Prejuízos com a seca e com a chuva. Essa é a realidade de parte da população de Minas Gerais, que vem convivendo com as consequências negativas dos extremos climáticos. O estado tem 176 cidades em situação de emergência por causa da estiagem, que castigou grande parte do território mineiro em 2023. Por outro lado, outras 73 encaram situação de emergência em decorrência dos estragos provocados pelas tempestades, condição que se agravou nos últimos dias com o aumento das precipitações. Em 26 municípios, a calamidade veio primeiro com a falta de água e, agora, com o excesso dela.

Uma das cidades com o “duplo flagelo” é Teófilo Otoni, de 140,9 mil habitantes, no Vale do Mucuri. Em 13 de dezembro passado, foi prorrogado por 180 dias a vigência do decreto de emergência no município devido às perdas provocadas pela seca impiedosa que atingiu o semiárido mineiro – abrangendo também o Norte de Minas, o Vale do Jequitinhonha e o Noroeste do estado ao longo de quase 11 meses em 2023. No último dia 26 de janeiro, a Prefeitura de Teófilo Otoni declarou emergência em decorrência dos temporais na região.

O prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira (PT), que é presidente da Frente Mineira de Prefeitos (FMP), destacou que sua cidade e municípios vizinhos foram altamente castigados pela estiagem em 2023, o que obrigou as prefeituras a pedir socorro ao governo federal. “Tivemos no ano passado uma seca muito grande, que afetou que a vida dos agricultores familiares, dos produtores e dos trabalhadores rurais, com o impacto na economia e na produção de alimentos”, disse.

Sucupira relatou que, agora, os mesmos municípios que ainda sofrem com as consequências da falta de chuva em 2023, passaram a sofrer com o excesso das águas. “Mesmo com o retorno das chuvas, os desafios (dos prefeitos) continuam. O volume intenso de chuvas em pouco tempo fez com que muitos problemas se agravassem. Vários municípios tiveram que decretar situação de emergência em função das fortes chuvas”, afirmou.

No caso de Teófilo Otoni, segundo o chefe do Executivo, os temporais registrados desde o fim de janeiro atingiram 7,5 mil pessoas, deixando 258 moradores desalojados, o que obrigou a prefeitura a disponibilizar 57 casas de aluguel social, além de adotar medidas de ajuda humanitária, como a distribuição de kits de higiene, colchões, cestas básicas e material de limpeza. Com a intensidade das chuvas, o Rio Todos Santos e os córregos São Benedito e São Jacinto, que cortam a área urbana, transbordaram, ocasionando enchentes e prejuízos.

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“Houve famílias que perderam tudo com as chuvas. Por isso, a prefeitura está providenciando a compra de geladeiras, guarda-roupas e outros utensílios para os atingidos. Buscamos o apoio de outras instituições para que o sofrimento seja amenizado”, afirmou Sucupira.



No Vale do Rio Doce, Machacalis, de 6,48 mil habitantes, passa pela mesma condição de “emergência dupla”. “Tivemos uma seca severa que causou muito prejuízo para o homem do campo. Logo em seguida vieram a chuvas, que provocaram problemas na infraestrutura da cidade e, principalmente, na zona rural. Várias estradas que ligam as comunidades rurais à sede do município foram danificadas”, disse Alexandre Amador, secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município.

Levantamento da coordenação de Defesa Civil da prefeitura aponta que os temporais registrados em janeiro e neste mês atingiram 1.247 moradores de Machacalis, deixando 24 deles desalojados. As chuvas intensas causaram destruição de casas, danos ao asfalto de ruas e estragos nas estradas vicinais, sendo que algumas ficaram intransitáveis por causa das avarias em mata-burros. Agora, o município aguarda a chegada de recursos dos governos estadual e federal para a recuperação das vias e outros reparos necessários.

COMUNIDADES ISOLADAS

A situação se repete na pequena Umburatiba, de 2,68 mil habitantes, vizinha de Machacalis. “O nosso município sofreu com a seca e está sofrendo com as chuvas”, declarou Tardo Tarquínio Caetano Santos, coordenador municipal de Umburatiba. Ele lembrou que no dia 26 de janeiro passado um temporal desabou sob a cidade e deixou rastros de destruição, com muitas comunidades rurais ficando isoladas por causa da interdição das estradas, o que motivou um novo decreto de emergência.

Segundo Tardo, os prejuízos da chuvarada na cidade foram calculados em R$ 4 milhões. “Recebemos ajuda do governo estadual, através da Defesa Civil, e esperamos o reconhecimento federal e ajuda financeira para iniciar as obras que são fundamentais para que voltemos à normalidade”, destacou.

