Três pessoas resgatadas da carroceria de um caminhão ilhado na Grande Porto Alegre pela equipe do Coronel Ricardo Faria -  (crédito: PMMG)

Três pessoas resgatadas da carroceria de um caminhão ilhado na Grande Porto Alegre pela equipe do Coronel Ricardo Faria

crédito: PMMG

Um esforço para encontrar pessoas ilhadas sobre casas e veículos, vigilância para impedir saqueadores nos bairros submersos e até o resgate de militares gaúchos encurralados por bandidos. As missões encaradas pela equipe do coronel Ricardo Faria, comandante do helicóptero da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) Pégasus 22, no Rio Grande do Sul exigem grande versatilidade e comprometimento, sem falar no esforço de voar dia e noite com equipamento de visão noturna para ajudar as vítimas das inundações generalizadas.

 

É o que o militar do Comando da Aviação de Estado (COMAVE) contou para a reportagem do Estado de Minas minutos antes de decolar para mais uma missão de uma base em Porto Alegre. De acordo com ele, somente os helicópteros conseguem chegar a todos os pontos de resgate ou de entrega de suprimentos, tendo os barcos também um papel fundamental, mas sendo incapazes de chegar a áreas mais remotas.

 

"Estamos fazendo voos de resgate. Ainda há pessoas em locais alagados que precisam de resgate. Apesar de que de ontem (segunda-feira) para hoje (terça) já diminuiu muito. Os resgates das pessoas em áreas alagadas estão sendo feitos de helicóptero e de barcos. Onde os barcos não conseguem chegar e está sendo mais difícil (o resgate) está sendo feito de helicóptero", afirma o militar.

 

De acordo com a avaliação dele, uma das zonas prioritárias é no Bairro Eldorado, já evacuado por boa parte da população, mas ainda com a presença de pessoas ilhadas. "Muita gente que saiu de lá está ficando na rodovia, e a gente, tentando tirar o pessoal de lá. Ontem, tinha uma grávida na rodovia, nós a resgatamos e a tiramos de lá para o hospital. Tinha um idoso fazendo tratamento oncológico (contra o câncer), o levamos para o hospital também", conta o coronel Faria.

 

Um dos momentos mais tensos foi enfrentar a criminalidade contra gangues armadas que invadem residências evacuadas para roubar e enfrentam as forças policiais que estão enfraquecidas uma vez que se voltaram para a operação de socorro às vítimas. "Tivemos de resgatar militares do Batalhão de Polícia de Choque do Rio Grande do Sul que estavam em um prédio ocupado por criminosos, e a situação não estava legal em termos de segurança pública. A gente tirou eles de lá com óculos de visão noturna em um voo para evacuação noturna."

 

 

 

"Tem bairros que estão debaixo d'água, e, mesmo assim, marginais estão entrando nas casas para roubar. Está sendo preciso então fazer patrulhamento preventivo de segurança pública também. E está sutrindo efeito. E a gente está conseguindo trazer ordem para a população de bem também", destaca o coronel da PMMG.

 

Na questão humanitária o suprimento e os socorros ocorrem a todo momento. "Levamos medicamentos para as cidades, porpoximas, alimentos, e esse tipo de missão é igual a todos, há várias aeronaves aqui. Tudo na região metropolitana de Porto Alegre: Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo", afirma.

 

 

Óculos de visão noturna da PMMG permite voar à noite, resgatar vítimas e até equipes policiais combatendo saqueadores

Óculos de visão noturna da PMMG permite voar à noite, resgatar vítimas e até equipes policiais combatendo saqueadores

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"Temos de salientar que a aviação de asas rotativas e o emprego de helicópteros aqui é primordial. Você consegue chegar a qualquer lugar e resgatar pessoas, levar alimentos, remédios, trazer feridos, resgatar a tropa. O emprego de helicóptero é essencial. Os pilotos de aviões de Minas Gerais para Caxias do Sul também está ajudando muito com o transporte de alimentos, água e algo fundamental: a tecnologia. As antenas Starlink (de internet via satélite) para restabelecer a conexão e possibilitar a comunicação. Os aviões trazem material, e os helicópteros realizam as missões de resgate", descreve.

 

"A questão da segurança pública em uma área tão abrangente de catástrofe é fundamental. Em Brumadinho, por exemplo, como havia acesso rodoviário às casas de bairros atingidos ou em áreas críticas, a PMMG pode garantir a lei e a ordem e impedir a ação de saqueadores. Em Porto Alegre, o que vemos é que os recursos policiais estão totalmente voltados aos resgates, e, com isso, a chegada de helicópteros de outros estados acaba atuando no controle da segurança pública", avalia o coronel Carlos Júnior, especialista em Segurança de Estado e que foi subcomandante da aviação da PMMG no desastre de Brumadinho.

 

O movimento de solidariedade da aviação particular também vem aumentando sua participação a cada dia, segundo o presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros (Abraphe), Thales Pereira. "A ajuda de pilotos e donos de aeronaves de asas rotativas vem aumentando a cada dia, mostrando sua força, apoiando resgates, transportes de água potável e alimentos, que é uma grande urgência", afirma.


Segundo Pereira, são quase 30 helicópteros da aviação privada servindo ao estado e coordenados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul. O presidente da Abraphe destacou a importância de apoio da Agência Nacional de Avialção Civil (Anac). "O órgãos e as Forças Armadas reconheceram a necessidade humanitária dos helicópteros da aviação civil, e isso é importante para que ocorram decolagens de pistas não homologadas, transportes de passageiros sem todas as acomodações possíveis que são a característica emergencial da operação. Com isso, não ocorrerá punição aos pilotos se estiverem coordenados coma defesa civil e sem o recebimento monetário", explica. 

 

"O sentido de Brasil na missão do Rio Grande do Sul possibilitou a solidariedade de vários setores, sabendo que ninguém pode esperar, ainda mais porque há previsão de mais chuvas e, com isso, a situação ainda pode ficar mais crítica", observa o coronel Carlos Júnior.

 

Cenários de destruição com bairros submersos na Grande Porto Alegre são os lugares onde a PMMG opera

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Para que os helicópteros continuem operando, foi preciso uma grande rede de manutenção espalhada em pontos estratégicos e fomentada pelas empresas especializadas que se sensibilizaram, afirma o militar. "Empresas como a Airbus/Helibras, HBR manutenção e HeliSul colocaram no terreno uma equipe itinerante com pilotos, inspetor de manutenção e mecânicos, além de peças que são todas importadas. depois de 10 horas de voo uma aeronave precisa ter manutenção. Em Brumadinho, a tripulação saía quando caía a noite e os mecânicos entravam. Há manutenções preventivas, programadas e obrigatórias que tem de ser feitas", destaca o coronel Carlos Júnior.


"Mas nada disso pode deixar de lado o fator humano. O estresse que os pilotos, tripulantes e autoridades têm em jornadas extenuantes e provavelmente com baixo revezamento deve ser tratado com extrema habilidade por uma pessoa que precisa tomar decisões das quais dependem sua vida a das vítimas, da equipe e o equipamento. Pilotos, bombeiros, policiais e socorristas são um investimento de anos. Mas sob tanta pressão e adrenalina perdem a qualidade e quantidade do sono durante e depois das missões", salienta o militar.