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Nos primeiros 14 dias de fevereiro, os atendimentos de dengue em Belo Horizonte foram equivalentes a sete vezes o total registrado durante todo o segundo mês de 2023. Já são 29 mil pessoas recebidas em unidades de pronto atendimento (UPAs) e centros de saúde da capital com sintomas da doença, contra 4 mil registros durante fevereiro inteiro no ano passado. Em epidemia declarada, a capital já atinge cerca de 850 casos por 100 mil habitantes, coeficiente um pouco abaixo do apontado para o estado, de 864,5. A cidade já confirmou cinco mortes em decorrência da doença, enquanto no estado o número atual é de 18.


De acordo com dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), somente os três centros de atendimento às arboviroses (CAAs) abertos neste mês receberam 4.182 pacientes. Os que precisam de hidratação venosa são encaminhados às unidades de reposição volêmica (URVs). Desde 2 de fevereiro, quando a primeira foi aberta, já foram encaminhados 244 pacientes. O acumulado de casos na capital é cada dia maior, numa escalada que antecipou em alguns dias a situação epidêmica que já era esperada.




No fim de janeiro, o secretário Municipal de Saúde, Danilo Borges, calculou, com base na incidência da doença, que a cidade entraria em epidemia de dengue no fim deste mês ou no início de março. No entanto, a confirmação veio dias depois, em 7 de fevereiro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que taxas acima de 300 casos por 100 mil habitantes já configuram uma situação epidêmica. Segundo dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, atualmente, a incidência em BH é de cerca de 850,2 casos por 100 mil habitantes.


Durante a semana de carnaval, entre 10 e 15 de fevereiro, os casos da doença aumentaram 35% em BH. Segundo dados do Painel de Monitoramento de Arboviroses da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), foram 3.586 diagnósticos confirmados até ontem. A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que a dengue é uma doença sazonal, sendo que de 30% a 50% dos casos podem ser assintomáticos, com ocorrência e ampliação de janeiro a abril, e queda até maio, sem impacto direto do carnaval, mas que tem curva epidemiológica regular de crescimento nesse período.


No boletim da semana passada, em 9 de fevereiro, eram 2.649 casos de dengue. De lá para cá, mais 937 pessoas tiveram exames positivos para a doença. Há 19.636 notificações pendentes de resultados de exames laboratoriais e avaliações epidemiológicas. Neste ano, foram notificados 630 casos de chikungunya, sendo 248 confirmados. Não há registros de zika na capital.


Ainda conforme dados divulgados pela PBH, a cidade registra cinco mortes confirmadas por dengue. Todas as vítimas tinham comorbidades. Outros cinco óbitos estão em investigação. Os confirmados são de quatro mulheres, de 26, 41, 56 e 71 anos. E um homem, de 84. Eles moravam nas regionais Barreiro, Venda Nova, Oeste, Pampulha e Leste.


MINAS GERAIS


Minas Gerais registrou 181.645 casos prováveis de dengue. Desse total, 62.872 já foram confirmados para a doença. Até o momento, há 18 óbitos confirmados e 100 estão em investigação. O estado tem ainda 2.686 casos prováveis de febre chikungunya, dos quais 15.222 já confirmados. Há um óbito confirmado e outros 13 estão em investigação. Quanto ao vírus zika, até o momento, foram registrados 22 casos prováveis, sendo apenas um confirmado. Não há óbitos.


A dengue se espalha pelo território mineiro. A cidade de Arcos, no Centro-Oeste de Minas, pr exemplo, decretou situação de emergência devido ao aumento de casos. O prefeito Claudenir José de Melo, conhecido como Baiano, anunciou a suspensão da concessão de férias e folgas dos servidores da Secretaria Municipal de Saúde a partir desta semana, para que possam se dedicar ao atendimento de pacientes e ao combate ao Aedes aegypti. A suspensão permanecerá vigente enquanto o município estiver em situação de emergência. O boletim mais recente divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde aponta que a cidade, com 41,4 mil habitantes, tem 90 casos confirmados de dengue.


No dia 8, o prefeito havia emitido um decreto com outras medidas. O documento concede à prefeitura autonomia para tomar medidas administrativas e assistenciais necessárias à contenção do aumento da incidência de casos. Isso inclui a aquisição pública de insumos e materiais, doação e cessão de equipamentos, assim como a contratação de serviços estritamente necessários ao atendimento da situação emergencial.


