A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou na noite desta sexta-feira (26/4) que enviou um ofício à Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), responsável pela administração da UPA Centro-Sul, pedindo esclarecimentos sobre o atendimento que foi dispensado à Mariane Silva Torres, de 26 anos. A jovem morreu na última terça-feira (23/4). Ela chegou à unidade com dores no peito e nas pernas, mas o boletim de ocorrência atesta que o primeiro diagnóstico, feito mais de uma hora depois que Mariane chegou à UPA, foi de crise de ansiedade.

 

De acordo com a administração municipal, com o envio do ofício, a entidade vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) terá 72 horas para explicar à Secretaria Municipal de Saúde.

 

"A Fundep e a Secretaria Municipal de Saúde mantêm desde 2008 um convênio que tem por objeto a cooperação mútua para a melhoria do atendimento na unidade, envolvendo capacitação operacional no atendimento à população, por meio de complementação da formação acadêmica e profissional dos alunos, servidores docentes e técnicos da UFMG", informou a PBH.

 

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Nesta terça (30/4), a Fundação de Apoio da UFMG (Fundep) informou, em nota, que enviou à PBH todas as informações solicitadas sobre o caso da jovem Mariane Silva Torres. A fundação também esclareceu que a Comissão de Revisão de Óbitos da UPA vai apurar os fatos relacionados ao óbito da paciente e "deve incluir a análise do laudo pericial final do Instituto Médico Legal".

 

Entenda o caso

 

Mariane deu entrada na UPA Centro-Sul às 13h30 e, segundo informações relatadas ao namorado, que só conseguiu chegar mais tarde, adentrou o local gritando e foi colocada em uma cadeira de rodas. Ela se queixava de dores na perna e no peito.

 

Ao Estado de Minas, João Cláudio, namorado da jovem, disse que, mesmo após a medicação, as dores não cessaram e ela estava "agonizando". Após a morte, um exame apontou a possibilidade de uma trombose, que teria causado embolia pulmonar.

 



 

"Quando ela chegou, passou pela triagem e colocaram, após verem toda essa cena dela gritando e agonizando, a pulseira verde, que é de risco baixo", conta João.

 

Mais de uma hora depois de Mariane ter chegado, João, já no local e vendo a agonia da namorada, questionou a enfermeira, que fez a triagem onde estava o médico. Em resposta, a profissional de saúde afirmou que "quem está gritando assim não está sentindo dor".

Depois de mais um tempo de espera, Mariane foi atendida por uma médica que atestou que ela realmente não estava sentindo a perna esquerda, além das dores na perna direita e no peito. Após o exame, a especialista concluiu que a jovem estava tendo uma crise de ansiedade e receitou medicamentos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ela foi medicada por volta das 14h50.

 

"Voltei na primeira médica, falei que ela estava com muita dor e perguntei o que podia ser feito, já que o remédio não tinha tido efeito", disse João. Em resposta, a profissional teria falado que Mariane não estaria mais sob os seus cuidados.

Ele, no entanto, não encontrou a outra médica que supostamente teria assumido o atendimento. Enquanto isso, Mariane gritava e chorava. "Um médico passava a responsabilidade para o outro. Descaso total", desabafa João. Depois de um tempo, a jovem teria travado os punhos "como se estivesse tendo uma convulsão". Um médico da área de emergência a atendeu e constatou que ela estava sem sinais vitais, segundo o boletim de ocorrência.

A jovem foi levada para a sala de emergência onde manobras de ressuscitação foram realizadas por mais de uma hora, mas não resistiu. O óbito foi constatado às 18h01. Posteriormente, um aparelho de ultrassonografia detectou alta quantidade de líquido na região torácica da jovem.

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