Clínica odontológica em que pacientes pegaram infecção em Belo Horizonte foi interditada no início de março de 2024 -  (crédito: PCMG / Divulgação)

Clínica odontológica em que pacientes pegaram infecção em Belo Horizonte foi interditada no início de março de 2024

crédito: PCMG / Divulgação

A dentista Camilla Groppo, de 26 anos, que realizou o procedimento de lipoaspiração na papada de dezenas de mulheres em Belo Horizonte, resultando em um surto de infecção, não teria esterilizado os equipamentos de forma correta. É o que aponta a investigação da Polícia Civil (PCMG). Vinte vítimas foram identificadas, e duas seguem internadas.

 

Nesta terça-feira (23/4), foram cumpridos mandados de busca e apreensão na casa dela, no Bairro Nova Suíça, e em dois consultórios ligados à Camilla. Foram recolhidos os prontuários médicos de cerca de 16 pacientes, que vão servir para apontar qual a conduta da médica nos atendimentos. As investigações começaram em dezembro, logo após as primeiras pacientes da dentista relatarem problemas no período pós-cirúrgico.

 

"A gente realizou essa operação com o intuito de arrecadar provas e os prontuários médicos dessas pacientes que sofreram a infecção durante o atendimento lá nessa clínica odontológica. Esses prontuários médicos serão encaminhados para o IML, para a realização de um relatório de análise da conduta profissional", explicou o delegado Alessandro Santa Gema, responsável pela investigação.

 

Desde dezembro, o consultório da dentista chegou a ser autuado duas vezes pela Vigilância Sanitária por não esterilizar os equipamentos. Na segunda vez, no dia 8 de março, técnicos do Conselho Regional de Odontologia (CRO) estiveram presentes e constataram os mesmos problemas. Por dia, eram atendidos por volta de doze a vinte pacientes no consultório. “A vigilância identificou erros no processo de esterilização do material. Foram feitas diversas recomendações e a clínica foi liberada. Uma nova inspeção foi feita, onde identificaram os mesmos erros e, por isso, a clínica foi interditada definitivamente”, disse.

 

 

Até agora, 20 vítimas foram identificadas, mas a polícia suspeita que podem aparecer mais com o passar dos dias. “Algumas vitimas vão precisar de acompanhamento por mais de 20 meses. Outras ainda estão com drenos. O surto aconteceu em dezembro, logo nas festas de fim de ano. Isso causou um abalo psicológico muito grande e também afetou no trabalho”, contou Alessandro.

 

Apesar do número alto de vítimas e casos suspeitos, Camilla ainda não foi ouvida pela polícia. Houve a suspeita de que ela estaria tentando fugir para outro estado, já que os investigadores apontaram que viram um anúncio da dentista de que faria os mesmos procedimentos no Rio Grande do Sul e que seu apartamento em BH estaria à venda. "Por isso, optamos por pedir os mandados de busca e apreensão para colher mais provas. Iremos ouvi-la em breve", disse o delegado.


Nas redes sociais, o perfil de Camilla continua ativo, com postagens semanais. Os comentários das publicações são bloqueados. Durante os meses que passaram das primeiras denúncias, Camilla estava com seu registro no Conselho Regional de Odontologia (CRO) irregular. Nas últimas semanas, conseguiu regularizar a situação. "Não podemos impedi-la de exercer a profissão ou fazer postagens, apenas após a análise do CRO. Ela está proibida de atender no próprio consultório porque ele está interditado", disse Alessandro.

 

“Inicialmente, ela está sendo investigada por lesão corporal culposa. Com os laudos, vamos definir a conduta dela”, completou.

 

 

Relembre o caso

 

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte confirmaram um surto de micobactéria não tuberculosa de crescimento rápido (MCR), pós-procedimentos estéticos. Há 20 casos notificados, todos de pessoas que realizaram intervenções cirúrgicas em uma clínica odontológica da capital.

 

O local, administrado pela cirurgiã-dentista Camila Aparecida de Andrade Silveira – conhecida como Camilla Groppo –, já foi inspecionado e interditado em 8 de março deste ano por falhas no processo de limpeza e esterilização de instrumentais, além da suspeita de surto.

 

Essa microbactéria pode gerar quadros graves, com formação de abcessos, e o tratamento engloba procedimentos cirúrgicos e uso de antimicrobianos por tempo prolongado.