A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte confirmaram, nesta quinta-feira (28/3), o surto de micobactéria não tuberculosa de crescimento rápido (MCR), pós-procedimentos estéticos. Há 16 casos notificados, todos de pessoas que realizaram intervenções cirúrgicas em uma clínica odontológica da capital.
O local, administrado pela cirurgiã-dentista Camila Aparecida de Andrade Silveira – conhecida como Camilla Groppo –, já foi inspecionado e interditado em 8 de março deste ano por falhas no processo de limpeza e esterilização de instrumentais, além da suspeita de surto. Até o momento, a Secretaria Municipal de Saúde foi notificada de 16 infecções e informa que a relação entre os casos configura um surto.
Na última quinta-feira (21/3), foram divulgadas denúncias de pacientes que contraíram infecções após a lipo de papada feita pela dentista. Essa micobactéria pode gerar quadros graves, com formação de abcessos, e o tratamento engloba procedimentos cirúrgicos e uso de antimicrobianos por tempo prolongado.
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito e vai investigar o caso. O Ministério Público do estado também abriu um procedimento investigatório criminal para apurar as denúncias, que reúnem mais de 10 pacientes com o mesmo relato. Dois casos foram identificados com Mycobacterium abscessus e outro com Mycobacterium spp. As demais amostras foram encaminhadas à Fundação Ezequiel Dias para análise e aguardam os resultados.
Conforme explica Dirceu Greco, infectologista e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), qualquer procedimento invasivo facilita a entrada de bactérias no organismo e, geralmente, a classe Mycobacterium não fica no ar, mas em materiais.
“Por isso, é necessário ter uma assepsia muito importante, com descontaminação de todos os equipamentos após cada procedimento, seguindo as normas da Vigilância Sanitária”, explica.
Dentista estava com registro suspenso
A situação se deu em meio a uma irregularidade da dentista junto ao Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG). Até segunda-feira (25/3), ela estava com o registro suspenso no órgão por não apresentar o diploma de graduação na área.
A reativação ocorreu na terça (26), "após a profissional apresentar ao Conselho o diploma válido, cumprindo assim os requisitos necessários para exercer a odontologia de forma regular”, divulgou o CRO em nota.
No mesmo documento, o conselho destaca que todos os cirurgiões-dentistas devem estar habilitados com cursos de pós-graduação para realizar procedimentos como a lipo de papada, mas que Camilla não tem nenhuma especialidade registrada no órgão. Apesar disso, ela pode ter cursado a especialização e apenas não ter cadastrado no CRO, assim, não é possível verificar a validade do certificado.
A defesa de Camilla Groppo afirma que ela tem formação necessária para realizar os procedimentos e fez cursos de pós-graduação. As especializações, porém, não foram registradas no CRO, já que o órgão “não pede essa exigência”, afirma o advogado Vinícius Xingó.