A cada 15 quilômetros percorridos pelas 10 estradas federais mais violentas de Minas Gerais – as BRs 040, 050, 116, 153, 251, 262, 354, 356, 365 e 381 –, o motorista passa por um ponto concentrador de acidentes, onde ocorrem mais de cinco desastres, em média, em trecho de mil metros – uma distância equivalente a sair da Praça 7 até a Estação Vilarinho, em Belo Horizonte. É o que mostram os dados de ocorrências de desastres registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 2023 e compilados pela reportagem do Estado de Minas.

Onde há mais concentração de acidentes nas BRs de MG? Dados surpreendem


Ao todo, essas vias têm 370 quilômetros onde mais de cinco ocorrências foram registradas no período. A maior parte dos acidentes se deu na BR-381 (Fernão Dias), em Betim, na Grande BH, onde ficam seis dos 10 piores quilômetros nesse quesito. Já entre os 10 quilômetros mais mortais, três ficam na BR-040, outros três na BR-116.




Em 2023, a equipe de reportagem do EM mostrou que a curva do Km 509 da BR-251, em Francisco Sá, no Norte de Minas, foi o ponto mais violento das estradas mineiras, com nove mortes em quatro anos pesquisados, sendo a curva em descida forte do Km 528, da BR- 381, em Brumadinho, o mais violento da Grande BH, com sete óbitos no período. A nova pesquisa, mostra que, no ano passado, os mil metros mais mortais entre as rodovias federais em Minas estão no Km 525 da mesma BR-381, também na Serra de Igarapé, onde nove pessoas perderam a vida em 12 meses.

BR-135: da lama ao pó, conheça a rodovia do atraso no Norte de MG


O levantamento aponta que esse segmento mais mortal no estado é duplicado, pedagiado, com separação entre mãos de direção e registrou no ano de 2023 um total de 11 acidentes e 47 feridos. Boa parte dos acidentados estava a bordo do ônibus fretado por torcedores do Corinthians que foram ao Mineirão assistir a uma partida contra o Cruzeiro, em 20 de agosto de 2023, quando o veículo de transporte perdeu o controle nas curvas em forte descida e tombou depois de bater em um barranco, deixando sete mortos e 36 feridos.

Moradores de cidade mineira temem queda de poste na BR-135


O sentido São Paulo da BR-381 registrou todos os acidentes com mortes no Km 525. O segmento se inicia depois de uma forte descida de cinco quilômetros pela Serra de Igarapé. Um teste para o sistema de freios e habilidades de controle a freio motor, sobretudo para condutores de veículos pesados. Em 130 metros se chega à ponte sobre o Córrego dos Queias e em 300 metros, à curva que motorista do ônibus com torcedores, já sem freios, tentou contornar, batendo forte no barranco, tombando e deslizando de lado pelo asfalto.


Segundo ocorrências registradas pelos policiais rodoviários federais, a maior parte dos acidentes no trecho foram tombamentos (quatro), seguido pelas saídas de pistas (três), demonstrando que os motoristas não conseguiram fazer as curvas fechadas. Dois fatores destacados nas anotações dos agentes da PRF ajudam a explicar os motivos: em cinco casos, a velocidade desenvolvida pelos motoristas estava acima do limite para o trecho e em três ocorreram problemas com os freios, um indicativo de falhas de manutenção.


Os dois pontos mais mortais na sequência tiveram quase metade das vítimas, registrando cinco mortes cada um, ambos na BR-116. O segundo pior quilômetro do estado fica em Manhuaçu, na Zona da Mata, no Km 581, parte de um sistema de retas após sequência de curvas, pista única com sinalização para ultrapassagem no sentido Rio de Janeiro, mas que corta área de grande circulação local de veículos. Dois dos acidentes foram atropelamentos, mas o desastre com mais vítimas ocorreu, segundo a PRF, devido ao motorista ter dormido e batido de frente em outro veículo, causando quatro mortes.


Já o terceiro pior segmento de mil metros, também na BR-116, fica em Muriaé, mesma região, altura do Km 715, onde cinco pessoas morreram e 20 se feriram em seis acidentes. O local é uma reta de 450 metros, depois de uma sequência de curvas e pouca visibilidade para ultrapassagens. Nesse ponto, cinco acidentes tiveram como causa principal o excesso de velocidade, segundo a PRF. Os agentes também registraram que em três desastres ocorreram saídas de pista e, em outros três, batidas de frente com veículos que trafegavam em sentido oposto.


O Km 603 da BR-040, o quarto mais mortal de Minas Gerais, fica em Congonhas, na Região Central do estado, no povoado de Pires. Trata-se de uma forte descida em curva. Dos oito acidentes, seis ocorreram por acessos à pista feito de forma irregular, proibida ou displicente, a partir do povoado ou das mineradoras próximas, matando quatro pessoas e deixando 12 feridas.

