Chefe Kiki Ferrari morreu nesta quarta-feira (24/4) após complicações de uma cirurgia no intestino -  (crédito: Túlio Santos / EM / D.A Press)

Chefe Kiki Ferrari morreu nesta quarta-feira (24/4) após complicações de uma cirurgia no intestino

crédito: Túlio Santos / EM / D.A Press

Morreu nesta quarta-feira (24/4), aos 41 anos, o chef de cozinha belo-horizontino Kiki Ferrari. Informações repassadas à reportagem dão conta que o empresário foi internado na segunda-feira (22/4), para um procedimento de remoção de uma trombose no intestino. Kiki era sócio proprietário d’A Forja Taverna Épica Medieval, restaurante com temática viking e da Idade Média.

 

O cozinheiro era especialista no preparo de carnes braseadas e churrasco e criador da marca de temperos Chef n’ Boss. Ele teve passagens em estabelecimentos como Mambo Drinkeria, El Toro Tapas, Meet Me At The Yard, Svärten Mugg, Olga e Bar Laicos.

A equipe d’A Forja lamentou a morte do chef. “Aqueles que tiveram o privilégio de conhecer Kiki sabem que ele era uma pessoa excepcional, sem medo de ousar e arriscar. Por esse espírito livre, deixou um legado notável em seus empreendimentos e nos diversos cardápios de restaurantes renomados que carregam sua assinatura em Belo Horizonte. Impactou também a vida de muitas pessoas e, neste momento difícil, apresentamos as nossas sentidas condolências aos amigos e familiares. É com orgulho que posso dizer que a Forja Taverna é a materialização de um dos seus sonhos mais profundos, refletindo seus valores e convicções”, consta na nota.

Também nas redes sociais, o Fuegos Festival, evento de churrasco em BH, lastimou a perda do chefe e afirmou que o “Dia do Churrasco”, comemorado hoje, será “eternamente” marcado por sua despedida. “Kiki será lembrado pela sua ousadia no universo da gastronomia [...] Kiki nos deixa na tarde desta quarta-feira em um dia quente, como ele gostava. Os nossos cumprimentos e sentimentos à família e amigos do eterno amante do fogo. Parabéns por terem a oportunidade de conviver com esse cara tão inacreditável”.

 

Quem era Kiki

 

Em entrevista ao Estado de Minas, em dezembro de 2022, Kiki afirmou que sempre se sentiu “um pouco bárbaro”. De fato, o chef sempre trilhou um caminho totalmente fora dos padrões na gastronomia. Para quem não se lembra, um episódio marcante da sua carreira foi o Svärten Mugg. A cozinha do pub escandinavo, que ficou aberto por três anos, tinha forte influência viking. Kiki também foi o responsável pelo cardápio do Bodegón Buenos Aires, na Região da Pampulha, de raiz argentina.

 

Kiki chamava atenção por suas tatuagens. Ele afirmava que enquanto sobrasse “espaço, sentido, orgulho, aprendizado, coragem e transformação” em sua vida, continuaria colocando arte em sua pele. Até fevereiro deste ano, o cozinheiro tinha 33 tattoos.

 

Para ele, as tatuagens são uma expressão subcultural dos movimentos artísticos e sociais do underground urbano, “além de ser uma forma de elevar meu corpo ao nível simbólico no intuito de ressignificá-lo, onde ele deixa de representar uma engrenagem social para ser símbolo de autopertencimento.”

 

“Por meio da tatuagem, reverencio e reconheço em mim aspectos, arquétipos e atributos espirituais, psicológicos e culturais da realidade e do potencial humano. Do contrário, só seria uma reafirmação da submissão e achatamento do potencial e progresso humano à insegurança do consenso disfarçada de liberdade, por meio da ilusória tendência da moda. Isso seria um desperdício do potencial que a tatuagem tem. Seria tatuar em vão. Mas essa é uma visão pessoal, já que busco significar tudo a nível religioso, ritualístico e tribal”, avaliou o chef, em entrevista ao EM.

 

Um dos desenhos, segundo o Kiki, expressava de maneira mais óbvia sua relação com a gastronomia. É um crânio em chamas com um garfo e uma faca cruzados ao fundo. “Ela representa o reconhecimento de que essa profissão se trata de sacrifício do ego, representado pelo crânio, e que nós, cozinheiros, somos parte do menu, devorados e consumidos pelo garfo e pela faca, por uma profissão de doação, entrega e sacrifício massacrantes e, indiscutivelmente injusta, onde somos obrigados a negligenciar a vida social íntima e nossa saúde mental, emocional e física para afetar o outro no lugar e no momento onde somos mais bichos, humanos e frágeis, buscando por meio dos comes e bebes acessar e preencher com reconforto e afeto nossa profundidade, diante do abismo raso e frio do nosso tempo”, analisou.