“Legado”. Esta palavra esteve presente no depoimento de todos que foram se despedir do chef de cozinha Kiki Ferrari na tarde desta quinta-feira (25/4) no Cemitério da Colina, em Belo Horizonte. O chef morreu ontem, aos 41 anos, após realizar duas cirurgias para remover uma trombose no intestino.
“É uma dor irreparável para a família, para os amigos, para a gastronomia. Ele foi absolutamente intenso e generoso com todo mundo. Ele deixou um legado em tudo que ensinou, em todas as receitas, em todas as pessoas com quem trabalhou”. Este foi o resumo que Jessica Ferrari fez sobre a trajetória de vida do irmão.
Emocionada, Jéssica relembrou que o irmão sempre foi bem quisto nos restaurantes em que trabalhou. No sepultamento, centenas de pessoas compareceram para dar um último adeus ao chef.
“Eu estou muito acalentada pelo carinho de todo mundo que a gente tem recebido. Ele é insubstituível e eterno. Eu espero que todos da gastronomia continuem o legado dele e lembram o nome dele, porque ele é inesquecível”.
Bárbaro
Kiki teve passagens por vários restaurantes de Belo Horizonte, como Mambo Drinkeria, El Toro Tapas, Meet Me At The Yard, Svärten Mugg, Olga e Bar Laicos. Seus empreendimentos mais recentes foram a marca de temperos Chef n’ Boss e o restaurante A Forja Taverna Épica Medieval.
“Ele criou A Forja com toda temática medieval, com tudo que pode ser trazido da idade média. Ele forjou toda essa beleza para nós. E agora nós vamos honrá-lo com todas as nossas forças”, relata Emídio Nazarro, amigo de Kiki desde a adolescência. Ele, inclusive, era um bobo da corte no A Forja, restaurante com temática viking. Em entrevista para o Estado de Minas, em dezembro de 2022, Kiki contou que sempre se sentiu “um pouco bárbaro”.
“Ele era mais do que um irmão. Nós éramos magos de uma mesma confraria”, finaliza Emídio.
Humilde
Além do seu legado, outra característica de Kiki que une os depoimentos de seus amigos e familiares era a sua bondade. A nota de falecimento publicada pelo seu restaurante nas redes sociais ficou lotada de comentários positivos.
“Ele tinha um coração muito grande. Sempre que a gente parou para conversar, principalmente mitologias e afins, ele sempre foi muito aberto a conversar sobre isso. Ele nunca faltou com respeito com ninguém”, disse seu amigo Ângelo Marques Freitas durante o velório.
Outro amigo, Giancarlo Zorzin, conta que conhece Kiki há muitos anos, mas os dois se aproximaram recentemente quando o chef desenvolveu o cardápio do seu restaurante, Gumbo Soul Food. Para Giancarlo, a gastronomia mineira e brasileira perde um homem “insubstituível”.
“O Kiki era um gênio, por conta da criatividade e do amor que ele colocava em tudo que fazia. Ele desenvolvia e pesquisava a fundo tudo que produzia, acho que ele era único.”
Bondoso
Kiki era uma pessoa de personalidade. Não apenas no seu trabalho, mas também na sua aparência. Com o corpo cheio de tatuagens, 33 ao todo, disse uma vez que enquanto tivesse “espaço, sentido, orgulho, aprendizado, coragem e transformação” em sua vida, continuaria colocando arte em sua pele.
“Eles nos deixou muito cedo, mas deixa um legado. Vai fazer muita falta. Ele tinha aquele escudo de ogro, mas o coração era gigante”, conta o jornalista gastronômico Daniel Neto, conhecido como Nenel. Ele, que conhecia Kiki desde o colégio, define o chef como uma pessoa inquieta e criativa. “Ele estava sempre criando e pensando numa coisa nova. E era um estudioso, sabia o que estava fazendo”.
O pai de Kiki, Erasto de Oliveira Neto, relembra orgulhoso o legado do filho, que, segundo ele, começou ainda criança, quando os dois cozinhavam juntos. Foi o pontapé inicial de uma vida dedicada inteiramente à cozinha e a servir as pessoas.
“Agora, eu acho o seguinte, que Deus é meio prepotente. Estava sem comida lá em cima e comendo mal, aí levou o melhor cozinheiro que tem e deixou eu ferrado aqui, sem cozinheiro. É uma criança. Tinha aquela cara de bravo, mas era uma criança”.