REJANE BOAVENTURA COM A GRANDE FAMÍLIA, FORMADA POR SEIS FILHOS E TRÊS netos, A DONA DE CASA DRIBLA AS DIFICULDADES COM AMOR E COMPREENSÃO. "SÓ PEÇO A DEUS QUE ELES SEJAM DIGNOS", DIZ -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

REJANE BOAVENTURA COM A GRANDE FAMÍLIA, FORMADA POR SEIS FILHOS E TRÊS netos, A DONA DE CASA DRIBLA AS DIFICULDADES COM AMOR E COMPREENSÃO. "SÓ PEÇO A DEUS QUE ELES SEJAM DIGNOS", DIZ

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press


Em tempo de famílias cada vez menores, com no máximo dois filhos, há mulheres que se orgulham de ver a casa cheia, com o movimento da criançada ocupando todos os espaços – ainda mais neste Dia das Mães, em torno da mesa do almoço para celebrar a data. Feliz da vida, a dona de casa Rejane Auxiliadora Boaventura, de 45 anos, não se preocupa se dizem que está na contramão do mundo: “Tenho seis filhos, três netos. Eu me sinto completa, mesmo com todas as dificuldades.”


Aos 36 anos, mãe de Ingrid, Pedro, Cléber e Matheus, Vânia dos Santos Miranda agradece a Deus pela prole, põe fé no futuro dos filhos e enaltece o amor tamanho família: “Cada conquista deles é também minha”. Já a médica Carolina Flores Tavares Braga, de 44, mãe de um jovem, de duas adolescentes e de um menino de 10, também se mostra plena diante dos desafios de conciliar trabalho e família. “Estar com os filhos é um grande prazer”, ressalta.


Nada pode ser mais bonito para Rejane do que um bebê sugando o leite materno. “Ao final, a criança olha para a gente como se estivesse agradecendo o alimento, é um momento sagrado”, diz a moradora de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que, neste domingo, está de braços abertos para receber o carinho dos seis filhos e três netos. Neste tempo em que as famílias estão cada vez menores, Rejane conta que, se pudesse, aumentaria a prole. “As dificuldades são muitas, a luta diária traz desafios, mas tudo vale a pena pelo amor à vida. Cada instante junto às crianças, do parto à idade adulta, só me traz alegria”.


Dificuldade não é palavra desconhecida para Rejane, cuja jornada começa bem cedo, quando os galos da vizinhança estão cantando e anunciando um novo dia. “É preciso força e coragem para levantar da cama e cuidar de tudo. Meus filhos sempre me ajudaram, são meu apoio. A segunda filha, Stefany, de 27, é especial, tem paralisia cerebral, então o cuidado é dobrado. Ainda não fiz a laqueadura, porque não tenho com quem deixá-la”, explica ao passar as mãos pelos cabelos da filha e contemplar com doçura seu rosto. Durante a pandemia, Rejane sofreu um aborto espontâneo (nove semanas de gestação) e se entristece com a perda. “Com esse, seriam sete filhos. Meu caçula ficou abalado durante a gravidez, ficava passando a mão na minha barriga.”

 


Com quatro filhos do primeiro relacionamento e dois do segundo, Rejane mora com Stefany, Rayane, de 10 e Davi, de 5, em casa própria. A primogênita Flaviana, de 28, é casada e mãe de Camilly, de 11, e de Rhuan, de 6, enquanto Vitória, de 22, tem o Gael, de apenas sete meses. Fábio, de 24, é solteiro. Nos momentos em que pode sair de casa, a mamãe vende título de capitalização, o que garante uma renda extra. “Por ser especial, minha filha tem direito a aposentadoria, e ainda recebo a pensão alimentícia. Vamos tocando o barco, com um aperto aqui, outro ali. Às vezes, dá para comprar um biscoito, algo melhor, porque criança gosta, né?”.


Neste domingo, Rejane vai preparar um almoço para reunir a família, e se orgulha do seu tempero. “Todos elogiam minha comida. Acho que é a mistura das culturas baiana e mineira”, conta a mulher, nascida em Salvador (BA) e criada desde os primeiros meses em Santa Luzia. Sob a mangueira do quintal, a mamãe ouve as palavras do caçula Davi e se emociona: “Ela é um anjo!” Com o filho Gael no colo, Vitória acrescenta: “Minha mãe sempre nos apoia, está disposta a ouvir, a aconselhar”. Já Flaviana pensa em ter mais um filho, mas não tantos. “Família grande é sempre bom, pois a gente nunca está sozinha”.


Ouvindo os comentários, Rejane está certa de que o tempo traz mudanças. “Engravidei pela primeira vez muito nova, quase adolescente. Se fosse hoje, acho que esperaria mais um tempo para ser mãe. Mesmo assim, não me arrependo de nada. E só peço a Deus para que meus filhos sejam sempre dignos. Não crio meus filhos para o mundo...na verdade, preparo cada um deles para viver no mundo. A função da mãe é dar carinho, amor, compreensão, educação e, nos primeiros tempos, o leite que alimenta”.


