BR-381 -   Trecho da Fernão dias em Betim, onde há concentração de acidentes, apesar da pista duplicada: tráfego intenso, veículos pesados e manobras nos acessos são fatores de risco -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

BR-381 - Trecho da Fernão dias em Betim, onde há concentração de acidentes, apesar da pista duplicada: tráfego intenso, veículos pesados e manobras nos acessos são fatores de risco

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

 

Entre as rodovias com acidentes mais concentrados em Minas Gerais, a proporção de cinco ou mais desastres em menor distância percorrida – o que se traduz em maior exposição ao risco – ocorre na BR-050. Nela, a cada 6,7 quilômetros rodados o motorista encontra um ponto com histórico de acúmulo de desastres. O índice é maior do que o de vias mais longas e carregadas, como a BR-381, com média próxima, de 7,3 quilômetros a cada trecho concentrador de acidentes, ou a BR-040 (8,5 quilômetros), a BR-116 (14,1 quilômetros) e a BR-262 (31,3 quilômetros).

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Um dos motivos é que a BR-050 praticamente cobre as distâncias entre os centros de adensamento populacional de Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro. Em 210 quilômetros considerados, foram 31 pontos com mais de cinco acidentes em um mesmo quilômetro, em um total de 264 desastres, 9 pessoas mortas e 291 feridas.


Apesar de a BR-381 ter a má fama de Rodovia da Morte no trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade, e de estar com projeto de duplicação da capital mineira até Governador Valadares, no mesmo segmento a caminho do Espírito Santo, a parte que liga Betim à divisa com São Paulo, a Rodovia Fernão Dias, tem muito mais pontos concentradores de acidentes por quilômetro, apontam as ocorrências registradas pela Polícia Rodoviária Federal.


Enquanto a Fernão Dias concentra 102 pontos onde mais do que cinco acidentes ocorreram em um só quilômetro em 2023, o trecho de BH a Governador Valadares, incluindo a Rodovia da Morte, somou 27 desses pontos, o equivalente a 26% do registrado no trecho oposto. O número de acidentes nesses locais críticos da via até Valadares foi de 186, média de sete a cada mil metros. Já o volume de acidentes da Fernão Dias foi mais de seis vezes maior, com 1.196 ocorrências.


Em relação ao número de vítimas nesses trechos perigosos das estradas, o total foi de 3 mortos e 24 feridos nos piores quilômetros da BR-381 de BH a Valadares, contra 64 óbitos e 1.647 feridos nos pontos mais críticos da Rodovia Fernão Dias. Isso pode indicar que no segmento de Betim a São Paulo esses são os pontos mais críticos, e que no sentido oposto tavez haja uma distribuição maior em relação às vítimas de desastres ao longo do trecho.


Soma de imprudência e traçado inadequado

Os acidentes relatados pela PRF em BRs de Minas mostram duas situações distintas, de imprudência e falha geométrica das vias, segundo a avaliação do professor Raphael Lúcio Reis dos Santos, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG. “No caso de Brumadinho, a BR-381 tem uma topografia acidentada, muito íngreme e sinuosa, mas que não tem como ser ampliada. São também muitos caminhões, sobretudo das mineradoras próximas, e os acidentes fatais geralmente têm o envolvimento de veículos mais pesados”, afirma.


Os pontos com maiores concentrações de acidentes e mortes ficam em trechos duplicados ou de múltiplas pistas da BR-381, o que desfaz de certa forma o conceito muito difundido de que o maior perigo está apenas em vias de pistas simples. “Há essa visão de que as pistas simples tenham maior número de acidentes graves, em razão das colisões frontais. Mas esses pontos críticos mostram que o excesso de velocidade e a imprudência, muito mais relacionados aos motoristas, são um componente importante nos acidentes graves. Isso fica ainda pior quando se leva em conta o relevo, as curvas fechadas. Nesses locais, a alternativa é uma fiscalização mais efetiva e o uso de radares”, avalia o professor do Cefet-MG.


Já o longo trecho de 11 quilômetros campeão de acidentes na BR-381 em Betim, na Grande BH, tem uma particularidade que favorece os desastres. “Um grave problema desse segmento é o grande volume de veículos, sobretudo pesados, para transporte e escoamento de bens, em uma pista que se afunila em vários pontos, obrigando motoristas a reduzir de uma velocidade alta e ingressar em outra pista. Isso ocorre nos viadutos e nos acessos a vias locais, propiciando acidentes”, observa o professor Raphael Santos.


Mais um motivo para que condutores redobrem cuidados e atenção, na visão do especialista. “Quando se tem pistas duplas e até múltiplas, os motoristas por vezes têm uma falsa sensação de segurança, de que podem aumentar a velocidade, porque têm espaço, quando há uma reta longa ou descida. Mas é preciso ter atenção. A velocidade de segurança deve ser respeitada para se fazer curvas de forma adequada. O fator humano tem contribuição decisiva nos acidentes”, alerta o professor do Cefet.


727 mortos: uma tragédia em 12 meses

Minas Gerais registrou 9 mil acidentes em 2023, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com 727 mortos e 11.775 feridos nas rodovias federais. Desses, a BR-381 foi a que mais teve ocorrências, mortos e feridos. Foram 2.641 desastres, com 171 mortos e 3.435 feridos. No segmento da Fernão Dias, acesso da 381 a São Paulo, houve 2.029 acidentes, 107 óbitos e 2.559 feridos, e entre BH e Governador Valadares, 612 ocorrências, 64 óbitos e 876 feridos.