promotor Henry Wagner encerrou sua réplica enfatizando que a acusada agiu de forma intencional e perversa. Ele apresentou aos jurados fotos de bilhetes e objetos enviados por Ornelas para a mãe de Victor para humilhá-la e intimidá-la.
Já a defesa, na tréplica, insistiu que não houve premeditação e que o desentendimento que resultou na agressão com óleo quente ocorreu após a vítima se indispor diante da revelação de ter sido enganada pelo perfil falso.
O caso
Victor Guimarães Rodrigues, após rejeitar uma tentativa de investida amorosa, foi atacado com óleo quente no rosto e peito pela acusada. Ele chegou a ser socorrido no Hospital João XXIII, onde foram constatadas graves queimaduras em boa parte do corpo, tendo ficado internado por 43 dias e afastado do trabalho por quatro meses. Mesmo dois anos após o ataque, ele ainda mantém cicatrizes.
Ainda se reconhecendo pelo nome masculino à época, Matheus, criou um perfil falso no aplicativo de relacionamento, usando o nome de "Juliana" e fotos de uma influencer com quase 10 mil seguidores. Foi por meio deste perfil que conheceu a vítima. A acusada também chegou a fazer perfis de diversas outras pessoas que fariam parte de seu ciclo social, como pai e mãe. Matheus se apresentou a vítima com sua identidade real, mas se passando por amigo de "Juliana".
As conversas entre eles duraram três meses. Após uma série de encontros pessoais frustrados, a acusada, sob o pretexto de auxiliar um encontro entre Victor e a personagem que havia criado, pediu que a vítima fosse a casa de sua mãe no Bairro Trevo, Região da Pampulha. A desculpa seria para ajudar em uma suposta mudança para o prédio em que "Juliana" morava.
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Lá, Victor foi alvo de uma emboscada e, ao rejeitar as investidas amorosas de Ornelas, foi atacado com uma panela com óleo quente. A acusada também tentou esganar Victor. Ao se esquivar e conseguir escapar do imóvel, ele foi socorrido por vizinhos e levado para o hospital.