As drogas K, também conhecidas como K2, K4, K9 ou “spice”, são canabinoides sintéticos cujo uso e efeitos têm repercutido recentemente, principalmente com a suspeita de que a substância esteja por trás da morte de 13 detentos em dois presídios da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

 

Pablo Marinho, professor de toxicologia no Centro Universitário Una, na capital mineira, explica que os termos K2, K4, K9 se referem ao grupo das moléculas sintéticas e, atualmente, são registradas mais de 130 moléculas diferentes que compõem a classe dos canabinoides sintéticos.

 

“Como você tem uma ampla variedade de moléculas, a intensidade dos efeitos também vai diferir. Então, muitas vezes esses efeitos são imprevisíveis, eles podem variar de leves a fatais”, adiciona.

Entre os efeitos das drogas K apontados pelo professor estão agitação, ansiedade, alucinações, convulsões, comportamento autodestrutivo, vômitos, paranoias, problemas respiratórios e cardiovasculares e, em casos extremos, a morte.

 

Nos casos dos detentos, que estão em processo de investigação pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), a suspeita é que a causa das mortes tenha sido overdose pelo consumo da substância.

 

Fatores que podem elevar os riscos de overdose são a falta de controle de qualidade da substância, uma vez que é ilícita, e o desconhecimento dos usuários dos efeitos toxicológicos, concentração e composição química dessas drogas, que podem estar também contaminadas com outras substâncias.

 

As drogas K são consumidas principalmente pelas vias respiratórias, explica Pablo Marinho. É comum que os usuários impregnem essas moléculas sintéticas em um determinado suporte como papel, alguma erva para fumar, e, em alguns casos, até mesmo em cigarros eletrônicos.

 

Canabinoide sintético não é cannabis

Popularmente, as drogas K também são conhecidas como “maconha sintética”, mas o professor de toxicologia chama atenção para esse termo que pode estabelecer uma correlação errônea. Apesar do grupo de moléculas sintéticas agirem no organismo humano nos mesmos receptores do THC, principal ativo responsável pelos efeitos psicoativos da maconha, os canabinoides sintéticos têm uma afinidade maior com esses receptores, assim, os efeitos deles têm uma intensidade maior que os da cannabis.

 

“Não é maconha sintética, isso acaba passando uma ideia errada de que [a droga K] pode ser de efeito mais ameno, de baixo potencial letal, mas são moléculas extremamente danosas para a saúde humana e que a gente desconhece ainda os efeitos, principalmente a longo prazo”, reforça.

 

Preocupação pública

Pablo Marinho acredita que o consumo das drogas K deve ser encarado como uma preocupação do ponto de vista da saúde pública, uma vez que “a gente observa que há um aumento nas apreensões no Brasil desse tipo de droga” e por terem alto potencial toxicológico.

 

Como o conhecimento dos efeitos a curto e a longo prazo dos canabinoides sintéticos ainda não é aprofundado, isso pode dificultar o tratamento em um possível processo de reabilitação ou na identificação de pessoas que foram intoxicadas por essas drogas, diz o professor.

 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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