A cidade já havia intensificado a limpeza urbana, inclusive com mutirões, e promovido campanhas educativas nas mídias. A Vigilância em Saúde tem aplicado o inseticida UBV Costal nas áreas com os maiores índices de infestação do mosquito, como no Bairro São Judas. A decisão para ampliar as ações foi baseada no histórico do município, que já enfrentou altos números de casos de dengue no passado, nos aumentos dos casos no Estado e na incidência atual na cidade.


O Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti (LIRAa) realizado entre os dias 22 e 26 de janeiro aponta "alto risco" de epidemia de dengue em Arcos. O Índice de Infestação Predial, que representa o número de focos encontrados em residências, comércios e terrenos baldios, atingiu a marca de 7,9%. Enquanto o Índice de Breteau, que mede a velocidade com que o mosquito se espalha, foi de 13,3%.


Outras Cidades do Centro-Oeste de Minas vivem situações semelhantes e implantaram ambulatórios para atendimento de pacientes com sintomas de dengue, incluindo Divinópolis, Itapecerica, Formiga e Bom Despacho. As duas últimas declararam situação de emergência devido ao aumento da doença. A macrorregião de Saúde Oeste tem 33.805 casos prováveis de dengue e 24.104 confirmados. Treze mortes estão em investigação, conforme o Painel de Arbovirose da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) de ontem.


Diante dos números, os municípios têm buscado alternativas para desafogar o sistema de saúde. Em Itapecerica, por exemplo, os atendimentos no único hospital saltaram de 70 por dia para 200, cerca de 80% relacionados à dengue. Implantado no carnaval, o Centro de Apoio Especializado em Dengue continuará aberto, anunciou o prefeito Wirley Reis. O equipamento funciona no Posto de Saúde Central e, a partir de amanhã, vai atender das 8h às 18h, diariamente.


DIFICULDADES NO ENFRENTAMENTO


Testes de diagnóstico com baixa sensibilidade, falta de biomarcadores que identifiquem os pacientes com mais chances de complicação e ausência de medicamentos específicos para tratar as formas graves da dengue são fatores que sobrecarregam os sistemas de saúde e podem contribuir para piores desfechos.Uma recente revisão de estudos publicada na revista “Plos Global Public Health” chama a atenção para esses fatores no momento em que o Brasil vive uma escalada de casos de dengue e aumento no número de internações.


Nas seis primeiras semanas do ano, o número de registros da doença quadruplicou no país, alcançando meio milhão de casos, 75 mortes e outras 350 em investigação, segundo dados do Ministério da Saúde. Hospitais privados de São Paulo tiveram alta de 80% das hospitalizações por dengue.A Rede D'Or, maior grupo de hospitais privados do país, por exemplo, registrou na primeira semana deste mês um aumento de 1.577% nos atendimentos de casos suspeitos de dengue na comparação com o mesmo período de 2023.


De acordo com o estudo, nos últimos anos houve inovações no controle do vetor, o Aedes aegypti, como repelentes espaciais e a liberação de mosquitos infectados com wolbachia, uma bactéria que infecta o mosquito e impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro dele.Também mostra avanços no campo das vacinas. O imunizante QDenga está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) – no momento, para crianças de 10 a 14 anos de municípios específicos. Outra opção em clínicas particulares é a vacina Dengvaxia, indicada apenas para quem já teve ao menos uma infecção pela doença. (Com Folhapress)

*Amanda Quintiliano especial para o EM


Curso para médicos

Profissionais de saúde de todo o país podem ter acesso a um curso gratuito de capacitação sobre arboviroses. O material foi disponibilizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). De acordo com a pasta, o curso, voltado sobretudo para médicos, apresenta informações sobre diagnóstico, manejo clínico e reconhecimento de sinais de alarme de doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti – incluindo dengue, zika e chikungunya – a fim de evitar casos graves. Composto por três vídeos com duração de cerca de 40 minutos cada um, o curso, segundo o ministério, é baseado em protocolos atuais, que podem ser acessados pelo link do QR Code que aparece na tela ao final de cada aula. As inscrições podem ser feitas na página da Conasems (mais.conasems.org.br).

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