Bairro Bom Pastor em Juiz de Fora -  (crédito: Divulgação / Prefeitura de Juiz de Fora)

Bairro Bom Pastor em Juiz de Fora

crédito: Divulgação / Prefeitura de Juiz de Fora

Há duas semanas, Felipe Alves, 26, e Fernanda Santos, 24, realizaram o sonho de ter um imóvel só para eles. Pagando aluguel, se mudaram para o Bairro Bom Pastor, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. 
O Bom Pastor, aliás, não é novidade para Felipe. O catador de material reciclável já morou no bairro com os pais. Conhece a redondeza e a vizinhança. No entanto, a mudança para a região não tem sido como o casal esperava.

 

Felipe relata que, desde que se mudou, uma vizinha, de 53 anos, tem agredido ele e a esposa com ofensas racistas. “Mudei no dia 29 [de março] e no dia 30 a gente passou a receber ataques racistas. Chegamos ao ponto de não ter condição de receber pessoas na casa”, relatou ele, em entrevista.

 

O auge foi no último domingo (14/4), quando os dois filmaram os xingamentos racistas e chamaram a Polícia Militar. De acordo com o boletim de ocorrências, a vizinha passou a ofendê-los em voz alta, para toda vizinhança escutar.

 

“Sem motivo algum, começou a dizer que ela e o esposo são dois macacos, pretos favelados, micos comedores de lixo e que o prédio onde moram e o bairro Bom Pastor não são lugares de residirem pretos e favelados”, relataram os policiais.

 

Os policiais também narram no B.O que, ao chegarem no local, a mulher continuava com as ofensas. “Ficamos ouvindo ela dizer incessantemente que seus vizinhos de baixo são macacos, pretos safados e que eles não deixam ninguém dormir. Que mudaram para o prédio para implicar com ela a mando da proprietária do imóvel onde Fernanda reside”, continua o B.O.


Quando chegaram no apartamento, o esposo da mulher atendeu e disse aos policiais que ela faz tratamento psiquiátrico e que estava tendo um surto. Os PMs acionaram o Samu. No entanto, na avaliação dos profissionais do atendimento de emergência, não se tratava de um surto.

 

“O enfermeiro sentiu hálito etílico, visualizou andar cambaleante e olhos vermelhos. A mulher relatou que fez uso de bebida alcoólica misturada com clonazepam (remédio de tarja preta). Ou seja, o enfermeiro do SAMU descartou o surto psicótico e disse que a autora estava em estado de embriaguez”, relata o boletim.

 

Por causa disso, a autora foi presa e levada para a delegacia. Segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), ela está presa na Penitenciária José Edson Cavalieri, em Juiz de Fora, à disposição da Justiça.



“A gente está buscando sempre combater esse tipo de caso, de cabeça erguida. Somos trabalhadores honestos. Racismo é crime e quando acontece com a gente dói muito. A gente espera buscar reparação dentro da Justiça. Orientar meus irmãos sobre se informar, tirar o máximo de dúvidas possível para que não se normalize. Não podemos ter tolerância”, enfatizou Felipe.



Caso didático, diz advogada



De acordo com Carina Dantas, advogada das vítimas, o próximo passo é requerer que a autora das ofensa siga presa. “Nós estamos trabalhando para que ela responda pelo crime que cometeu, tanto civil quanto criminal”, disse a advogada.


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Para Carina, esse tipo de prisão tem um caráter didático para a sociedade. “Esse caso não é um simples aborrecimento, é um crime. Procuramos que ele seja visto pela sociedade de Juiz de Fora como um crime didático. Os policiais agiram de forma rápida. Pegaram a autora em flagrante e ela se encontra presa”, finalizou.