Larissa Figueiredo*
A morte de um homem por febre amarela na região de divisa entre os estados de Minas Gerais e São Paulo reacendeu o alerta entre autoridades de Saúde para o risco da doença. A vítima tinha 50 anos, vivia em Águas de Lindoia (SP), não tinha registro de vacina contra a doença e apresentou dois exames positivos para o vírus. O local provável de infecção segue em investigação, uma vez que o homem visitou área de mata no município mineiro de Monte Sião, no Sul do estado, em torno de 15 dias antes do início dos sintomas.
Diante do caso fatal da doença – que provocou epidemias em Minas com 340 mortes entre 2016 e 2018 –, o Ministério da Saúde emitiu, ainda no domingo, alerta para intensificação das ações de vigilância sanitária e imunização nas áreas com transmissão ativa do vírus. Além desse caso fatal, três diagnósticos foram confirmados no Brasil nos últimos seis meses, de acordo com a pasta, dois deles com óbitos. A mobilização sanitária tem objetivo de agilizar a comunicação de casos suspeitos para evitar novos surtos, especialmente considerando que a doença tem alto índice de letalidade.
Ainda em meio aos reflexos da pior epidemia de dengue da história, o alerta traz a lembrança dos anos críticos enfrentados em Minas Gerais diante da febre amarela. Na temporada 2016/2017, foram confirmados no estado 475 casos do tipo silvestre da doença. Do total, 162 pacientes não resistiram – uma letalidade de 34,1%. O quadro já era considerado o mais grave desde 1980, mas a situação foi ainda pior no período seguinte. Entre julho de 2017 e junho de 2018, foram 527 casos confirmados, com 178 mortes. A taxa de letalidade teve leve recuo em relação ao período anterior, mas seguiu alta, em 33,5%.
Procurada pelo Estado de Minas, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou em nota que, desde a notificação da morte mais recente, em 12 de abril, está investigando o caso. Foram feitas reuniões para tratar do assunto com autoridades sanitárias do ministério e de São Paulo, segundo a pasta, e disponibilizadas orientações a profissionais de saúde e gestores sobre a situação, por meio de documentos técnicos e reuniões do Comitê de Monitoramento de Emergências.
Ainda segundo a Saúde estadual, ontem foi promovido webinário para discutir a questão das arboviroses no estado, o que inclui a febre amarela, com participação da Associação Mineira de Municípios e do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems). Foram intensificadas ainda na região afetada de Monte Sião, principalmente nas localidades rurais, ações de vigilância epidemiológica, de controle de insetos transmissores e de vacinação, para ampliar a cobertura contra a febre amarela em pessoas ainda não imunizadas.
A secretaria sustenta que o município de Monte Sião, assim como o território da Unidade Regional de Saúde de Pouso Alegre, onde está inserido, não tem registro recente de morte de macacos contaminados pelo vírus da febre amarela – situação que serve de alerta para o risco de casos humanos. Dados do Painel de Vacinação do Calendário Nacional do Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal para a febre amarela em crianças menores de 1 ano de idade, de janeiro a março de 2024, é de 89,41%.
Características da virose
No Brasil o ciclo da doença atualmente é silvestre, com transmissão por meio dos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os últimos casos de febre amarela urbana foram registrados no país em 1942, e todos os casos confirmados desde então são atribuídos ao ciclo de transmissão em zonas de mata ou rurais.
A doença é endêmica na região amazônica, mas, de tempos em tempos, emerge na região extra-amazônica. O padrão é sazonal, com a maior parte dos casos incidindo entre dezembro e maio. Surtos ocorrem quando o vírus encontra condições favoráveis para a transmissão, como altas temperaturas, baixas coberturas vacinais e alta densidade de vetores (os mosquitos) e hospedeiros (macacos e seres humanos).
A partir de 2014, o vírus reemergiu na região Centro-Oeste do país, se espalhando nos anos seguintes para as demais regiões. Entre 2014 e 2023, foram registrados 2.304 casos de febre amarela em humanos, sendo que 790 chegaram a óbitos no Brasil. Em Minas, o pior período ocorreu entre 2016 e 2018.
Entre as recomendações do Ministério da Saúde estão o alerta para que equipes de vigilância e de imunização intensifiquem as ações nas áreas afetadas, com ampliação para municípios vizinhos; a notificação do adoecimento ou morte de macacos; e a atenção a sintomas de febre leve e moderada em pessoas não vacinadas.
Apelo por vacinação
Quanto à vacinação, as recomendações são para que seja utilizada a estratégia da busca ativa de pessoas não vacinadas nas regiões em alerta. Segundo a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Ethel Maciel, a vacinação, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), é de extrema importância para o combate à doença.
“A febre amarela é uma doença facilmente evitável com a vacina. E ela está disponível no SUS para todas as idades. As campanhas mentirosas antivacina não prejudicaram apenas a (imunização contra a) Covid. A cobertura vacinal de febre amarela está abaixo do recomendado. Por isso a importância de toda a população estar com a vacinação em dia”, informa Ethel.
Na última sexta-feira o Ministério da Saúde disponibilizou 150 mil doses extras da vacina de febre amarela para o estado de São Paulo. Também foi feita a recomendação para o livre acesso à vacina nas unidades de saúde, sem a necessidade de agendamento prévio.
* Estagiárias sob supervisão do editor Roney Garcia
Complicações da doença
Em casos graves, o infectado por febre amarela pode desenvolver sintomas, como
- Febre alta
- Icterícia (indicada por aspecto amarelado na pele e olhos)
- Hemorragia
- Eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos
De 20% a 50% que desenvolvem febre amarela grave podem morrer. Assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas, é fundamental buscar ajuda médica