 

O risco ao trafegar pela Grande BH

A Região Metropolitana de BH concentra 80% dos 10 trechos de um quilômetro onde mais ocorreram acidentes nas rodovias federais mineiras em 2023, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Desses, os três com mais batidas e atropelamentos ocorreram em Betim, na BR-381 (Rodovia Fernão Dias), também responsável pelo 7º, 8º e 10º segmentos de mil metros com mais acidentes. A BR-040, em Ribeirão das Neves, tem a 4ª e a 6ª marcas mais violentas dessa estatística.


Para se ter uma ideia de quão perigoso é circular nesses trechos, o pior deles, o Km 485, em Betim, registrou 37 acidentes em um ano, deixando uma pessoa morta e ferindo 44. Foi como se a cada 27 metros, um acidente ocorresse, em média, ao longo do ano.


Se considerados somente os seis quilômetros de Betim que figuram entre os 10 mais violentos, seriam 192 acidentes em seis quilômetros, média de uma batida, atropelamento, capotagem ou saída de pista a cada 32 metros. Eles formam praticamente uma sequência, compreendendo os Kms 484, 485, 486, 489, 490 e 492, percurso que vai desde a altura da Refinaria Gabriel Passos (Regap), passando pela fábrica da Fiat, bairros PTB e Jardim Petrópolis, até o trevo entre o Centro e o Bairro Jardim Casa Branca.


Muitas indústrias, muitos problemas

Por ser um dos mais importantes corredores do estado, em trecho repleto de indústrias e de entrepostos logísticos, mas também com acessos locais e regionais, o percurso tem características próprias e acidentes em situações diferentes dos normalmente reportados em estradas de alta velocidade e tráfego mais fluido.


São 11 quilômetros de trânsito intenso, onde ao todo 254 acidentes foram registrados em 2023. Um corredor de tráfego consistente de transporte de cargas pesadas com destinos locais, regionais, intermunicipais e interestaduais.


Um percurso que, apesar de recordista de acidentes, pode ser considerado espaçoso, uma vez que 60% do trecho é de via duplicada, 34% de múltiplas faixas (mais do que duas) e apenas 5,1% nas marginais de uma faixa. Contudo, o histórico de engarrafamentos e tráfego lento, principalmente nos horários de pico, dá uma dimensão do volume de tráfego que esse trecho comporta.


Disputa por espaço em pistas duplas

Espaço e visibilidade não são garantias de prevenção de acidentes nesse segmento da Rodovia Fernão Dias em Betim, uma vez que a maioria das ocorrências registradas pela PRF em 2023 se deu em retas, somando 131 ocorrências (52%), enquanto 23 (9%) foram em retas nas descidas e 21 (8%) se deram em retas nas subidas.


Os tipos de acidentes mais frequentes evidenciam uma disputa por espaços escassos nas faixas de rodagem ocupadas. Entre as ocorrências mais frequentes, os policiais rodoviários federais registraram 62 colisões traseiras (24%), 53 colisões laterais entre veículos de mesmo sentido (21%), 35 tombamentos (14%) e 21 engavetamentos (8%), em que mais de dois veículos se envolveram, muitas vezes por não manter distâncias de segurança adequadas.


Outra característica do corredor de escoamento de cargas é que 35 (14%) dos acidentes ocorreram devido a colisões com objetos, sendo boa parte fragmentos ou partes de cargas que eram transportadas e caíram no pavimento, além de peças e até partes de veículos, como pneus capazes de provocar batidas graves no caso de caminhões e carretas.


As ocorrências descritas pelos policiais rodoviários federais também dão uma ideia de ações ou da falta de atitudes que levaram os condutores a se envolver nos acidentes nesse trecho da Fernão Dias em Betim. Dos acidentes com causas apuradas, 64 (25%) ocorreram devido à falta de reação do condutor; outros 35 (14%) ocorreram depois de manobras de mudança de faixas mal executadas; e 27 (11%) estavam relacionados a reações tardias ou ineficientes dos condutores

 

O que mostram as estatísticas

Para mostrar quais os segmentos mais violentos das estradas mineiras, a equipe de reportagem do Estado de Minas foi orientada por especialistas a separar as vias por quilômetro, considerando os trechos com mais de cinco ocorrências de acidentes, contagem considerada em trabalhos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-MG) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). A partir dessa primeira filtragem, foram estabelecidos os quilômetros onde ocorrem mais mortes, aqueles em que acontecem mais acidentes e a concentração de quilômetros com mais desastres entre as BRs avaliadas.

compartilhe