Feliz Páscoa! A saudação, neste domingo, celebra a ressurreição de Cristo e a esperança que um novo tempo traz, com mudanças, fortalecimento da fé, busca de caminhos seguros. Em Minas, são muitas as histórias de homens e mulheres que comemoram, em família, as vitórias da vida após período de incertezas, medo, e desespero, como ocorreu com o pescador Reginaldo, de Ponto Chique, no Norte de Minas. Ele ficou cego dos dois olhos e contou com a ajuda de amigos para voltar a enxergar. “Será uma Páscoa de luz, de recomeço”, diz, com alegria, ao lado da mulher, Dionélia. Já em Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, o casal Marcos Antônio e Patrícia da Conceição festeja a primeira Páscoa do filho Lucas Emanuel, de sete meses. O risonho bebê veio ao mundo após uma sucessão de perdas familiares. “A cada dia, a cada risadinha do Lucas, aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos”, diz a mamãe. A crença num futuro mais igualitário move os dias da dona de casa Inez Otoni Matos da Cunha – em 10 de março, ela caiu em casa e precisou ser hospitalizada. “Refleti muito durante a internação. Fui para um hospital particular e imaginei a situação de quem não tem um plano de saúde. Peço às autoridades que, neste Páscoa, pensem nos necessitados”, destaca a moradora do Bairro Tupi, na Região Norte da capital.
Um presente Deus. Assim, Marcos Antônio da Fonseca Neto e Patrícia da Conceição Moreira da Fonseca consideram a chegada ao mundo do filho Lucas Emanuel, de sete meses. “A primeira Páscoa dele dá um sentido muito especial à nossa vida. Se aprendemos desde criança sobre a Ressurreição, hoje entendemos melhor a data, no sentido de mudança, transformação, aprendizado, novos caminhos e até a necessidade de renúncias”, conta Patrícia, técnica de enfermagem.
Com o sorridente Lucas Emanuel no colo, Marcos Antônio concorda com as palavras de Patrícia, com quem se casou em 21 de julho do ano passado. “Mudei demais com a paternidade. Tudo aconteceu de forma rápida, nada estava planejado, por isso acreditamos que nosso filho resulta mesmo da vontade divina. Não pensávamos num bebê tão cedo”, diz o operador de caixa nascido em São Paulo (SP) e residente com a mulher e o menino em Santa Luzia.
Até aconchegar Lucas nos braços, o casal passou por uma trajetória de sofrimento, aflição, perdas, solidão e incertezas, sem jamais perder a esperança e a fé. Na barra mais pesada da COVID-19, Patrícia ficou internada vários dias. “Senti muita solidão, ainda mais com a morte de seis familiares: quatro em Santa Luzia (dois tios e dois primos) e um tio e minha avó, em Taubaté (SP), onde nasci.” O “vazio interior”, explica, só foi preenchido com a chegada do filho.
O tempo, no entanto, reservava algumas surpresas, e elas serviram para fortalecer a união do casal, que se conheceu em meados de 2022, quando Marcos Antônio veio para Minas. A empresa onde trabalhava alugou a casa da avó de Patrícia e os dois começaram a namorar. “Pensava muito em constituir uma família, pois fui criada num lar bem estruturado. Mas o casamento ainda era uma ideia distante. Só fui saber que estava grávida no terceiro mês. Para minha preocupação, mamãe precisou ser hospitalizada, em BH, e eu, filha única, não pude acompanhá-la devido à gestação”.
NO FUTURO
Marcos Antônio, por sua vez, sofreu com a morte da mãe há pouco mais de um ano. Viajou para São Paulo e a ouviu dizer que seria avó de um menino. "Perdi meu pai muito cedo, me acostumei a viver sozinho e também não pensava em casamento”, revela. Logo depois, mais um baque: trabalhando em uma empresa de telefonia, o rapaz caiu de uma altura de seis metros e fraturou só o pé. “Fiquei internado durante 13 dias no Pronto-Socorro João XXIII e felizmente não precisei ser operado.”
