Uberaba tem o primeiro geoparque de Minas Gerais e o único da Região Sudeste do país, reconhecido pela Unesco -  (crédito: Beto Novaes/EM/D.A Press - 03/06/2008)

Fósseis do "Uberabatitan Ribeiroi em Peirópolis, onde fica o Museu dos Dinossauros

crédito: Beto Novaes/EM/D.A Press - 03/06/2008

Minas Gerais conquista, nesta quarta-feira (27/3), um importante título internacional que valoriza, ainda mais, seu patrimônio cultural, arqueológico e paleontológico, pecuário e espiritual. Em decisão divulgada na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris, na França, o município de Uberaba, na Região do Triângulo, foi reconhecido como Geoparque “Terra de Gigantes”.

 

“A chancela da Unesco coroa um trabalho de 14 anos, pois trabalhando nesse projeto, com muito empenho, desde 2010. Trata-se do primeiro geoparque de Minas Gerais e o único da Região Sudeste do país. Desta vez, do Canadá ao Sul da Argentina, é único a receber o título”, comemora, em Uberaba, o geólogo e professor Luiz Carlos Borges Ribeiro, presidente de honra da Associação Geoparque Uberaba e idealizador do “Terra de Gigantes”.

 

Segundo o professor Luiz Carlos, a iniciativa está apoiada em três atributos de representatividade internacional: a terra dos dinossauros no Brasil, a capital mundial do Zebu e o local onde Chico Xavier (1910-2002) se revelou ao espiritismo mundial. O geoparque Uberaba tem 30 geossítios, incluindo Peirópolis, onde fica o Museu dos Dinossauros, com a coleções científicas, a exemplo dos fósseis do “Uberabatitan Ribeiroi”.

 

O professor Luiz Carlos destaca a importância global do Geoparque Terra de Gigantes, que é um projeto de gestão territorial voltado a preservar, educar e desenvolver, de forma sustentável, uma região e toda sua identidade.


“Muita gente pensa que Geoparque se restringe à geologia, ao patrimônio geológico, mas não é isso. Envolve também história, cultura, patrimônio, tendo, como sustentabilidade, o turismo. Serão criadas três rotas turísticas referentes aos três ‘gigantes’. Temos casarões, fábricas do século 19 e outros atrativos importantes.”

 

 

Montagem do Uberabatitan Ribeiroi nos jardins do distrito de Peirópolis, na cidade de Uberaba

Fósseis do "Uberabatitan Ribeiroi em Peirópolis, onde fica o Museu dos Dinossauros

L. Adolfo/Esp. EM. Brasil. Uberaba - MG

 

Idealizado pelo geólogo Luiz Carlos, o projeto Geoparque Uberaba “Terra de Gigantes” teve início em 2010, e tem, desde 2017, parceria com a Prefeitura de Uberaba, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), o Sebrae e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

 

Para o promotor de Justiça de Uberaba e coordenador regional de Meio Ambiente, Carlos Alberto Valera, o reconhecimento, pela Unesco, traz uma “miríade de oportunidades para o município nas áreas de turismo, geração de trabalho e renda”.

 

Ele destaca que o foco está na geoconservação, o que demanda ações voltadas para a sustentabilidade. O próximo passo, orienta, exige muita atenção para que o reconhecimento seja mantido e o patrimônio, preservado, por políticas públicas. Assim, poder público e sociedade devem estar juntos nessa nova etapa.

 

Já a pró-reitora da Recursos Humanos da UFTM, Stela Mariana de Morais, diz que a chancela da Unesco representa a concretização de um sonho, que nasce com o idealizador, Luiz Carlos Borges Ribeiro.

 

“Ele conseguiu compartilhá-lo com toda a cidade de Uberaba, de forma que hoje pertence à cidade inteira, de todas as pessoas que participaram. A chancela resulta do esforço coletivo que fizemos em direção ao desenvolvimento sustentável e à valorização de nosso patrimônio geológico, cultural e natural”, ressaltou Stela, que coordenou o Grupo de Gestão do Geoparque, de 2020 a 2023 e é uma das autoras do dossiê.

 

Assim, Uberaba se posiciona como “uma cidade que prioriza não apenas o crescimento econômico, mas também a conservação do seu legado histórico e natural. Isso mostra ao mundo nossa determinação de equilibrar o progresso com o meio ambiente e a identidade única de nossa região”.

