A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) promoveu, na tarde de ontem (19/4), a formatura de 53 alunos do “Estamos Juntos”, iniciativa que capacita pessoas com jornada de vida cumprida na rua, para buscarem uma oportunidade qualificada no mercado de trabalho. Criado em 2019, o programa atingiu a marca de 366 pessoas certificadas. Após a formação, os participantes são incluídos no banco de talentos da prefeitura e de empresas parceiras.

 


Entre as autoridades presentes no evento de formatura, realizado no Centro de Referência das Juventudes (CRJ), próximo à Praça da Estação, estava o prefeito Fuad Noman (PSD). O político diz estar feliz com os resultados e defende que o projeto é um “grande ganho” para a cidade. “O sucesso tem sido grande. As pessoas que passam por esse processo e vão para o mercado de trabalho estão sendo muito bem aceitas”, diz. Segundo a prefeitura, mais de 100 pessoas formadas pelo programa trabalham em secretarias e órgãos do município e outras 22 conseguiram emprego na iniciativa privada. A meta é de que o “Estamos Juntos” atenda 1.000 pessoas até março de 2025.

 



 


Trabalho e moradia

 

De acordo com o último Censo da População de Rua de Belo Horizonte, realizado em 2022 pela PBH em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a capital mineira tem 5.344 pessoas nesta condição. Entre os entrevistados pelo censo, 91% dizem querer sair das ruas, mas a falta de moradia e de acesso a um trabalho tem sido o principal obstáculo para a maioria (55%). A proposta é tratar destas duas frentes.

 


A parte de formação, composta por 80 horas, aborda tópicos como linguagem e comunicação, educação financeira, inclusão digital, empreendedorismo e desenvolvimento profissional. Em seguida, os alunos tem a oportunidade de fazer uma espécie de estágio em órgãos da prefeitura e, com isso, ganham uma bolsa-auxílio de R$ 540 durante seis meses, além de vale-transporte. Depois de formados, os participantes são encaminhados para entrevistas de emprego e, ao serem contratados, seguem sendo acompanhados por quatro meses e são inscritos em programas de moradia.

 


O formando Jorge Comper, de 44 anos, conta que conheceu o programa após ser contemplado pelo Bolsa Moradia, política municipal voltada, entre vários públicos, para famílias e pessoas em situação de rua. Em 2022, cerca de 2 mil famílias sem casa, morando na rua ou em viadutos, receberam o benefício. “Eu fui na Urbel (Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte) e lá me falaram sobre esse curso, onde você se forma para o mercado de trabalho. Aí eu pensei ‘legal, agora que eu vou ter uma casa, onde eu vou poder guardar minhas coisas, eu vou conseguir frequentar um curso e, posteriormente, conseguir um emprego’”, relata.

 


O aluno, que tem curso em licenciatura, diz que a formação do Estamos Juntos o deixou bastante motivado, e que pretende tentar trabalho na área escolar. “Também penso em arrumar um emprego na área de auxiliar administrativo, que era onde eu atuava antes de ir pra rua", explica.


Teoria e prática

 

O primeiro momento do curso é composto por aulas voltadas para a formação pessoal e psicológica dos alunos - e esta etapa é a mais transformadora para os formandos que conversaram com a reportagem. “Essa formação causou um despertar muito sincero em mim. Eu descobri dons que eu sabia. Descobri talentos que, se eu desenvolver, tanto na minha vida quanto na área de trabalho, vai ter um significado muito grande pra mim”, conta Samanta Alves Pinto de Souza, de 39 anos. Ela conseguiu se formar na segunda vez que participou do programa - na primeira tentativa acabou desistindo devido a uma recaída.

 


Atualmente morando no abrigo de uma ONG que ajuda mulheres em situação de rua, Samanta, que é formada em técnica de enfermagem, diz se sentir confiante para conseguiu um emprego com o diploma em mãos. “Eu gostaria muito de trabalhar, principalmente, com mulheres que estão em situação de vulnerabilidade, como eu me encontrei. Eu tenho que me desenvolver ainda, eu estou nesse processo, mas eu quero trabalhar ajudando pessoas assim como eu fui ajudada”, diz.

 


Além do aspecto socioemocional, o curso também motiva os alunos a recuperarem comportamentos esperados para um ambiente de trabalho, como disciplina e respeito à hierarquia. É o que explica Luiz Otávio Fonseca, subsecretário de trabalho e emprego da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Ele faz um convite para que as empresas, parceiras ou não da prefeitura, abram as portas para os alunos do Estamos Juntos. “O momento agora é de levar [os formados] para o mercado de trabalho com uma chancela da prefeitura. Eles ficaram dentro de espaços nossos, cumpriram o horário, foram lá trabalhar e obedeceram hierarquias”, diz.


Como participar?

 

O processo de recrutamento para o Estamos Juntos é feito pela Secretaria de Assistência Social, que oferece o programa para pessoas em situação de rua ou que morem em abrigos. Em seu discurso, Fuad Noman fez um apelo para que os formados pelo programa estimulem seus colegas a participarem. Segundo o prefeito, a secretaria tem tido dificuldade para preencher as vagas. “Essas pessoas que estão formando acabam sendo grandes indutoras de estímulo para outras pessoas virem para cá”, diz.

 


Já o programa Bolsa Moradia, que atende também famílias removidas devido a obras públicas, famílias vítimas de calamidade e as que residam em habitação precária ou irregular, recebe encaminhados pela Urbel e pela Subsecretaria de Assistência Social.

 


As empresas que aderem ao Estamos Juntos, oferecendo vagas de emprego e qualificação profissional, recebem o selo de responsabilidade social da prefeitura e ganham condições especiais ao renegociar dívidas com o município. Atualmente, são mais de 30 empresas parceiras. Aquelas que tiverem interesse em conhecer o programa podem entrar em contato pelo e-mail estamosjuntos@pbh.gov.br ou pelo telefone (31) 3277-6375. n

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