Material apreendido pelos agentes durante a operação -  (crédito: DIvulgação)

Material apreendido pelos agentes durante a operação

crédito: DIvulgação

O inquérito da Polícia Federal que investigava as ações de policiais militares de Minas Gerais e agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Varginha, no Sul de Minas, no dia 16 de outubro de 2021, foi concluído com o indiciamento de 23 PRFs e 16 PMs. O caso ficou conhecido como “Chacina de Varginha”. As informações são da Agência Pública.

A operação deixou 26 pessoas mortas. A princípio, os agentes envolvidos disseram ter acontecido uma troca de tiros com os bandidos do “Novo Cangaço”, modalidade conhecida pela alta violência e roubos à bancos. As investigações da PF apontaram que os bandidos foram surpreendidos pela operação e não estavam armados no momento. A troca de tiros, defendida pelos agentes, teria sido forjada.

De acordo com a Agência Pública, o inquérito tem mais de 1.400 páginas. Os indiciados vão responder pelos crimes de tortura, autoria e coautoria de homicídio qualificado (quando há intenção de matar) e fraude processual.

A ação ocorreu em duas chácaras, nas quais a quadrilha estava reunida em dois grupos para planejar e partir para ataques a agências bancárias no sul de Minas Gerais, segundo a PRF. A polícia apresentou um farto armamento apreendido, incluindo fuzis, escopetas, granadas, explosivos, coletes à prova de bala e até uma metralhadora de calibre .50.

Eles foram surpreendidos pelos policiais, que chegaram atirando no local. No primeiro imóvel, 18 foram mortos. Já no segundo, 8. Nenhum policial ficou ferido.

Ainda segundo o inquérito, para alterar a cena, os corpos ensanguentados foram arrastados sob o argumento de que deveriam ser socorridos, vestígios foram retirados dos locais originais ou “misturados a elementos deliberadamente introduzidos na cena”, roupas e objetos foram “espalhados por todos os cômodos por cima das marcas de arrastamento”, colchões foram transferidos “de um ambiente para outro”, carros e armamentos foram retirados dos locais onde se encontravam.

O exame pericial indicou que, em uma das chácaras, os policiais dispararam pelo menos 216 vezes, contra oito efetuados pelos suspeitos de integrar a quadrilha – contudo, há armas que não foram entregues para exames.

Algumas das lesões encontradas nas vítimas são características de defesa pessoal, principalmente nos braços e nas pernas. A PF apontou que não houve resistência ou injusta agressão contra os policiais por parte do grupo.

Dos 26 mortos, oito eram mineiros de Uberaba, cidade que em 2019 foi dominada pelos criminosos do Novo Cangaço, que espalharam explosivos pelas ruas, usaram pessoas como escudos humanos presas a veículos e transformaram as esquinas em campos de batalha, matando uma mulher de 21 anos duas feridas.

A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com os órgãos citados. A Polícia Federal confirmou que o inquérito foi enviado para a Justiça. Já a Polícia Rodoviária Federal (PRF) destacou que, no dia da operação, os agentes agiram em legítima defesa e que em 2023 um procedimento interno foi reaberto para investigar o caso.

A Polícia Militar do estado informou que segue acompanhando o caso.

A Defensoria Pública de Minas Gerais informou em nota que, "or atribuição constitucional, a Defensoria atua na defesa dos policiais. Mas em processos criminais se manifesta apenas nos autos para não prejudicar o andamento". O advogado dos agentes da PRF não se pronunciou. O espaço segue aberto.