Amor pelos filhos conduz a luta diária pela vida 

 

No mundo atual, uma mulher com mais de quatro filhos vai se tornando raridade, uma situação atípica, conforme especialistas – no Brasil, segundo dados do IBGE, a natalidade caiu pela quarta vez consecutiva – em 2022, nasceram 2,5 milhões de bebês, o menor número já registrado (em 2000, foram 4,1 milhões). A taxa de fecundidade (média de filhos por mulher em idade reprodutiva – de 15 a 49 anos) está em torno de 1,7, e Minas Gerais segue a tendência. Especialistas dizem que o problema é estrutural, do qual a questão econômica é apenas um dos pilares.


Na realidade do dia a dia, a frieza dos números vai se diluindo para ganhar corpo, alma e voz. Belo-horizontina residente no município vizinho de Ibirité, Vânia dos Santos Miranda, de 36, conta que sempre se virou do avesso para cuidar dos quatro filhos: Ingrid, de 21, Pedro Henrique, de 18, e Cléber Vinícius, de 15, do primeiro relacionamento, além de Matheus, de 3, do segundo. “Eles são o que tenho de melhor na vida, agradeço a Deus todos os dias. Fui mãe muito nova, ainda adolescente, faltava conhecimento, orientação, informações sobre os métodos contraceptivos. Saí de casa, na Região do Barreiro (em BH), para morar com uma tia em Ibirité, depois fui morar com o pai dos meninos”.


Encarregada do serviço de higienização no hospital da Santa Casa, na capital, Vânia, que é solteira, reserva quatro horas do dia para a ida ao trabalho e a volta para casa. Sabe que a vida é batalha diária, mas não se intimida. “Só de pensar nos meus filhos, que posso lhes dar educação, carinho, comida e um futuro, fico aliviada. Nada é fácil, precisamos enfrentar”, crê a mamãe, que, ao olhar no retrovisor do tempo, lembra dos momentos de graves dificuldades financeiras. Hoje, a Ingrid e o Pedro Henrique trabalham, podem me ajudar, e cada conquista deles é também minha.”


Declarando-se extremamente religiosa, a moradora de Ibirité acredita que “Deus dá o que a gente precisa”, e que “as crianças são uma proposta Dele”. Ao longo de quase duas décadas, “houve momentos em que não conseguiria viver se não fossem meus filhos. Fiquei gravemente doente aos 17, e sobrevivi pelo amor a eles. A cada dia, aprendo mais com os quatro, e sei que o Dia das Mães é todo dia. Eles reconhecem o esforço e fico feliz e agradecida”.


Convívio para garantir educação e bons valores 

 

Na capital, a força para estar de pé e iniciar um novo dia, conciliando vida profissional e familiar, move os dias da obstetra Carolina Flores Tavares Braga, de 44, mãe de Lucas, de 24, Manuela, de 14, Maria Eduarda, de 13 e Eduardo, de 10, e casada com o também médico Carlos Leonardo Malta Braga. Neste domingo, a família estará reunida em Belo Horizonte, onde mora, e Carolina reafirma seu maior desejo: que os filhos sejam felizes, respeitosos, bem-sucedidos onde quer que estejam. “A gente precisa fazer o que gosta, e, assim, ter prazer ao levantar de manhã para cumprir as tarefas, desempenhar o trabalho. Que nossos filhos contem sempre conosco, pois os pais são sempre nosso porto seguro.”


Ter uma família grande nunca esteve nos planos de Carolina, que só tem um irmão. “Então, imaginava que só teria dois filhos, como os meus pais, mas, aos 20 anos, nasceu o Lucas, fruto de outro relacionamento, antes do meu casamento. Quando comecei a estudar medicina, o bebê tinha cinco meses, e, na faculdade, conheci meu marido, que revelou o desejo de ter três filhos”, conta a obstetra. Em 2013, nasceu o caçula Eduardo, o mais planejado. “Era um sonho do meu marido ter um filho com esse nome. Como antes vieram duas meninas, e ainda não sabia se teríamos quatro filhos, demos à terceira o nome de Maria Eduarda”.


Conciliar trabalho e criação dos filhos demanda desafios, e Carolina os encarou desde cedo. “Minha profissão precisa de muita dedicação desde a faculdade, pois, nesse período, é horário integral, uma fase intensa de estudos. Então, durante as aulas, prestava atenção ao máximo, sentava na frente, copiava tudo, pois sabia que, ao chegar em casa, meu tempo era para cuidar do Lucas. Morava sozinha com o bebê, pois meus pais são do interior.” Depois, com a chegada dos outros filhos, o casal se dividiu nos compromissos e contou com uma rede de apoio de funcionários, por não ter parentes na capital.


“A companhia dos filhos é muito valiosa, e vimos isso, de forma mais clara, na pandemia, com todas as dificuldades”, afirma Carolina, lembrando que os filhos, com o tempo, foram criando uma certa independência para realizar as tarefas. “Faço das tripas coração para ficar junto, estar presente nas reuniões, ter tempo de qualidade com eles nos finais de semana, passar valores de confiança e respeito ao próximo. Abrir mão de alguns prazeres vale a pena para curtir os filhos”, diz Carolina, certa de que, se a vida começa dentro de casa, a educação está na base de tudo.