Jéssica Souza fez a lipo de papada em janeiro. Pouco depois, teve que fazer uma cirurgia para tratar da infecção que adquiriu após o procedimento estético -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Jéssica Souza fez a lipo de papada em janeiro. Pouco depois, teve que fazer uma cirurgia para tratar da infecção que adquiriu após o procedimento estético

crédito: Túlio Santos/EM/D.A Press

A Polícia Civil cumpriu na tarde de ontem (23/4) mandados de busca e apreensão na casa da dentista Camila Groppo e em dois consultórios ligados a ela, em Belo Horizonte. A profissional está sendo investigada por lesão corporal culposa.

 

Desde dezembro do ano passado, vinte pacientes que realizaram operações de lipoaspiração de papada adquiriram infecção no consultório da dentista. Em março, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte identificaram um surto de micobactéria não tuberculosa de crescimento rápido (MCR) no local.

 

O Estado de Minas conversou com três pacientes, que sofreram danos graves devido à falta de condições do consultório da dentista Camila Groppo. Além de buscar reparação para os danos causados nas cirurgias, as vítimas têm um desejo em comum: que seja feita a justiça. 

 

 

'Tenho vergonha do meu rosto'

 

A manicure Graziela Maitê, de 42 anos, foi uma das primeiras vítimas do surto. Ela está impossibilitada de trabalhar desde que começou o tratamento contra uma infecção que adquiriu após fazer uma lipo de papada. O laudo atesta que a presença da micobactéria de crescimento rápido no organismo.


“Eu vivo mais dentro do hospital do que em casa”, conta a manicure, que vai ao hospital três vezes na semana tomar antibiótico na veia e ingere medicamentos em casa todos os dias. Segundo a paciente, os antibióticos são muito fortes e a deixam com tontura, problemas na audição e visão, além de terem outros efeitos colaterais.

 

“Eu não saio na rua, só vou para o hospital. E quando eu saio é de máscara. Eu tenho vergonha do meu rosto”. Devido à infecção, Graziela ficou com a boca torta, além de ter cicatrizes dos pontos que precisou fazer para drenar a bactéria. Ela está no quarto mês do tratamento que deve durar um ano.

 

A manicure Graziela Maitê convive com as sequelas da infecção e com as cicatrizes dos procedimentos para o tratamento

A manicure Graziela Maitê convive com as sequelas da infecção e com as cicatrizes dos procedimentos para o tratamento

Reprodução/Arquivo Pessoal

 

A cirurgia de Graziela foi no começo de dezembro. Assim que apareceram os primeiros sinais de que algo estava errado no local do procedimento, ela entrou em contato com a Camila Groppo. “Ela falou que eu era a única que tinha acontecido isso, que eu fui a primeira paciente que teve isso, que ela já tinha feito mais de 2 mil lipos de papada.” Pouco depois, a dentista bloqueou a paciente das suas redes sociais. “Eu não procurei mais. Como ela me bloqueou de tudo, nem sei como achar ela”, conta ela. “A única coisa que eu quero é justiça, que ela pare de fazer isso com os outros.”

 

'Ela dizia que era normal'

 

Graziela não foi a única bloqueada nas redes sociais pela cirurgiã. Outra paciente, que pediu para não ser identificada, conta que num primeiro momento recebeu suporte, mas que há alguns meses não consegue contato com a dentista.

 

“No dia que eu voltei lá com o rosto inchado, tinha outras quatro pessoas esperando para serem atendidas. Não dava tempo para nada, a minha cirurgia durou 20 minutos, eu saí e já entrou outra. Aquilo era um abatedouro”, lembra.

 

A paciente também fez a cirurgia em dezembro, mas ainda aguarda o laudo da biópsia para iniciar o tratamento com antibióticos. “Eu falei com ela três vezes que estava com o rosto inchado e sentindo dor e ela dizia que era normal. Só na quarta vez que ela falou pra eu ir no médico. Eu espero que ela pague pelo que ela fez. Eu não desejo nada de mal para ela, eu desejo justiça, porque o que eu passei e que outras mulheres estão passando não é brincadeira. É um inferno”, finaliza.

 

'Era uma dor que nós tínhamos'

 

A bancária Jéssica Souza, de 32 anos, também foi vítima da dentista. Ela disse que passou a ter problemas uma semana depois que fez a lipo de papada - o procedimento foi realizado no dia 21 de janeiro. “Percebi que não tinha algo normal, mas ela dizia que estava normal, que cada organismo reage de uma forma. Disse que era fibrose e que eu não fui a primeira e nem a última que daria fibrose. Recomendou mais sessões de drenagem e eu continuei seguindo as recomendações”, diz Jéssica.

 

Cerca de dois meses e meio depois, a bancária teve que ir para a sala de cirurgia para retirar três nódulos que surgiram no seu pescoço devido à bactéria que adquiriu no consultório de Camila. “Ela vendeu a solução para uma dor que muitas de nós tínhamos, então você acredita. O título do Instagram era especialista com mais de duas mil lipos de papada”.

 

Como as duas pacientes entrevistadas anteriormente, Jéssica também espera que sejam tomadas as providências pelas autoridades para que os problemas não se repitam. “De verdade, é um sentimento muito forte de ir até o fim para que outras pessoas não passem pelo que nós passamos.” 

 

 

Outro lado

 

Em nota, a dentista Camila Groppo, por meio da advogada, informou que não tem nada a manifestar em relação ao mandado de busca e apreensão “haja vista que o procedimento está em sigilo”. O documento destaca que “o ato transcorreu de forma pacífica e ordenada, vez que tudo quanto foi solicitado pelas autoridades foi apresentado sem nenhum embaraço”.