Uma das maiores empresas de transporte de Minas Gerais, a Viação Pássaro Verde está sendo alvo de reclamações dos consumidores pelos constantes atrasos nas viagens pelo estado. Uma das muitas pessoas afetadas é a agente administrativa Izabel Vieira, que durante toda a vida viajou nos ônibus da empresa. Ela relata que até há pouco tempo nunca havia tido problemas com a viação, mas o cenário vem mudando e os transtornos estão se tornando recorrentes.
“Neste fim de semana, um ônibus que deveria ter saído da Rodoviária de BH, às 14h30, com destino a Ouro Preto, atrasou muito. Até 15h30 ainda não havia passado na Avenida Afonso Pena, fazendo com que os passageiros que aguardavam em pé no local ficassem desorientados sem saber se o ônibus sairia da Rodoviária ou não, se o horário seria ou não cancelado”, relembra.
Izabel mora em Ubá, cidade da Zona da Mata mineira, e compartilha que apenas a Pássaro Verde faz rota por lá. Ou seja, ela não tendo outra opção. Ela diz que os casos de atrasos são recorrentes e cita um exemplo da vez em que perdeu um ônibus para a cidade onde mora. “A viagem atrasou muito. O ônibus só chegou à rodoviária de Rio Pomba às 22h, fazendo com que eu perdesse outro ônibus com destino a Ubá, que sairia às 20h”, afirma.
Por causa dos atrasos, uma vez ela teve que dormir em um hotel de Coimbra, cidade da Zona da Mata, já que esperou por horas na rodoviária do município e o ônibus não chegou. “Liguei para o pessoal do guichê de Ubá e me avisaram que ele ia passar, que apenas estava atrasado. No final, o ônibus não passou, eram 23h em uma rodoviária vazia e tive que procurar um hotel”, destaca.
Ela acredita que os problemas estejam relacionados com a falta de veículos. “Os ônibus da empresa têm chegado com atraso à rodoviária de BH porque, segundo o relato dos próprios motoristas, está faltando ônibus em bom estado na empresa, além de não ter disponível na garagem. A grande parte da frota parece estar sucateada, pela quantidade de ônibus que 'quebra' no trajeto das viagens. Situação assim aconteceu com meu primo, jornalista da Marinha, que veio de Brasília para Ubá”, relata.
Ela desabafa dizendo que é uma falta de respeito porque quando vai para BH sempre tem compromisso marcado e, na maioria das vezes, chega atrasada. “O motorista tem que cobrar passagem, dar o troco, guardar a bagagem. O motorista faz tudo”, diz.
Mais reclamações
Outra passageira que teve problemas recentes com a Pássaro Verde é a professora Rita Lúcia Bastos que utiliza o transporte mensalmente na rota BH/Ouro Preto, onde mora. Ela afirma que já teve problema nesta rota umas seis ou sete vezes. “Eu tinha um compromisso na segunda-feira, às 14h30, comprei minha passagem para Belo Horizonte, com saída às 11h, mas saíram de Ouro Preto apenas às 13h. Resultado, cheguei lá e voltei”, conta.
Outra vez, a professora comprou uma passagem na Rodoviária para o caminho inverso, de BH para Ouro Preto, com saída às 19h30, e novamente atrasou. Somente duas horas depois, o ônibus partiu, às 21h25. “Falta o ônibus das 19h e eles vão remanejando, mas às vezes nem chega ônibus na plataforma”, diz.
As dores de cabeça são tantas que Rita começou a ir de táxi para BH com o objetivo de não perder os compromissos. Porém, ainda prefere voltar de ônibus para Ouro Preto. “Acho o transporte coletivo mais seguro, é melhor e acho que até para o meio ambiente é bom. Por isso, faço questão de ir de ônibus. Acontece que com compromisso ficamos insegura de ir de ônibus”, ressalta.
Assim como Izabel, a professora também acredita que os funcionários não têm culpa. “O pessoal que fica na rodoviária atende muito bem. Fica aquele tanto de gente perguntando que horas vêm e tudo mais. É uma situação muito complicada que eles lidam bem. Os motoristas da Pássaro Verde também. O último que veio me tratou muito bem. A questão toda é essa logística maluca da empresa”, destaca. Como solução, Rita sugere que se a empresa está tendo problema com a falta de passageiros, coloque apenas duas viagens no dia. Assim não vai iludir os clientes com horários que não vão ter ônibus.
A jornalista Vitória Dias Barbosa também utiliza os ônibus da Pássaro Verde com destino de BH para Ubá, onde vai visitar os pais. Ela confirma os relatos e diz que os atrasos têm acontecido com muita frequência, mas o que mais incomoda é a qualidade dos veículos. "Eu pago uma passagem em torno de R$ 109. Eu acho bem caro. E, mesmo com esse preço, a viagem demora horas. Uma viagem que faço de carro em 4h, de ônibus da Pássaro Verde a viagem dura 6h ou mais. De ônibus foi a viagem inteira com o ar-condicionado desligado, em um calor de 40°C. Além do ônibus sujo, com barata dentro", destaca.