O quadro não é diferente na pequena Bandeira, de 4,7 mil habitantes, no Vale do Jequitinhonha, igualmente em situação de emergência devido aos problemas decorrentes da seca e da chuva. O coordenador de Proteção e Defesa Civil, Lázaro Santos Amorim Pereira, informou que após sofrer com o sol causticante no ano passado, agora o município é prejudicado com os problemas acarretados pela intensidade chuvosa. Segundo ele, alagamento de ruas e danos ao asfalto na sede e rompimento de pontes na zona rural foram registrados.

A Prefeitura de Bandeira aguarda a ajuda dos governos estadual e federal para reparar os prejuízos com as tempestades no município historicamente castigado pela seca – o montante do prejuízo é estimado em pelo menos R$ 200 mil, segundo a Defesa Civil Municipal.

SEMPRE EM BUSCA DE AUXÍLIO

Comunidades do Norte de Minas foram duramente castigados – pela “seca braba” ao longo de quase 11 meses em 2023. Em janeiro, os moradores desses municípios comemoraram a volta das chuvas, que colocou fim ao drama da falta de água. Mas, agora, buscam auxílio por causa dos temporais.

Com as fortes chuvas registradas na região, a força da água danificou a estrutura da ponte sobre o Rio Caititu, na MGC 122, em Camarinhas. A travessia foi interditada na tarde de terça-feira (20/02), atingindo diretamente os municípios da chamada Serra Geral (entre eles Janaúba, Porteirinha, Mato Verde, Monte Azul e Espinosa). A área é justamente uma das mais atingidas pelas estiagens prolongadas no Norte do estado.

O Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-MG) informou ontem que, após o início dos serviços de recuperação, o trânsito na ponte somente será liberado com o prazo de cinco dias. Além do “isolamento” provocado pela interdição da ponte no Rio Caititu, há cidades da região com situação de emergência decretada em função dos problemas ocasionados pelo excesso de chuva e onde já existia situação emergencial devido aos contratempos da seca. Uma delas é Serranópolis de Minas, de 4,39 mil habitantes.

Os temporais registrados em Serranópolis em janeiro acarretaram uma série de danos, principalmente a destruição das estradas vicinais. Segundo o secretário municipal de Fazenda, José Léles Neto, o prejuízo financeiro causado pela intensidade das chuvas chega a R$ 4 milhões. Ele lembrou que a cidade já tinha perdas nas culturas agrícolas, que atingiram pesadamente os pequenos agricultores, causadas pela seca no ano passado.

“Até o momento não recebemos ajuda governamental. Aguardamos ajuda financeira para recuperação de estradas vicinais e a liberação de recursos e programas que contribuam para amenizar os prejuízos causados pelas condições climáticas adversas, tanto da seca quanto das chuvas”, destacou José Léles.

Na mesma região, Rio Pardo de Minas, 28,27 mil habitantes, também está em “emergência dupla”. O coordenador de Defesa Civil, Geraldo Antônio dos Santos, informou que, ao longo do ano passado, 35 comunidades rurais do município sofreram com a falta de água potável, precisando abastecimento por caminhões pipas.

Com as chuvas dos últimos dias, segundo ele, Rio Pardo de Minas teve prejuízos estimados em cerca de R$ 2 milhões, o que forçou a decretação de outra emergência. Entre os danos causados pelos temporais, ele citou a destruição de uma ponte na estrada que liga a sede de Rio Pardo à MGC 122 e aos municípios vizinhos de Mato Verde e Santo Antônio do Retiro.

INUNDAÇÃO E AULAS SUSPENSAS

Ainda no Norte do estado, a cidade de Juramento, com 3,77 mil habitantes, encontra-se em situação de emergência desde o segundo semestre de 2023 por causa da seca. Na tarde de ontem, a prefeita Marlene Moreira (União) anunciou a assinatura de outro decreto de emergência, mas por causa dos estragos causados pelas chuvas dos últimos dias.

De acordo com ela, entre a madrugada e a tarde desta quarta-feira, foram registrados 86 milímetros de chuva na cidade. Com isso, os rios Brejinho e Juramento transbordaram, inundando ruas, invadindo casas e deixando moradores isolados. As aulas nas escolas municipais foram suspensas. “Vamos contabilizar os prejuízos e aguardamos ajuda dos governos estadual e federal”, declarou Marlene Moreira.

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