Jaime Henrique Saade Cormane, condenado a 27 anos de prisão por assassinar e estuprar a jovem Nancy Mestre, de 18 anos, foi extraditado para a Colômbia nesta quinta-feira (11/4) . Ele desembarcou em Bogotá por volta das 13h e foi levado até o presídio de Barranquilla. O homem estava foragido em Belo Horizonte usando o nome falso de Henrique dos Santos Abdalla e foi preso num trabalho conjunto entre a Polícia Federal (PF) e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). O crime aconteceu em 1994, em Barranquila.

 

O paradeiro de Saade foi descoberto graças a uma investigação feita pelo pai da vítima, o arquiteto Martin Mestre. O assassino de Nancy foi julgado e condenado a 27 anos de prisão, mas conseguiu fugir para o Brasil, onde residia um parente. O caso foi uma solicitação do Interpol à Polícia Federal, que tinha Saade na lista da difusão vermelha. A investigação foi conduzida pela delegada Fátima Rodrigues Bassalo. “Esse caso chegou às minhas mãos em 2019, mais precisamente no mês de maio. A primeira informação que conseguimos é que possivelmente ele, Saade, estaria em Minas Gerais”, conta a delegada.

 



 

As primeiras investigações apontaram que Saade tinha conseguido uma certidão de nascimento com nome falso de "Henrique dos Santos Abdalla" na cidade de Santo Antônio do Içá, no Amazonas, fronteira com a Colômbia, explica Fátima Bassalo. “E em 1997 ele conseguiu, usando essa certidão com nome falso, fazer uma carteira de identidade, num posto da Polícia Civil que existia no Terminal Israel Pinheiro, que é a Rodoviária de Belo Horizonte. E por aqui ele ficou. Em 1999, conseguiu a carteira de motorista, no Detran-MG”, afirma.

 

De posse dos documento, Saade conseguiu abrir contas em bancos, casou-se e teve um filho, que aliás, tem o seu sobrenome verdadeiro. Também criou laços familiares com a família da esposa. Ele montou uma lavanderia de roupas de hotéis, onde trabalhava. O negócio foi registrado no nome da mulher dele.

 

A atuação da Inteligência da Polícia Federal foi determinante para localizar o local onde o condenado colombiano morava, no Bairro Silveira, Região Nordeste de BH. “Nós o localizamos em agosto de 2019, mas não podíamos prendê-lo, pois pelas leis brasileiras seria necessário uma autorização do Supremo  Tribunal Federal (STF). Pelas leis brasileiras, ele não tinha cometido um nenhum crime no país. Foi quando abrimos a investigação pela falsificação de documento, que corresponde a falsidade ideológica”, diz a delegada Bassolo.

 

Investigação seguiu assassino até o Nordeste

 

Em 28 de janeiro de 2020 foi expedido, pelo STF, o mandado de prisão em nome de Saade. Ele foi preso em casa e levado para a Penitenciária Nélson Hungria, em Contagem, na Grande BH. A prisão foi indeferida pelo STF. O colombiano foi solto em maio de 2022, depois de celebrar um acordo com a Justiça Federal, em que o processo por falsidade ideológica foi arquivado. “Saade pagou apenas uma multa e foi solto. Ele tinha constituído advogados aqui em Belo Horizonte. Sua família, na Colômbia, é poderosa, tem dinheiro”, explica ela.

Jaime Enrique Saade Cormane viva em Belo Horizonte e chegou a abrir uma lavanderia para hotéis na capital mineira

Reprodução El Heraldo/Colômbia

Em 18 de abril do ano passado, Martin Mestre, o pai de Nancy, conseguiu reverter a situação. Com as provas apresentadas por ele, o STF expediu outro mandado de prisão. A Polícia Federal foi até a residência dele, que naquele momento morava em um condomínio, o Serra Verde, em Igarapé, na Grande BH. No entanto, segundo a delegada, existia a suspeita de que o condenado, de posse de informações do processo, teria desaparecido. “Pior, a mulher dele disse que eles não estavam mais juntos e que não sabia o seu paradeiro”, afirma ela.

 

Os policiais policiais federais se aprofundaram nas investigações e descobriram que Saade tinha sido visto, pela última vez em 3 de abril de 2023, portanto, 15 dias antes da publicação do mandado de prisão. Teve início uma caçada e, segundo a delegada Bassolo, foi determinante a participação da PMMG para a captura do fugitivo. “Fizemos um trabalho conjunto e, graças ao monitoramento feito pela Polícia Militar Rodoviária, conseguimos descobrir que um veículo da empresa de Saade e sua mulher tinha sido visto indo em direção ao Triângulo Mineiro”.

 

O destino do foragido era Uberlândia, onde viva o irmão da mulher dele. Dois dias depois, segundo o monitoramento, ele retornou a Belo Horizonte. Uma nova investigação apontou que a mulher do colombiano tinha alugado um carro e que ele tinha ido com o veículo para Arapiraca, em Alagoas. Depois disso, o colombiano havia alugado uma residência em Maceió, na Praia do Francês. Policiais federais e da Polícia Militar seguiram para a capital alagoana no helicóptero da PM. Lá, passaram a fiscalizar farmácias, padarias, supermercados. Em 1º de maio de 2023, Saade foi visto saindo de um supermercado e foi seguido. Ao perceber a presença da polícia, tentou fugir, correndo. “Ela largou as sacolas e saiu em disparada. Mas foi alcançado e preso”, conta a delegada.

 

O colombiano foi trazido para Belo Horizonte no helicóptero da PM. A penitenciária em que estava anteriormente não o aceitou, por não aceitar a natureza do delito. Foi então levado para a Penitenciária Inspetor José Martinho Drummond, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, onde ainda se encontra. A autorização para a extradição às autoridades colombianas, segundo a delegada Bassolo, aconteceu no último 29 de fevereiro. “Eles têm 60 dias para realizar a extradição. Caso contrário, ele permaneceria aqui. Mas tudo está resolvido”. Desde o início da semana, dois policiais federais colombianos estão em Belo Horizonte para levar Saade de volta à Colômbia.

compartilhe