Vitória afirma que certa vez o ônibus quebrou na metade do caminho e a solução dada aos passageiros foi pegar um ônibus de outra viação para chegar em BH. "De uma viagem que já demora 6h, neste dia demorou 8h. São casos muitos recorrentes. Na última vez que viajei com eles, mandaram outro ônibus porque o motorista passou mal. O ônibus que chegou era velho, horrível e em péssimas condições. Não paguei uma passagem cara para que o ônibus viesse desse jeito. Prezamos pela viagem segura, que acaba não sendo tão segura assim. Não é atoa que muitas pessoas acabam optando pelas caronas", relata.
Reclamações pela internet
As reclamações não param e é possível ver dezenas de pessoas insatisfeitas com o serviço prestado pela Pássaro Verde ao fazer uma busca rápida em sites de reclamações. Uma usuária relatou que, em 5 de maio, estava em BH retornando para Viçosa, cidade da Zona da Mata, e por falta de opção teria que usar o serviço da Pássaro Verde. Ela conta que o site modificou a data de viagem para o dia seguinte, sem qualquer notificação ao cliente. Assim, quando chegou ao guichê no dia 5, viu que a passagem era para 6 de maio. A atendente da empresa afirmou que isso tem acontecido com frequência. O prejuízo foi de R$ 89,66. Para piorar, estava com um bebê em meio a todo esse transtorno.
Então, como não poderia viajar no outro dia, a mãe teve que comprar duas passagens novas, totalizando R$ 187,74. O destino era para Ponte Nova, às 20h30. Ela afirma que esperou com o bebê até às 22h e nada do ônibus aparecer. “Mais uma vez pedi o cancelamento das passagens. No outro dia, fui eu de novo com minha bebê para a rodoviária tentar embarcar no ônibus das 6h30 para Viçosa, consegui as passagens e fiquei esperando o ônibus chegar. Devido a um para-brisa quebrado - fato que mostra o desleixo da empresa com as composições - o ônibus atrasou mais de 1 hora de novo”, reclama.
Outro usuário relembra que, em 10 de maio, comprou uma passagem de Belo Horizonte para Capelinha, município do Jequitinhonha Mineiro. A previsão para saída era às 21h, entretanto, até às 23h o ônibus não tinha chegado. Dois dias depois, ele realizou o trajeto de volta para a capital mineira. Retorno esse que começou com um problema de quebra de ônibus. Levaram o veículo para garagem do Pássaro Verde em Itabira, na Grande BH.
Lá o mecânico efetuou o reparo, mas após 10 minutos a mesma peça soltou do ônibus. A previsão é que eles chegariam em BH por volta das 5h, porém, só pisaram na capital mineira às 11h. “Desrespeito em todos os trajetos. Além disso, perdi uma reunião de fechamento de contrato de mais de 8 mil mensal", compartilha.
O que falam os responsáveis
Procurada pela reportagem, a Rodoviária de BH afirmou que a responsabilidade dos atrasos são da empresa que fornece as viagens. Assim, a Pássaro Verde também foi perguntada sobre a questão.
O gerente de unidade da empresa Breno Fonseca afirmou que o motivos dos atrasos estão ligados com as condição das vias. "As estradas com muitos buracos vêm danificando os veículos de forma muito agressiva (pneus, parte mecânica, lataria) e isso impacta quando os veículos chegam à garagem, pois precisam passar por uma manutenção intensa - algumas vezes, portanto, pode atrasar as partidas. Salientamos que a empresa está voltando todos os esforços para acabar com esses atrasos. Sempre, primeiramente, visando a segurança dos passageiros", disse Fonseca.
Número das reclamações
O Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) recebeu neste ano, de 1 de janeiro até 10 de maio, 24 reclamações sobre a linha que faz a operação Belo Horizonte – Ouro Preto. Já durante todo o ano passado, o número foi de 52.
De acordo com a DER-MG, as reclamações mais comuns contra a Pássaro Verde são referentes a descumprimento de quadro de horário, conservação, conforto e higiene dos veículos e defeito mecânico. O departamento afirma que realiza ações de fiscalização periódicas para apurar as reclamações dos usuários e já autuou a empresa para que os problemas sejam sanados.
Como reclamar
Para reclamações e sugestões sobre o transporte intermunicipal, o DER recomenda que o usuário entre em contato com a Ouvidoria Geral do Estado (OGE) ou pelo telefones 162 e WhatsApp (31) 3915-2022.