Provando que domingo “ela não vai”, mas eles vêm aí, o grupo baiano É o Tchan arrastou uma multidão até a Praça Sete, no hipercentro de Belo Horizonte, neste domingo (18/2). Com hits atemporais presentes até hoje nas festas das famílias brasileiras, a banda encerrou a programação oficial do carnaval na capital mineira em clima de nostalgia e encontro de gerações. 

 



 

Se nas músicas o grupo falava do Egito ("Ralando o Tchan (dança do ventre)"), do Japão ("Ariga Tchan"), do Havaí ("É o Tchan no Havaí"), no cortejo em Belo Horizonte os vocalistas Beto Jamaica e Compadre Washington — oriundos da época do Gera Samba — e, também, os únicos remanescentes da formação original do grupo que contagiou o Brasil nos 1990, trataram de celebrar Minas Gerais. “Eu vou mudar a música. Alô, mineirinha, mineirinha você sabe mexer?”, cantou Compadre Washington em cima do trio.

 

À imprensa, momentos antes de subirem no trio, os vocalistas falaram sobre a relação de Minas e Bahia. “Pra Minas ser igual Salvador, só falta a praia. A cachaça é boa, as mulheres são bonitas, os homens são bonitos. Tem os blocos dedicados ao É o Tchan. Isso pra gente é gratificante, saber que o mineiro abraça mesmo a Bahia e abraça o Tchan", disse Compadre Washington, em coletiva momentos antes do início do show. Beto Jamaica ainda se declarou ‘baianeiro’. “Nós (mineiros e baianos) somos iguais. A gente chega aqui e sente nos olhares das pessoas. O sentimento é verdadeiro, por isso a gente se identifica muito. Somos baianeiros", afirmou. 

 

O grupo foi a atração principal do Bloco do Comércio, ação promovida pelo Sistema Fecomércio-MG. Antes deles, passaram pelo trio elétrico o Bloco Batuca Sesc e o Quando Come se Lambuza. Integrantes do Tchanzinho Zona Norte — um dos maiores blocos da folia de rua belo-horizontina, que anualmente desfila com homenagens ao repertório consagrado pelas danças de Carla Perez, Sheila Carvalho e Jacaré — também subiram no trio e cantaram ao lado dos artistas.

 

 

Foliões ansiosos pelo É o Tchan

 

Afiado nas coreografias, o público dançou e cantou ao ritmo contagiante de músicas consagradas do grupo baiano. A aposentada Maria do Carmo, de 74 anos, saiu de Betim, na Grande BH, só para acompanhar o É o Tchan, e esbanjou animação ‘colada’ na corda do trio. “Não tem idade, eu adoro as músicas deles, amo dançar. Há 30 anos era um sucesso, e hoje não deixou de ser”, disse à reportagem, enquanto mostrava toda ‘malemolência’ na coreografia de “Disque Tchan”, um dos sucessos do grupo.

 

Sem companhia, ela foi sozinha assistir ao show. “Vim eu e Deus, sem medo. É todo mundo muito acolhedor, uma energia maravilhosa”, afirmou, sem perder o sorriso no rosto. Sempre antenados, os foliões que dançavam com bambolês, garrafas e cordas foram no embalo do bloco, que saiu da Rua da Bahia, em frente à Praça da Estação, em direção à Praça Sete, onde o bloco se dispersou. O que não faltaram foram hits para embalar o cortejo, que uniu a tradição do É o Tchan com o frescor da nova geração em sucessos contemporâneos, como “Macetando” de Ivete Sangalo feat Ludmilla.

 

A enfermeira Tatiane Gomes, de 39 anos, reuniu os amigos para aproveitar o último dia de carnaval em BH e curtir o show do É o Tchan. Ela tinha 10 anos quando a banda estourou e lembra como os hits embalaram vários momentos da sua vida. “É da minha época, eu sou muito fã. Vim com a expectativa de lembrar das músicas, de resgatar aquela memória afetiva de momentos que tivemos há tanto tempo. É uma banda ícone da nossa geração”, disse.

 

Já o cabeleireiro Maycon Douglas, 27, pegou parte do sucesso do É o Tchan. “Quando eu era pequeno eles estavam se separando. Aí eu conheci a banda. Mas até hoje eles são um sucesso. Eu gosto do clima, não só pelo grupo, mas toda a bagunça, ver toda essa gente na rua”, afirma. Com números recordes de 5,5 milhões de foliões durante o período de carnaval, ainda sobrou fôlego e muita alegria nas ruas de Belo Horizonte. "Não vou dizer que foi o melhor carnaval da história, porque eu não morri, e ainda pretendo ir para Salvador. Mas, sem dúvidas, foi o melhor que eu já vivi", brinca Maycon.

 

Nas festas de família, É o Tchan está sempre presente nas playlists, e as coreografias são repassadas de geração para geração. Por isso, foi comum a cena de crianças dançando animadas durante o cortejo. Acompanhada pela irmã, Lucileia Faria, de 38 anos, aproveitou para ensinar os passos que ainda lembrava para o filho Murilo, de 3 anos. “Nem sabia que teria show deles hoje. A gente veio curtir o carnaval, e teve essa surpresa boa, agora vamos ficar”, conta a corretora de imóveis que, na infância, era fã de carteirinha do É o Tchan.

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