As charretes, que transportam os visitantes pelo Centro Histórico, deixarão de vez a tração animal para se tornarem elétricas -  (crédito: Prefeitura de Tiradentes/Divulgação)

As charretes, que transportam os visitantes pelo Centro Histórico, deixarão de vez a tração animal para se tornarem elétricas

crédito: Prefeitura de Tiradentes/Divulgação

A turística Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais, terá mudança na dinâmica de um dos seus passeios mais charmosos. As charretes, que transportam os visitantes pelo Centro Histórico, deixarão de vez a tração animal para se tornarem elétricas.

 

O termo de compromisso foi firmado nesta terça-feira (21), na sede do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), em Belo Horizonte, sendo representante da instituição a promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula, coordenadora Estadual de Defesa dos Animais (Ceda/MPMG).

 

Presente ao encontro, o prefeito de Tiradentes (cidade com 7,4 mil habitantes), Nilzio Barbosa, informou que a mudança vem sendo planejada há três anos, para evitar o uso de animais na atividade.

 

“Garantimos que as 30 famílias que vivem desse serviço não serão prejudicadas. Já havia um processo do MPMG para que as charretes com tração animal parassem de funcionar, e, assim, decidimos que as elétricas seriam adequadas”, disse o chefe do Executivo local, que ainda não divulgou a data em que o novo sistema estará em ação. “Será a primeira vez no país que teremos charretes elétricas”, disse o prefeito.

 

No próximo dia 4, informou Nilzio, haverá nova reunião para tratar do assunto. “O protótipo da charrete elétrica será apresentado, em Tiradentes, neste dia. É um veículo com duas marchas, que trafega na velocidade máxima de 45 quilômetros e tem autonomia de oito horas”, contou o prefeito. Nessa empreitada, estão envolvidos a secretaria estadual de governo, a Cemig, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 

 

Recarga

“A Cemig vai instalar ponto de recarga dos veículos no Centro Histórico, que, sendo tombado em nível federal, precisa da autorização do Iphan. Os 30 veículos são fabricados por uma empresa de Itaúna (Região Central de Minas), e os engenheiros já estudam o perímetro urbano, que é calçado”, adiantou o prefeito.

 

Para operar as charretes motorizadas, os condutores precisam ter carteira de habilitação e seguir as normas do Código de Trânsito.

 

“Se o charreteiro não tiver habilitação, o veículo poderá ser dirigido por alguém da família. E se ele não quiser ficar com o cavalo, o animal poderá ser recebido pela Sociedade Protetora dos Animais”, disse Nilzio. Ele disse que o serviço usa geralmente dois animais durante o dia.

 

Na atividade há 25 anos, o presidente da Associação dos Charreteiros de Tiradentes, Reginilson Ramalho, explicou que “a proposta de mudança, em pauta há muito tempo, foi analisada de forma muito cuidadosa por todos nós”.

 

Na sua avaliação, trata-se “de um caminho sem volta, diante da força da questão animal, hoje em dia, mesmo quando os animais, como os nossos, são muito bem tratados, com cuidados de veterinário e exames periódicos”.

 

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Reginilson, que participou do encontro em BH, falou sobre as preocupações e esperanças da categoria: “Já tivemos diversas reuniões, mas, até então, nenhuma das anteriores havia mostrado preocupação sobre como ficariam as famílias impactadas pela mudança. Porém, hoje, temos esperança de que, com a atual proposta junto ao MPMG, pode, sim, dar certo. Temos diversas preocupações e acreditamos que tudo está sendo bem analisado por toda equipe responsável.”

 

Uma das preocupações se refere aos animais. “Levantamos diversas questões que merecem atenção, e acreditamos ser de peso e relevância, para nosso futuro e para maior patrimônio, a situação dos nossos animais. A promessa é de que será feito um santuário dentro da cidade para serem cuidados de perto.” Outra preocupação é de como será conduzida a mudança.

 

“Muitos charreteiros são analfabetos, não têm como tirar carteira de habilitação. Esse assunto foi levado aos responsáveis, pois será muito difícil se a habilitação for cobrada para condutores das charretes elétricas, mesmo com o treinamento prometido.”

 

Reginilson lembra que muitas pessoas não entendem como é “trabalhoso e árduo” o trabalho. “Cavalo não é como um animal doméstico de baixo custo, não há como ter um no terreiro de nossas casas. São animais de grande porte e os gastos são altos para mantê-los cuidados.” E mais: “Sabemos que sofreremos impactos, pois as charretes, mais do que nosso ganha-pão, é patrimônio do município, um passeio diferente das famílias que nos visitam, das crianças de grandes cidades que nunca tiveram a oportunidade de ver de perto um animal de grande porte.”