O governo de Minas inaugurou, nesta segunda-feira (29/4), a Biofábrica Método Wolbachia, no Bairro Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte. A estrutura vai produzir mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, uma bactéria que impede o desenvolvimento dos vírus da dengue e de outras arboviroses como zika, chikungunya e febre amarela.

 

O equipamento será administrado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e pela Fiocruz. A previsão é de que a operação comece até janeiro de 2025. A estimativa é da produção semanal de 2,5 milhões de mosquitos. Quando inseridos no meio ambiente, eles vão se reproduzir com os Aedes aegypti locais e estabelecer uma população com a bactéria, que impede que os vírus se desenvolvam. Isso contribui para a redução da transmissão dessas arboviroses.

 

O evento contou com representantes do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Ministério Público Federal (MPF) e Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG), além do Ministério da Saúde e do World Mosquito Program (WMP) Brasil/Fiocruz.

 

Etapas da operação

O recurso para construção da biofábrica faz parte do Acordo Judicial firmado com a Vale, em razão dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019. A mineradora também vai custear as operações da estrutura por cinco anos.

 

Além da placa de inauguração, foi feita uma em homenagem aos 272 mortos pelo rompimento da barragem. Representantes da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum) também estiveram presentes ao evento e participaram da homenagem.

 



As obras começaram em fevereiro de 2023. As instalações contam com laboratórios e espaços para o setor administrativo. Pelo termo de compromisso, na primeira fase do projeto, os mosquitos com a bactéria serão soltos, com a concordância da população, em Brumadinho e em outros 21 municípios vinculados à Bacia do Rio Paraopeba (Betim, Cachoeira da Prata, Caetanópolis, Curvelo, Esmeraldas, Felixlândia, Florestal, Fortuna de Minas, Ibirité, Igarapé, Juatuba, Maravilhas, Mário Campos, Papagaios, Pará de Minas, Paraopeba, Pequi, Pompéu, São Joaquim de Bicas, São José da Varginha e Três Marias).

 

A expectativa da SES-MG é que, posteriormente, ocorra a expansão da produção de mosquitos para todo o estado. Com a conclusão das obras, agora começam as tratativas de obtenção das licenças obrigatórias para funcionamento e a revisão de contratos com a Fiocruz, responsável por conduzir no Brasil a execução de projetos que utilizam o Método Wolbachia, patenteado pelo WMP.

 

Como funciona?

O método consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os mosquitos locais estabelecendo, aos poucos, uma nova população destes insetos, todos com Wolbachia. A bactéria é um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas não no Aedes aegypti. Quando presente nestes mosquitos, ela impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças.

 

Quando são liberados no ambiente, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com mosquitos presentes na natureza e ajudam a criar uma nova geração de insetos com a bactéria. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos que carregam o microrganismo aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.

 

A representante da WMP Brasil, Ana Carolina Rabelo, explicou que a biofábrica tem capacidade para produzir o ciclo completo, da produção de ovos ao mosquito adulto. “Faremos a produção e montagem dos tubos que são levados até as cidades para a liberação na natureza. Lembrando que não há nenhum processo de modificação genética. O método é seguro, eficaz e natural.”

 

Ela lembra que a comprovação de eficácia do método já ocorreu no Brasil e em outros países. A iniciativa está em 14 países. “Niterói (na Região Metropolitana do Rio de Janeiro) foi a primeira cidade 100% coberta com o método. Temos publicados resultados dessa implementação do método com mais de 70% de redução dos casos de dengue na cidade, 60% dos de chikungunya e 40% de zika. O ciclo de vida do mosquito é de 35 dias. A liberação é feita de forma gradual, durante cerca de 20 semanas. Além dos mosquitos adultos, haverá também liberação de ovos”.

 

Ações para eliminar epidemias

O secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, disse que é preciso ações que se somam às já estabelecidas para eliminar epidemias de dengue como a deste ano.

 

“Estamos no pior ano da nossa história de dengue entregando uma arma muito importante. Evitar a dengue jamais terá uma forma única, é o somatório e essa biofábrica vai ser a de maior capacidade produtiva do país.”

 

Segundo Baccheretti, a expectativa é de que, na próxima semana, haja uma reunião para tratar do início da operação e da ampliação da capacidade da biofábrica. Além de Minas, o secretário diz esperar que a estrutura atenda outras partes do Brasil e até de outros países da América.

 

“Que, no médio prazo, junto com a vacina e as outras intervenções, não tenhamos que falar mais sobre epidemia de dengue e que ela seja uma doença pouco importante no nosso dia a dia.” Baccheretti destacou ainda que o diferencial dessa estrutura é que ela é completa e capaz de produzir todo o ciclo do mosquito.

 

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, ressaltou que o equipamento é fruto de muita pesquisa. “Desde 2013, o Ministério da Saúde financia esse projeto”. Segundo ela, a pasta tem um plano de expansão para a biofábrica.

 

“Essa fábrica se integra à nossa estratégia da biofábrica do Rio de Janeiro e das que serão implantadas no Ceará e no Paraná. Elas fazem parte dessa estratégia do Brasil de mudança da população de mosquitos infectados com essa bactéria que diminui a transmissão. Agora com essa fábrica vamos poder ampliar o número de municípios que fazem parte dessa estratégia”.

 

O vice-presidente de produção e inovação em saúde da Fiocruz, Marco Aurélio Krieger, explicou que espera o início da produção para o próximo verão. “Essa é uma estratégia de médio e longo prazo. Não estamos falando em apagar um incêndio, mas de uma mudança significativa na transmissão de arboviroses”.

 

Krieger lembra que o projeto teve início no Brasil há 10 anos e agora o objetivo é ampliar a tecnologia para todo o país. “Nos primeiros dez anos protegemos três milhões de brasileiros. Esse ano, vamos proteger 1,5 milhão porque a fábrica que temos no Rio melhorou a tecnologia. Ano que vem, vamos passar para mais de quatro milhões de pessoas. A expectativa é que nos próximos dez anos, a gente consiga proteger 70 milhões de pessoas, que estão nos municípios brasileiros responsáveis por 80% dos casos de dengue, nos últimos 20 anos”.

 

Ele ressalta que há estudos mostrando uma diminuição de 80% da transmissão de dengue. “Em um segundo momento, essa diminuição tem números ainda menores”.

 

Insetário da PBH

Em Belo Horizonte, mosquitos com o mesmo método são produzidos no Insetário da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em parceria com WMP e a Fiocruz-Minas. De acordo com a PBH, o município é um dos pioneiros na implantação dessa tecnologia, e foi o primeiro do país a ter um insetário próprio, construído com recursos da administração municipal.

 

As solturas começaram em 2020, e somente em 2023 foram liberados mais de 31 milhões de mosquitos. Ainda de acordo com a PBH, eles são coletados periodicamente e enviados para triagem e análise nos laboratórios da Fiocruz, onde se avalia se estão com a Wolbachia.

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