Ciclistas de Belo Horizonte e região metropolitana se reuniram, na manhã deste domingo (10/03), em um ato de apoio à construção da ciclovia na Avenida Afonso Pena, prevista nas obras de revitalização da via. Além disso, os manifestantes pedem mais segurança para os ciclistas no trânsito e que cerca de 300km de ciclovias sejam implantadas, conforme previsto no Plano Diretor da capital.
Cerca de 60 pessoas participaram do ato, que partiu da ciclovia na Avenida Bernardo Monteiro, Bairro Funcionários, Região Centro-Sul, em direção à Praça da Bandeira, no Bairro Mangabeiras. De lá, os ciclistas desceram a Avenida Afonso Pena, em direção à Feira Hippie.
Antes de iniciar o trajeto, um dos organizadores do evento, Diocleciano Tomé Dada, do movimento Akiébike, agradeceu a presença dos ciclistas, mesmo com o dia nublado e a chance de chuva.
“Quem faz a diferença na mudança social somos nós, que saímos de casa, que deixamos de fazer algo e viemos lutar por respeito e educação no trânsito.” Alguns ciclistas vieram de cidades da Grande BH como Sabará, Ribeirão das Neves e Vespasiano. “Saíram de longe para lutar por ciclovias em BH, distante da cidade deles. Mas sabem que lutar pela segurança do ciclismo vai espalhar (o movimento) por toda Minas Gerais.”
Juliane Rocha, do grupo Bike de Elite, destacou os objetivos do ato. “Primeiro, a segurança do ciclista, que é o objetivo primordial do movimento Pedalando pela Vida. Segundo, é um ato de apoio, a favor da ciclovia da Afonso Pena. Ela faz parte do Plano Diretor, é lei e precisa ser cumprida.”
A ciclista afirma que muita coisa tem sido dita a respeito da ciclovia. “Que ela não é uma ciclovia importante, que não vão ter ciclistas, que não deveria estar onde vai ser construída. Isso não é verdade, vamos aproveitar muito essa via.”
Faltam mais de 300km
Diocleciano Tomé Dada, do movimento Akiébike, explica que, dos mais de 400km de ciclovias que deveriam ser construídos desde 2017, atualmente, BH tem 110km.
“Ainda faltam mais de 300km para serem executados. Cobramos, porque a partir do momento em que começarem a executar o Plano Diretor, as ciclovias vão ser interligadas e vamos conseguir pedalar em toda a capital com segurança. Sabemos que essa ciclovia da Afonso Pena vai interligar praticamente todas as outras. Dessa forma, os ciclistas vão se sentir seguros. As outras serão executadas interligando-se a ela. O trânsito vai fluir até melhor.”
O organizador ressalta que, em outras grandes capitais, o trânsito melhorou quando as ciclovias foram implantadas. Ele afirma estar sempre em contato com representantes do poder público para cobrar a implantação das ciclovias restantes.
“Fazemos reuniões com frequência, vamos à Câmara e Assembleia para cobrar. Fizemos várias manifestações na Pampulha. Por causa disso, foram feitas lá as ciclovias na Pampulha, no Bairro Castelo. Eles falam que vão executar, que está dentro do planejamento, mas não dão prazo certo. O que eu percebo é que, quando relaxamos nas manifestações, as obras param. Quando começamos a cobrar, ficamos em cima, eles se sentem cobrados e começam a execução.”
Ele cita o exemplo da Região da Pampulha, que foi a maior prova disso. “No tempo em que ficamos parados, as obras também pararam. Quando voltamos a ir, chamamos a imprensa, eles concluíram as obras.”
Prioridades e mais manifestações
Além da ciclovia da Avenida Afonso Pena, Dada elenca outras que devem ser priorizadas. “Temos grandes corredores em Belo Horizonte que precisam de ciclovia e uma condição mais adequada para os ciclistas. Tiveram até algumas mortes de ciclistas nesses corredores, nas avenidas Antônio Carlos, Cristiano Machado, Pedro II e Carlos Luz. São grandes corredores, com fluxo elevado de ciclistas. Precisamos de ciclovias ali para interligar essas regionais e garantir a segurança dos que estão se deslocando, principalmente, a trabalho.”
A próxima manifestação já está marcada para 24 de março, nas ciclovias do Bairro Castelo e região. Os ciclistas planejam fazer atos todo mês até o fim do ano, percorrendo todas as ciclovias já existentes.
“Vamos fazer sempre. Não só pela ciclovia da Afonso Pena, mas por toda malha cicloviária que está prevista no Plano Diretor. Além de outras coisas, como segurança, conscientização do motorista, direitos e deveres do ciclista”, afirma Juliane Rocha.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, atualmente, há 109km de ciclovias e ciclofaixas implantadas na cidade. Outros projetos estão sendo elaborados e posteriormente serão licitados.
“No momento, estão em implantação as ciclovias da Avenida Afonso Pena, que terá 4,2km, e a da Avenida Heráclito Mourão de Miranda, com 4km de extensão. Outras duas, nas avenidas Vilarinho e Liège, em Venda Nova, já estão com as obras em fase de licitação.”
A PBH disse, ainda, que está em diálogo permanente com os ciclistas no planejamento e implantação das novas ciclovias para a capital, como é o caso da Avenida Afonso Pena.
Respeito e segurança
O ilustrador Ruben Filho, de 54 anos, diz que costuma pedalar em grupos menores e, às vezes, sozinho. Mas, quando acontecem as manifestações, ele acha importante participar. “Por dever de cidadão, enquanto ciclista. Geralmente, somos ignorados. No trânsito, não levam ciclistas a sério, nem os carros e nem os pedestres. A própria relação entre pedestres e ciclistas, por vezes, não é harmoniosa. O fluxo de pedestres, em ciclovia, dependendo do local, é muito intenso. Pode acarretar acidentes.”
Filho acredita que, se todas as ciclovias previstas no Plano Diretor forem implantadas e interligadas, o benefício será de todos. “Sem dúvidas. Tem muita bicicleta circulando em BH. Muita gente usa não só como meio de lazer, mas de transporte mesmo. Estamos no trânsito, ocupamos espaço. O trânsito, por vezes, é implacável com o ciclista.”
Já o aposentado Jorge Nascimento, de 67 anos, conta que pedala há mais de 20 anos, pratica o esporte pela saúde, para ‘perder a barriga’ e pela amizade com os outros ciclistas. “Todo dia estou pedalando.”