"Carnaval é um ato político" é a frase do estandarte que a cozinheira Luciana Duarte Albernaz, de 44 anos, portava no desfile do bloco Juventude Bronzeada, que fez um desfile super politizado, nesta terça-feira (13/2) de carnaval, na Avenida dos Andradas, Bairro Pompeia, Região Leste de Belo Horizonte.
Seminua e portando apenas um adesivo nos seios, Luciana considera que, para além do carnaval, o corpo, principalmente o da mulher, também é político e deve ser usado como forma de expressão. Ela ressalta que ele deve ser respeitado, mesmo quando exposto. "O homem pode andar de qualquer jeito que não corre risco. Já nós mulheres não temos a mesma liberdade. Por que?", questiona.
Para ela, tudo é política e isso tem reflexo para o bem ou para o mal na sociedade, inclusive o carnaval. "A gente tem que ter consciência de que todos têm um limite e que temos que respeitar o outro", defende Luciana, que afirma sempre ter tido vontade de ter a mesma liberdade dos homens para poder se vestir e ser quem quiser.
"Eu sempre sonhei tirar a blusa igual aos homens, mas eu só consigo fazer isso no carnaval. Mesmo assim, estou com uma sacolinha para sair daqui e colocar uma blusa antes de sair para não ficar tão exposta" , afirma.
Para ela, o corpo também é político, mas, no caso da mulher, sofre muitas limitações e imposições. "A gente é muito colocada como um objeto, mas temos que ser nosso próprio objeto antes de ser de qualquer pessoa. Então, que façamos um bom uso dele para a gente e para o outro".
Quem também carregava o mesmo estandarte era a cientista Aline Castro, de 34 anos, que se intitula "PcDeusa", uma brincadeira com a sigla usada para designar pessoas com deficiência (PcD). Ela e o irmão, ambos portadores de Atrofia Muscular Espinhal (AME), curtiam o desfile dentro da corda do bloco.
Para ela, o carnaval como festa política tem que garantir espaço para todas pessoas. "Eu amo carnaval e eu falo que, embora tenha muito o que melhorar, a gente tem que reconhecer que já avançamos e o Juventude é um bloco super inclusivo, feito por pessoas diversas e que é isso que faz ele ser tão bonito" , afirma Aline, que curtiu o carnaval todos os dias. "Fui no Tchanzinho, no É o Amô, no Baianeiros, sempre com minha família e meus amigos".
Os irmãos foram para o desfile com a mãe Rosemary de Castro, de 63 anos, que curtia a alegria dos filhos em uma festa "não muito inclusiva" como o carnaval. "Estou muito feliz que agora está tendo muita sensibilidade e nós estamos lutando para termos acessibilidade cada vez mais", disse.