O casal pergunta se não é para comemorar um domingo especial como este, com almoço em família. “A cada dia, a cada risadinha do Lucas aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos. Tudo o que mais queremos é um futuro feliz para ele. O sentido da Páscoa é mudar para melhor. Renascer”, acredita a técnica de enfermagem.
DIREITO DE TODOS
Já em Belo Horizonte, a dona de casa Inez Otoni Matos da Cunha, de 74 anos, está plena de bons motivos para celebrar a Páscoa ao lado do marido, Ivan César da Cunha, da filha Camila e dos netos Yuri e Lara – o filho mais novo do casal, Ivan César, mora nos Estados Unidos com a filha Gabriela, de 10. “Estou feliz, agradecendo a Deus a todo instante por estar viva. Por isso vim aqui rezar. Este é o primeiro dia que saio de casa”, contou Inez, em visita, no Domingo de Ramos, à Catedral Cristo Rei, em construção no Bairro Juliana, na Região Norte da capital.
Abraçada ao marido e tocando a mão de Nossa Senhora da Piedade, na grande escultura que fica no lado externo do templo, Inez contou que em 10 de março teve uma vertigem, “sentiu toda a casa rodar”, e caiu no chão. “Chamei meu marido, pedi a Deus que me ajudasse, pois pensei que fosse meu fim. Fiquei quatro dias hospitalizada, e, felizmente, não era aneurisma, nem enfarte ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Vou fazer exames, já estou andando, em casa, sozinha, e o médico me tranquilizou”.
A internação em hospital particular levou Inez, moradora do Bairro Tupi, na Região Norte de BH, a profundas reflexões, especialmente quanto à situação dos mais desfavorecidos. “Com o plano de saúde particular, pude ir para um bom hospital, ser atendida rapidamente, enfim, receber os cuidados. Gostaria que todas as pessoas tivessem condições iguais, que as autoridades se esforçassem para garantir a saúde de todos os brasileiros.”
Nos últimos três anos, Inez perdeu a mãe, o irmão e um sobrinho, e tanto sofrimento só foi atenuado pela fé. “Sem ela, não conseguimos viver. É o antídoto contra a dor”, acredita. Portanto, neste Domingo de Páscoa, ela eleva os olhos aos céus e o pensamento aos necessitados, para que tenha vida digna e o necessário amparo quando necessário.
NOVO OLHAR
Muito distante de BH, lá nas barrancas do Rio São Francisco, no Norte de Minas, Reginaldo Gonçalves Magalhães, de 39 anos, estará saboreando, hoje, um peixe no almoço com a mulher, Dionélia, e os filhos Marcelo, Tayná e Joyce. E razões não faltam para reunir a família e celebrar o Domingo de Páscoa em Ponto Chique, a 565 quilômetros de Belo Horizonte. O pescador ficou cego dos dois olhos e voltou a enxergar com as cirurgias, em BH, custeadas por amigos de pescarias.
Reginaldo perdeu a visão do olho esquerdo em um acidente de moto. Tempos depois, “do nada”, conforme se recorda, ficou sem enxergar do direito. “Pedi muito a Deus que me ajudasse a enxergar novamente, pois tenho três filhos. E essa ajuda veio pelas mãos de amigos das cidades de Santa Luzia (RMBH), Sete Lagoas (Região Central de Minas) e Montes Claros (Região Norte). São pessoas que, uma ou duas vezes por ano, vêm pescar na nossa região. Ficamos amigos e me socorreram num momento de desespero.”
Além de se cotizarem para ajudar a pagar a cirurgia de Reginaldo, que, conforme os exames médicos, poderia voltar a enxergar, os amigos providenciaram a hospedagem para ele. “Só tenho a agradecer, pois não teria condições de arcar com os gastos. Estive na Igreja Matriz de Santa Luzia, dedicada à protetora da visão, e agradeci muito. Esta Páscoa significa um recomeço em minha vida. Sempre com fé”, assegura o pescador.