Festa do Bumba Meu Boi atrai centenas de pessoas em Caçarema, no município de Capitão Enéas, no Norte de Minas -  (crédito: Rogério Fagundes/divulgação)

Festa do Bumba Meu Boi atrai centenas de pessoas em Caçarema, no município de Capitão Enéas, no Norte de Minas

crédito: Rogério Fagundes/divulgação

Os moradores do distrito de Caçarema, no município de Capitão Enéas, no Norte de Minas, vivem neste Sábado de Aleluia (30/03) momentos de muita diversão, preservando uma manifestação folclórica, originária do Nordeste do país. Acontece na localidade a Festa do Bumba Meu Boi de Caçarema, realizada há mais de 80 anos.

 

De acordo com um dos organizadores, o motorista Carlos Eduardo Medeiros Brito, mais conhecido como Dudu do Táxi, de 26 anos, presidente da Associação do Bumba Meu Boi de Caçarema, a estimativa é que a festividade venha atrair cerca de 4 mil pessoas, o dobro da população do distrito.

 

Às 19h30min, haverá a apresentação da "rainha do boi". O início da festa está marcado para as 20 horas, com a "saída do boi", acompanhado de um grupo com roupas a caráter, sanfona e instrumentos de percussão, com batuque e canto.

 

O grupo percorre as ruas e visita casas do lugarejo, com muita música e dança, envolvendo pessoas de todas as idades.

 

Seguindo o ritual, o “boi” é acompanhado de figurantes folclóricos: os “caxixas”, homens vestidos de mulher; e os “vaqueiros”.


 

De acordo com Dudu do Táxi, seguindo o ritual, após o “boi” percorrer as ruas e casas do distrito, na madrugada, os participantes da festa vão até um ponto onde acontece a “malhação do Judas”.

 

Na celebração, Judas é representado por um boneco de pano em uma cruz, cheio de guloseimas. Ao ser “malhado” (desfeito), as guloseimas caem no chão, fazendo a alegria da criançada.


Manifestação teve início durante construção de linha férrea

Conforme o organizador Dudu do Táxi, a festa do Bumba Meu Boi de Caçarema teve início em 1943, por três trabalhadores das obras da linha férrea, antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, na comunidade. Chamados Zezinho Toureiro, Bulandino e Gualberto, eles tinham origem nordestina.


“Os três trabalhadores tiveram a ideia de fazer a festa do Nordeste, também a terra de origem deles. Eles deixaram um lugar onde trabalhavam com a serraria de madeira para a construção da estrada de ferro, chamada Fazenda Serrinha, e seguiram com o Bumba Meu Boi com destino ao lugarejo de Bonsucesso, hoje Caçarema”, descreve Dudu.


“Eles percorreram as ruas com a brincadeira do Bumba Meu Boi. Com isso, virou tradição todo Sábado de Aleluia o 'boi' percorrer as ruas de Caçarema. A brincadeira foi passando de pai para filho”, conta ele.

 

Dudu do Taxi conta que desde a infância participa da Festa do Boi de Caçarema, pois sua família sempre liderou a tradição na cidade. Ele conta que seu avô, o já falecido José Sidnei Silveira, por décadas, coordenou a manifestação folclórica do distrito.

 

Espaço cultural

Também neste Sábado de Aleluia foi aberta e inaugurada no distrito de Capitão Enéas o Centro Histórico e Cultural de Caçarema. A casa de cultura foi montada pela prefeitura do município com o objetivo de preservar a Festa do Bumba Meu Boi, reunindo fotos, documentos e histórias da tradição.


“A casa de cultura de Caçarema é um espaço público montado pela prefeitura, onde serão realizadas oficinas de cultura e turismo. Será também um espaço dedicado ao Museu do Boi”, afirma Rogério Fagundes, secretário municipal de Turismo de Capitão Enéas.

 

Saiba mais

O Bumba Meu Boi é uma manifestação artística e popular do folclore brasileiro, de origem no Nordeste, cujo surgimento também está relacionado à cultura negra. A manifestação é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Também é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


 

O Bumba Meu Boi é um importante símbolo da cultura do estado do Maranhão, estando ligado diretamente à identidade local. A manifestação também está presente na cultura popular de outros estados, recebendo denominações diferentes: Amazonas (“Boi-bumbá”), Paraíba (“Boi de reis”), Ceará (“Boi-surubi”), Rio Grande do Norte (“Boi-calemba ou calumba”), Bahia (“Rancho de boi”), Espírito Santo (“Bumba de reis”), Rio de Janeiro (“Boi-pintadinho”), Santa Catarina (“Boi de mamão”), e Rio Grande do Sul (“Boizinho”).

 

Historiadores estimam que a dança do bumba meu boi surgiu no século XVIII, na região Nordeste. Nesse período, o boi tinha uma importância significativa, fosse pela sua simbologia, de força e resistência, fosse por fatores econômicos, já que havia grandes criadores de gado e colonizadores que faziam uso de mão de obra escravizada.


A história que envolve a dança do Bumba Meu Boi está ligada à lenda de um casal de escravizados, chamados Pai Francisco e Mãe Catirina (ou Catarina). Catirina estava grávida e começou a ter desejos por língua de boi. Seu marido, para atender ao desejo da esposa gestante, matou o boi mais bonito de seu senhor.

 

Quando o dono da fazenda notou a morte do animal, convocou curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. O boi voltou à vida e toda comunidade o celebrou com uma grande festa. Francisco e Catirina receberam o perdão do dono do boi.