A estudante de medicina Larissa Moraes de Carvalho, de 31 anos, está há pouco mais de um ano em estado vegetativo depois de dar entrada na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, para realizar uma cirurgia ortognática, procedimento que visava correções de crescimento dos maxilares e mandíbulas. No entanto, ela acabou tendo uma parada cardiorrespiratória.
A família crê que a atual condição de Larissa decorre de erro médico e, por isso, entrou na Justiça buscando uma indenização. Além do hospital, o médico-cirurgião e o médico anestesista são investigados no caso. A Polícia Civil também abriu inquérito a pedido do Ministério Público.
Larissa deu entrada na Santa Casa em 16 de março do ano passado para realizar o procedimento, que, segundo o pai dela, Ricardo Carvalho, era recomendado pelos dentistas desde a infância. “Minha filha se preparou por três anos para realizar essa cirurgia, um processo relativamente simples, mas que teve resultados inesperados. Ela sofreu a parada cardiorrespiratória (PCR) durante o transporte do centro cirúrgico no 14º andar para a enfermaria no 9º andar”, afirmou. Conforme a família, Larissa ficou cerca de 17 minutos com a parada cardiorrespiratória, até receber atendimento médico.
“A descrição cirúrgica registrada em prontuário não detalha os passos adotados em cada etapa do procedimento. O termo de consentimento assinado pela minha filha em 8 de março não explicava os riscos associados à anestesia geral. O documento também não mencionava a possibilidade de parada cardiorrespiratória e com sequelas associadas”, completou Carvalho.
Ricardo contou ainda que só não trouxe o caso à imprensa antes por medo de represálias do hospital. “Ela teve alta em 15 de março deste ano, pois nós conseguimos judicialmente o acesso ao ‘home care’, onde os cuidados seguem em casa. Daí, começamos a entrar em contato com veículos de comunicação. É triste demais. Minha filha cursava o terceiro período de medicina na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Cheia de sonhos! Hoje, lutamos com todas as nossas forças para a recuperação dela, procurando todos os tratamentos possíveis”, disse.
Polícia Civil abre inquérito a pedido do Ministério Público
Além do processo que corre na 2ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora, a Polícia Civil confirmou à reportagem que instaurou inquérito a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A instituição policial, porém, disse que, por enquanto, não passaria informações da investigação comandada por meio da 1ª Delegacia de Polícia Civil do município, mas pontuou que “colheu depoimentos e outras diligências seguem em andamento para apuração total dos fatos”.
Ao determinar que a polícia investigasse o caso, o MPMG destacou alguns trechos de ampla documentação apresentada pelo advogado de defesa da família. No despacho judicial, o promotor de Justiça Jorge Tobias de Souza cita “laudos periciais elaborados por profissionais médicos” contratados pela família, que dizem: “Evidenciam-se falhas em diferentes pontos da assistência médico-hospitalar prestada, desde o acompanhamento anestésico até cuidados pós-PCR, que contribuíram para o desfecho neurológico observado.”
Logo, o promotor avaliou que “os elementos coligidos aos autos apontam para a existência de falhas no procedimento cirúrgico que demandam a necessidade de aprofundamento nas investigações”.
No documento remetido à Justiça para instauração do processo cível, o advogado Fábio Guimarães Timponi apontou dois laudos periciais indicando que a paciente deveria ter ficado ao menos uma hora em observação na Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA), conforme orienta a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) para cirurgias com mais de cinco horas de duração, como foi o caso de Larissa. No entanto, ela teria permanecido no local por apenas 20 minutos e recebeu alta, sendo transportada do 14º para o 9º andar, momento em que a parada cardiorrespiratória teria ocorrido.
O pai de Larissa diz que, em reunião com a diretoria da Santa Casa em 3 de abril de 2023, pediu para ter acesso às imagens das câmeras de segurança e, deste modo, saber com exatidão tudo o que aconteceu durante o transporte da filha após a alta da SRPA.
“Eles falaram que só poderiam fornecer as imagens mediante autorização judicial. Então, fizemos o pedido junto ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mas não adiantou, pois a Santa Casa alegou que as imagens prescreveram”. No entanto, em prontuário que a reportagem teve acesso, a Santa Casa, em 11 de abril do ano passado, havia se comprometido a fornecer as imagens em até 20 dias.
Santa Casa diz que não vai comentar o caso
Procurado pelo Estado de Minas, o hospital optou por não se manifestar sobre o caso. “A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora informa que, uma vez já instaurada ação na Justiça, em respeito ao devido processo legal, o hospital não fará quaisquer comentários sobre o assunto fora dos autos judiciais. Reiteramos nosso compromisso com a transparência e a qualidade no atendimento prestado a toda comunidade ao longo de nossa história, que soma quase dois séculos”, informou a unidade de saúde, em nota.