Fechado desde 2018, o icônico prédio que por 40 anos foi o Othon Palace Hotel terá um novo destino. Localizado no Centro de BH, o edifício será nomeado em referência ao endereço: “Afonso Pena 1.050” e passará por um retrofit, processo de restauração que preserva a arquitetura original e a adequa à legislação vigente. Apesar de ser um marco na história da hospitalidade na capital mineira, o prédio não será somente um hotel. O Afonso Pena 1.050 terá uso misto, ou seja, diferentes ocupações.
Entre as modalidades previstas estão quartos de hotel, apartamentos de um, dois ou três dormitórios para venda e flats, que, apesar de menores, são comuns para locação. Ao todo, o prédio tem 295 quartos, e a forma de divisão exata entre as ocupações ainda não está definida, assim como a gerência do hotel.
Além dessas opções, as áreas comuns do edifício, como espaços para eventos, rooftop com piscina, restaurante, coworking e bar, serão abertas ao público. As áreas comerciais do prédio serão no terceiro, quarto e último pavimentos. No total, o Afonso Pena 1.050 tem 19 pavimentos.
“Um edifício de uso misto precisa dar vida continuada a todos os seus espaços, e acredito que este seja o diferencial deste projeto e também seu maior desafio”, diz Marcelo Alvarenga, da Play Arquitetura, que assina o projeto da reforma com a Ar.Lo Arquitetos.
Ele também destaca e avalia como positivo a mistura entre a vida privada, a vida social e pública encontrada no centro da cidade, assim como o equilíbrio entre modernização e conservação presente no projeto. “Ações e empreendimentos voltados à preservação, conservação e revitalização são ações conscientes de que um bom futuro se constrói com respeito ao existente e ao passado”, diz.
As obras do Afonso Pena 1.050 terão início após aprovação do projeto e trâmites legais junto a órgãos responsáveis. A expectativa é que o prédio fique pronto em aproximadamente 12 meses após as devidas aprovações. As modalidades de ocupação do prédio serão inauguradas simultaneamente. Em breve, será disponibilizado um site com as informações sobre o projeto e o lançamento comercial do empreendimento.
Veja fotos do projeto
Histórico
Em formato de meia lua, o edifício foi inaugurado em 1978, com projeto original assinado por Raul de Lagos Cirne, entre as ruas Tupis e Bahia e em frente ao Parque Municipal. Por alguns anos, o Othon Palace foi o único hotel de luxo na capital mineira e, ao longo de sua história, hospedou personalidades como o cantor Roberto Carlos e os ex-presidentes Tancredo Neves (1910-1985) e João Baptista Figueiredo (1918-1999).
Ao fechar as portas, em 2018, apresentava um prejuízo acumulado de R$ 40 milhões; o passivo total, sobretudo em tributos, somava R$ 527,1 milhões. Cerca de 170 pessoas foram demitidas.
Já em 2020, o leilão do prédio do antigo Othon Palace Hotel terminou sem compradores. O valor mínimo de oferta era de R$ 30 milhões, conforme decisão da 5ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, e o arrematante teria que arcar com os débitos em aberto referentes ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), no valor de R$ 5.377.333,55, mais acréscimos legais. Por fim, o edifício do futuro Afonso Pena 1.050 foi leiloado por R$ 32.450.000 em 2021. A empresa vencedora foi a Alfa Empreendimentos Imobiliários.
Na época do primeiro leilão, o Estado de Minas ouviu especialistas para entender os possíveis motivos de a ação ter terminado sem compradores. Entre eles, foram listados o tombamento do edifício, que dificultaria e encareceria as reformas, e os empecilhos para transformá-lo em um possível prédio residencial, como baixo número de vagas de estacionamento e falta de isolamento acústico.
Quanto a essas duas questões, o arquiteto Marcelo Alvarenga, da Play Arquitetura, explica que são de ciência da equipe, “mas quem mora no Centro sabe que vai ter algumas limitações. O prédio tem outras qualidades fortes como apartamentos grandes, luz natural e boa localização.”
Ele explica que o estacionamento será ampliado, mas não há pretensão de que tenha vagas para todos os moradores e hóspedes. “O projeto mira um público que é capaz de abrir mão do carro”, diz. Quanto à acústica, estão sendo analisadas medidas de manutenção das janelas. No entanto, estudos realizados revelam que o barulho é mais diurno e impacta mais os andares inferiores, onde não haverá apartamentos residenciais.
*Estagiária sob supervisão dos subeditores Fernanda Borges e Thiago Prata