Quase 95% das crianças menores de um ano em Minas Gerais foram vacinadas contra poliomielite no ano passado. O número de crianças não vacinadas contra a doença no estado caiu pela metade em 2023 na comparação com o ano anterior, aponta pesquisa divulgada nesta terça-feira (23/4) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Apesar disso, Minas ainda tem mais de 11 mil crianças desprotegidas, a maioria em situação de vulnerabilidade.

 

O levantamento, realizado com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que, em 2023 nasceram 215.756 mil no estado e foram aplicadas 204.651 mil de primeiras doses da Pólio (VIP) – o que significa que 11,1 mil crianças não receberam a primeira dose contra a grave doença, que pode levar à paralisia de membros e à morte, ante a 22,6 mil que deixaram de ser imunizados em 2022.

 

Os dados, na avaliação do Unicef, mostram uma retomada da vacinação no país depois de grupos antivacina darem eco a desconfiança sobre a campanha de imunização na pandemia. “Se compararmos 2022 e 2023, a diferença é de mais de 90 mil crianças vacinadas no Brasil. É uma diferença expressiva”, afirma Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil.

 

As crianças não vacinadas, em grande maioria, são aquelas em situação de vulnerabilidade. “A vacina é um ponto de entrada para os demais serviços de proteção social. São crianças cercadas de vulnerabilidades, vivendo em alguma dimensão de pobreza ou em privação de outros direitos, ou seja, é uma complexidade de privações que essas crianças experimentam”, aponta.

 

Hoje, o esquema vacinal contra a poliomielite inclui as três primeiras doses aos 2, 4 e 6 meses de idade, por injeção. As famosas gotinhas (vacina oral bivalente) fazem parte da caderneta de reforço da proteção, administrada quando a criança completa 1 ano e 3 meses (15 meses) e, depois, aos 4 anos.

 



Cenário brasileiro

 

No país, o número de crianças menores de um ano que não receberam nenhuma dose da vacina caiu de 243 mil em 2022 para 152,5 mil no ano passado. “Nós celebramos, mas com a consciência do muito que temos a avançar. É uma virada com muita luta”, ressaltou a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade Lima.

 

Erradicada há mais de 30 anos no Brasil, a cobertura vacinal da poliomielite apresenta queda desde 2015. A doença afeta especialmente crianças de até 5 anos. Hoje, as imagens de crianças em cadeiras de rodas ou com deformidades no corpo, uma das consequências da poliomielite, parecem apenas um fantasma do passado, mas, segundo especialistas, a baixa cobertura vacinal reacende o sinal de alerta.

 

“O Unicef selecionou especificamente a vacina da pólio como marcador, ou seja, aquelas crianças que não tomaram a primeira dose da VIP. Por quê? A gente sabe que a pólio foi eliminada no Brasil em 1989, mas há um risco importante da reintrodução do vírus no país. Isso é significativo no contexto da saúde pública e também no contexto internacional. Há um risco importante da reintrodução do vírus da pólio no país. A situação de imunização no Brasil vem caindo há muito tempo, desde 2015”, afirma a chefe de saúde do Unicef no Brasil.

 

Novo esquema vacinal

 

No ano passado, o Ministério da Saúde anunciou a substituição gradual das famosas gotinhas (vacina oral poliomielite), aplicadas como reforço da vacina, pela versão inativada (VIP) do imunizante, que já é aplicada nas três primeiras fases da imunização. Agora, após um período de transição iniciado no primeiro semestre deste ano, as crianças brasileiras irão tomar apenas um reforço com a VIP (injetável) aos 15 meses.

 

Mesmo com a mudança gradativa para versão injetável, o Zé Gotinha, símbolo nacional da vacinação no Brasil, vai continuar na missão de sensibilizar as crianças em ações de imunização.

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