Imagine esperar um ano para ser submetida a uma cirurgia de urgência. Depois desse intervalo de tempo, o procedimento é agendado, mas, no ambulatório pré-operatório, o hospital afirma que a cirurgia será cancelada por não realizar o tipo de intervenção. Essa foi a saga vivida por uma paciente do Hospital Sofia Feldman, no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste de Belo Horizonte, na manhã dessa quarta-feira (3/4). Valquiria Martins da Silva, de 44 anos, tem prolapso vaginal, também conhecido como “bexiga caída”. Além de desconforto, ela sofre com dores e sangramentos.
Leia: Integrantes de suposto grupo de exploração sexual são presos no interior de MG
Valquiria conta que foi encaminhada à unidade, que atende pelo Sistema Único de Saúde, em janeiro deste ano. Desde então, ela fez quatro consultas com médicos da unidade e um risco cirúrgico, o que atestou que ela estava apta ao procedimento. Em 28 de março, a operação foi marcada para essa quarta-feira.
Em entrevista ao Estado de Minas, a paciente relatou que foi instruída a chegar ao hospital às 6h. Na unidade, foi atendida na recepção, assinou um documento com informações do procedimento e foi encaminhada para a sala de pré-operatório, onde colocaram um acesso.
“Fiquei nessa sala em torno de uma hora e meia aguardando junto com outras pacientes. Uma médica fez perguntas para cada uma e, quando ela se aproximou, me perguntou qual era o tipo de cirurgia que eu ia fazer. Falei para ela sobre a cirurgia agendada, e ela me disse que eu não estava no mapa de cirurgia do dia. De repente me chamaram, e a médica falou que a cirurgia não poderia ser realizada porque o médico não estava presente e houve um erro no agendamento da cirurgia”, conta a diarista.
De acordo com Valquíria, inicialmente ela foi informada também que a unidade não havia adquirido o material necessário para o procedimento. Em seguida, conta ela, a unidade afirmou não efetuar o tipo de procedimento que ela precisava.
“Foi uma falta de respeito. Eles tinham meu contato, porque não avisaram antes. Eles me deixaram fazer quatro consultas, fazer o risco cirúrgico, marcar a cirurgia e chegar lá para avisarem. Se eles tivessem me barrado logo no início, eu ainda ia entender. Mas me deixaram fazer o processo todo”, desabafa.
Leia: Denúncia: consumo de drogas e medo de foco de dengue em prédio abandonado do Dnit
Série de erros
Valquíria mora em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde foi diagnosticada e recebeu a notícia de que, devido ao avançado estado da condição, teria que fazer uma cirurgia de urgência. Ela relata que a primeira consulta foi há cerca de um ano e meio. Por não ter a estrutura necessária, a Secretaria Municipal de Saúde da cidade encaminhou a paciente primeiro para Lagoa Santa. No entanto, foi informada que o médico indicado não realizava o procedimento. Então, ela foi direcionada ao Hospital Sofia Feldman.
Para Vanessa Almeida de Souza Firmino, advogada da paciente, houve uma sucessão de erros que resultaram na situação de Valquíria. A representante afirma que vai entrar na Justiça com uma “ação de obrigação de fazer”, para obrigar o município de Sabará a oferecer o tratamento na rede pública ou privada de saúde.
Leia: Trilhas, acampamentos e bushcraft reúnem mateiros no 1º BushDay Brasil
“Foram vários erros, foram erros consecutivos. Primeiro, o Município de Sabará a encaminhou para Lagoa Santa, lá foi verificado que a cirurgia não seria feita. Como é um caso de urgência, o médico de lá, que é conveniado à administração municipal, a encaminhou para o Sofia Feldman”, explica.
Questionado pela reportagem, o Hospital Sofia Feldman afirmou que o caso foi um “acontecimento pontual sem precedentes”. De acordo com a instituição, o encaminhamento foi assistido por uma médica “novata” que não tinha conhecimento dos procedimentos realizados no local. “No entanto, assim mesmo, todo o caso está sendo repassado com as equipes envolvidas, que vão estudar mecanismos que possam impedir que eventos desta natureza voltem a ocorrer.” Já a Prefeitura de Sabará, não respondeu às indagações.