 

A pró-reitora indica mais um ponto fundamental: “para ser um geoparque, não basta fazer a preservação do patrimônio. É importante melhorar a vida das pessoas que vivem em Uberaba, agora com mais visibilidade internacional. Isso vai atrair turistas e investidores. Portanto, temos um compromisso com o futuro – conservar o patrimônio, desenvolver a cidade e melhorar a vida das pessoas, por meio de emprego e renda”.

 

Minas e o mundo


No mundo, 195 geoparques de 48 países já foram reconhecidos pela Unesco. No Brasil, agora são seis, incluindo Uberaba. São eles o Geoparque Araripe (CE), pioneiro, em 2006; o Geoparque Seridó (RN), e Caminhos dos Cânions do Sul, do litoral de Torres (RS) até a Serra Catarinense, em 2022; e, no ano passado, Caçapava do Sul e Quarta Colônia, ambos no Rio Grande do Sul.

 

O medium brasileiro Chico Xavier (Francisco Candido Xavier)

Geoparque Uberaba guarda elementos de destaque ligados à espiritualidade, com destaque para o médium Chico Xavier (1910-2002), que faleceu no município

Arquivo EM. Brasil. Minas Gerais
 

 

Com o título, o estado ganha mais visibilidade internacional, com chances para crescimento do turismo. Em Minas, há quatro sítios reconhecidos como Patrimônio Mundial: o Centro Histórico de Ouro Preto, a primeira cidade a merecer a chancela da Unesco; o conjunto da Basílica Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, também na Região Central; o Centro Histórico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha; e o Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte. Na lista de patrimônios mundiais, está também a Serra do Espinhaço, como Reserva da Biosfera.

 

Por dentro do Geoparque 'Terra dos Gigantes'

 

O dossiê enviado à Unesco, quando Uberaba aspirava ao título global, teve autoria, além de Luiz Carlos Borges Ribeiro, de Fabrício Aníbal Corradini, Josenilson Bernardo da Silva, Stela Mariana de Morais, Lúcia Cruvinel Lacerda, Gyzah Amui Barros, Gustavo Vaz Silva, Laís Lima Brandespim Gomes, Marcius Marques Mendes, Maria Aparecida Basílio e Paula Cusinato.

 

Na pesquisa, o grupo destaca a alta tecnologia envolvida nos meios de produção agropecuária, que transformaram o território em celeiro e referência em alimentos.

 

Dono de “riquíssima geodiversidade retratada por ambientes geológicos singulares que evidenciam as diversas modificações ao longo do tempo geológico profundo”, o município de Uberaba (com 340 mil habitantes) apresenta “registros expressos por milhares de fósseis, notadamente de grandes vertebrados, de uma paleobiota bastante diversificada e em excepcional grau de conservação”.

 

Tais espécimes estão atribuídas a duas unidades litoestratigráficas do Cretáceo continental superior. “Essas são as razões identitárias de conclusão de um território de elementos de grande expressão e significados histórico, cultural, econômico e natural”, escreveram os autores do dossiê.

 

Sobre as características da região, o dossiê informa que, em toda sua extensão, o Geoparque Uberaba possui geografia física relativamente simples e de fácil identificação de seus elementos naturais na paisagem. É constituído por um embasamento regional com rochas da Formação Serra Geral marcadas por sucessivos e descontínuos derrames basálticos associados a ruptura do supercontinente Gondwana, no início do período Cretáceo, sobrepondo as rochas sedimentares da Formação Botucatu. Essa unidade compõe uma das maiores reservas de água doce do mundo, o aquífero Guarani.

 

Além do acervo de fósseis de dinossauros e outras várias espécies que viveram no Brasil no período Cretáceo superior, o território do Geoparque Uberaba guarda outros elementos de destaque ligados à espiritualidade, com destaque para o médium Chico Xavier (1910-2002), expoente do espiritismo, nascido em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e falecido em Uberaba.

 

Na foto, Gado Nelore, FAZENDA SAO LUCIANO MUNICIPIO DE MONTES CLAROS, MG

Uberaba, além de terra dos dinossauros, é também a capital mundial do Zebu

Solon Queiroz/Esp. EM

 

Outro forte elemento também de interesse à humanidade, apontam os pesquisadores, está na segurança alimentar, ressaltando-se o pioneirismo na difusão das raças da espécie bovina zebu no Brasil, a inovação e o melhoramento da genética zebuína como centro de referência mundial. A atividade contribui para desenvolvimento de gramíneas forrageiras, fertilização do solo com gesso agrícola e produção alimentar no território de Uberaba.