Com mais de 500 blocos cadastrados, as ruas de Belo Horizonte prometem ser ocupadas por cerca de 5,5 milhões de pessoas na folia de 2024. A relevância do carnaval belorizontino cresce mais a cada ano e pode ficar difícil para alguns foliões imaginarem uma época em que não era assim. No entanto, no ano de 1989 o carnaval de BH esteve em maus lençóis. A má notícia foi dada através da matéria intitulada “Agora é definitivo. BH não terá carnaval de rua.”, publicada pelo Estado de Minas em 14 de janeiro daquele ano.


O principal motivo para o “cancelamento” do carnaval em 1989 foi a falta de verba. Naquela época, um conflito entre a oferta de financiamento do poder público e o orçamento solicitado inviabilizou o desfile das escolas de samba e dos blocos de rua e caricatos de BH. O governo oferecia 250 milhões de cruzeiros, sendo 175 milhões para as escolas e blocos e o restante para a infra-estrutura, orçada, no entanto, em cerca de 400 milhões, segundo as entidades carnavalescas.


As negociações foram feitas através do secretário de Estado da Casa Civil à época, Aloísio Vasconcelos que, na tentativa de apaziguar os ânimos, disse que a cidade teria “um carnaval da boa vontade”, ao assegurar os 250 milhões de cruzeiros. Ele afirmou que o carnaval dependia apenas da adequação dos orçamentos fornecidos por empresas de som e montagem de arquibancada. No entanto, isso implicaria redução significativa de empresas privadas para que os recursos fossem suficientes já que o custo dos equipamentos foi orçado em cerca de mais de 360 milhões de cruzeiros. Sem que o governo tenha conseguido a “adequação”, o carnaval de rua foi impossibilitado. O presidente da União das Escolas de Samba e Blocos de Minas Gerais, Ramis Hissa, demonstrou indignação em entrevista ao jornal ao afirmar que “não adiantava mesmo a ajuda do governo pois não haveria mais tempo hábil para a organização das escolas”. “Isto vai continuar acontecendo até o dia em que os prefeitos tenham claro em sua mente que um carnaval não é feito em 30 dias e sim em um ano”, afirmou Hissa.


A escola de samba Canto da Alvorada que, diferente de algumas escolas, já estava com todos os preparativos prontos para o desfile, também demonstrou indignação com o cancelamento. “A Canto da Alvorada está agindo para ser autônoma e independente de palhaçadas do governo, da Prefeitura, de política e da falta de respeito e insensibilidade”, reagiu José Mantovani, vice-presidente da escola. Na retomada do desfile, em 1990, a Canto da Alvorada se consagrou pela sétima vez a campeã de Belo Horizonte.


Mesmo sem a verba para o desfile e para os blocos de rua e caricatos, o espírito carnavalesco belorizontino falou mais forte e a festa foi comemorada nas ruas da capital mineira. Diversos eventos privados em clubes receberam os foliões com bailes, um dos mais famosos ocorria no Minas Tênis Clube. Além disso, a Prefeitura de Belo Horizonte realizou festas na praça da Estação e em diversos bairros da cidade. A principal atração dos festejos foi o resgate do Corso, desfile de automóveis seguido de batalha de confetes, que faziam muito sucesso nos primeiros carnavais da cidade. A expectativa era a presença de 300 mil pessoas nas ruas. O baile do povão foi uma das festas que movimentou a cidade, realizado no Bairro Ipanema, na região noroeste, e na região de Venda Nova. 

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