Ao som do hino em louvor a Santa Rita de Cássia e da canção católica “Vitória, tu reinarás”, em clima de emoção e alegria, moradores de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, comemoraram, na noite de ontem, a volta de duas peças sacras ao acervo da Capela São João Batista, que completa 120 anos. Trata-se da imagem de Santa Rita de Cássia, pendente de restauração, e de um crucifixo.
Antes de missa comemorativa houve um cortejo para a entrega dos objetos de fé desaparecidos há 55 anos. Estavam presentes a titular da Sexta Promotoria da Comarca de Santa Luzia, promotora de Justiça Laura Figueiredo Félix Lara, e as historiadoras Neise Duarte e Paula Carolina Novais, ambas da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC) do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
A devolução é fruto de uma campanha iniciada em 2010 pelos paroquianos do Bairro da Ponte, tendo à frente a professora Sandra Gabrich e o biólogo Cristiano Massara. Emocionada, Sandra Gabrich disse que se trata “de um momento especial, pois o acervo faz parte da história de cada um, além de remeter aos antepassados".
Especificamente sobre a imagem de Santa Rita de Cássia, o caso foi entregue à Coordenadoria das Promotorias de Justiça do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC/MPMG), que conduz a campanha “Boa Fé”. Para completar o acervo, falta apenas a imagem de Nossa Senhora das Graças. “Já temos algumas informações sobre essa peça sacra, e estamos confiantes de que o MPMG vai localizar e trazer de volta para nossa comunidade”, acredita Sandra Gabrich.
“A comunidade entende o que é importante para seu patrimônio, e, nesse momento, a devolução das peças fortalece nossas ações de proteção dos acervos”, disse a promotora de Justiça Laura Figueiredo. No final da missa, o pároco solidário da Paróquia São João Batista, padre José Marcilon, destacou a força da fé e a determinação dos moradores para reaver seu patrimônio.
Presente à celebração, o presidente da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, Adalberto Mateus, aplaudiu a iniciativa dos moradores. “A ação exemplar dos paroquianos de São João Batista em reaver seu patrimônio cultural ocorre em um ano jubilar, pois são comemorados os 120 anos da sua antiga matriz e o centenário de uma das comunidades mais tradicionais da cidade, por coincidência dedicada a Santa Rita. Mais uma vez, eles comprovam que a comunidade é a melhor guardiã do seu patrimônio.”
Para a professora Maria de Lourdes Santos Ciriato, que acompanhou a celebração, a comunidade está emocionada e feliz. “Muito bom ver Santa Rita de volta”, afirmou.
Resgate histórico
Nos 14 anos de campanha iniciada pelos voluntários Sandra Gabrich e Cristiano Massara, conforme reportagens publicadas no Estado de Minas, a comissão paroquial já conseguiu resgatar cinco peças sacras, hoje nos altares da edificação em estilo neogótico e tombada pelo município. Desde o início da ação, foram restituídas as imagens de Santa Terezinha do Menino Jesus, São José, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, São Vicente de Paulo e Anjo da Guarda.
Logo após o lançamento da campanha “Boa Fé”, pelo MPMG, “um dos primeiros casos que recebemos foi o da imagem de Santa Rita de Cássia, de Santa Luzia”, destaca o coordenador da CPPC/MPMG, promotor de Justiça Marcelo Azevedo Maffra. Após as análises técnicas necessárias, foi agendada a devolução da peça à comunidade.
“Em se tratando de bens culturais móveis, para além da conservação física, o MPMG também se preocupa com a manutenção desses bens nos respectivos locais de origem, onde eles representam os valores da comunidade e são usados como suporte para outras inúmeras práticas e manifestações culturais”, ressalta Maffra. Ele explica que “o desaparecimento priva a comunidade da fruição coletiva, ao afastá-lo do seu contexto”.
A campanha “Boa fé”, desenvolvida pela CPPC, foi lançada para estimular a devolução voluntária de bens que integram o patrimônio cultural do estado, mediante ações de educação, conscientização e incentivo à restituição de bens culturais aos locais de origem. “Qualquer pessoa, física ou jurídica, que detenha bens culturais de fruição coletiva, que, por qualquer motivo, tenham sido retirados do seu local de origem, pode participar. Trata-se de uma atuação negocial, resolutiva, voltada a evitar a deflagração de ações judiciais e a busca e apreensão dos objetos”, explica Marcelo Maffra.
A ARTE “NO DETALHE”
Com 60 centímetros de altura e um pedestal de 10 centímetros, a imagem de Santa Rita de Cássia deverá ser restaurada, o que será providenciado pela paróquia. O crucifixo já passou por essa etapa, segundo Sandra Gabrich. “Ficou lindo!”, observou. De forma específica, a imagem de Santa Rita foi incluída na campanha “Boa Fé”, conduzida pelo MPMG desde 2023.