Belo Horizonte é a terceira capital menos desigual no país, segundo o Mapa da Desigualdade entre as Capitais, divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis nessa terça-feira (26/3). Considerando indicadores como educação, renda, pobreza, trabalho, ações climáticas, entre outros, a cidade consegue oferecer resultados acima da média de outras 22. O primeiro lugar é ocupado por Curitiba (PR), seguido por Florianópolis (SC).
Na outra ponta, Porto Velho (RO) tem os piores indicadores, sendo 23 deles abaixo da média de seus pares. Já as três capitais mais populosas do país – São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza – estão posicionadas, respectivamente, no quinto, 11º e 20º lugar. Brasília (DF) não é considerada pela pesquisa.
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A publicação reúne 40 indicadores de diferentes bases e levantamentos, como o Censo, as diferentes Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua e o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). Os indicadores são agrupados de acordo com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas). Os dados usados também são de diferentes anos, de acordo com a atualização mais recente (entre eles, durante a elaboração do estudo).
Para Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis e colunista da Folha, o mapa serve como uma provocação para as administrações. “Executivos e Legislativos estão muitas vezes voltados a emergências e urgências, e não conseguem olhar um panorama geral para ver o que ainda precisa ser enfrentado”, diz ele.
Desempenho da capital
O ranking mostra Belo Horizonte bem posicionada em alguns indicadores. A capital mineira é a líder em acesso a internet nas escolas do ensino fundamental; ocupa a segunda posição em cobertura vacinal e a presença de vereadoras na Câmara Municipal. A cidade está em terceiro lugar em relação à população atendida com esgoto sanitário e com o esgoto tratado antes de chegar ao mar, rios e córregos.
Belo Horizonte, porém, ainda precisa enfrentar alguns desafios. Na área ambiental, a cidade ocupa o 23º lugar em taxas de áreas florestadas e naturais; na razão de gravidez na adolescência entre negros e não negros e de rendimento real entre negros e não negros. Já em relação à mortalidade por suicídio, BH ocupa a 20ª posição e, na desigualdade de salários entre homens e mulheres, a 19ª. Por fim, em relação às famílias inscritas no Cadastro Único para programas sociais, a capital está na 18ª colocação.
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Para o sociólogo Jorge Neves, professor da UFMG, o ranking permite observar que Belo Horizonte apresenta bons resultados em indicadores relacionados à esfera pública e, talvez, precise observar com atenção índices referentes à esfera privada. “Por exemplo, o suicídio é muito da esfera privada, tem a ver com a família. Já a vacinação é algo da esfera pública”. Na mesma linha, complementa: “Isso mostra elementos de conservadorismo e de uma desigualdade dentro da família, nas relações privadas. Desigualdade de gênero e racial muito alta”.
Neves destaca, porém, que os desafios da esfera privada são mais difíceis do Estado lidar que os da esfera pública. “É muito mais fácil o Estado reduzir a mortalidade infantil por problemas no parto ou desnutrição. A escola pode oferecer a comida, por exemplo. Tudo o que está relacionado a oferta de serviços públicos é mais fácil do Estado agir do que sob a dinâmica familiar ou das empresas. A questão da desigualdade racial e de gênero também está na esfera privada, embora o mercado esteja mais exposto à ação do Estado que a família”.
Segundo o professor, essa situação pode estar ligada a um conservadorismo da sociedade de um lado, e uma estrutura municipal de gestão que tem sido eficaz, por outro. “As prefeituras de BH, ao longo dos anos, têm conseguido oferecer bons serviços públicos, mas o conservadorismo da sociedade gera muitas desigualdades”. Para ele, é muito mais difícil o país implementar políticas públicas bem sucedidas nesses casos, o que torna os desafios ainda maiores. “Para serem bem sucedidas precisam agir sob a esfera privada”.
Com contribuição de Lucas Lacerda* e Folhapress
*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho