Entre janeiro e abril deste ano, Minas Gerais registrou 44.525 acidentes de trânsito com falta de atenção dos envolvidos como causa presumida. Isso corresponde a 47% dos 94.015 acidentes totais em vias, avenidas, ruas e rodovias no estado, de acordo com o Painel de Acidentes de Trânsito da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Quando comparado com os quatro primeiros meses dos últimos 10 anos, os dados de 2024 revelam um aumento na quantidade de acidentes motivados por esse fator. Em relação ao ano anterior, por exemplo, houve crescimento de 8,9%.
Quanto à localização das ocorrências causadas pela falta de atenção, também informado pelo painel, a capital mineira ocupa as cinco primeiras posições, com 710 acidentes na Avenida Cristiano Machado, 691 no Anel Rodoviário, 495 na Avenida do Contorno, 366 na Avenida Amazonas e 352 na Avenida Presidente Antônio Carlos. Entre os tipos de veículos envolvidos, automóveis foram os mais registrados, com 37.433 casos, seguidos pelas motocicletas, com 10.885.
No estado, a falta de atenção foi a maior responsável por vítimas no trânsito, com 11.687, das quais 115 pessoas morreram. O painel também informa o perfil dessas vítimas envolvidas e aponta que 70% eram homens e a faixa etária média era de 18 a 29 anos.
Fatores
De acordo com Alysson Coimbra, diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), esse aumento de eventos evitáveis no trânsito, como os causados pela desatenção, era esperado pelos especialistas na área. “A falta de atenção acontece a partir do momento que eu passo a negligenciar os riscos atribuídos ao ato de dirigir”, diz o médico.
Ele acredita que essa negligência está atrelada à banalização dos riscos ao volante, que cresce cada vez mais e está associada à uma orientação tardia de educação no trânsito e jovens pouco empáticos com outros condutores.
“As pessoas adotam atos que vão condicionar ao que a gente chama de direção insegura. Por exemplo, o uso de celular ao volante, excesso de velocidade, dirigir sob efeito de álcool ou de substâncias psicoativas, atos infracionais como avanço de sinal, ultrapassagem indevida, o não uso do tipo de segurança e o desrespeito à distância de segurança entre os veículos. Tudo isso engloba ações extremamente graves e que são simplificadas nessa definição de falta de atenção do condutor”, diz o especialista.
O diretor da Ammetra também argumenta que o código de trânsito brasileiro, de 1997, está desatualizado e não condiz com a atual realidade brasileira no quesito do exame psicológico para os condutores. “O motorista só precisa passar pela avaliação psicológica uma vez. É preciso que o código de trânsito brasileiro seja atualizado com a mesma rapidez que exigem as mudanças globais do comportamento humano”, diz o médico, que destaca o período pós pandêmico como um marco que ocasionou em uma maior fragilidade mental do brasileiro. Alysson conclui que aumentar a periodicidade e o monitoramento feito por um psicólogo do trânsito é uma questão de saúde pública.
Por fim, o médico atrela essa realidade à flexibilização das leis de trânsito, como o aumento do prazo da carteira de habilitação, de cinco para dez anos, e o tempo de validade do documento ser o mesmo para motoristas de veículos de passeio e profissionais, uma vez que os riscos atribuídos são diferentes.
O painel
O painel é interativo e permite a qualquer cidadão acessar detalhamentos de vítimas, causas, endereços e condições das vias dos acidentes de trânsito registrados no Estado. É possível filtrar estatísticas por ruas ou avenidas, município, Região Integrada de Segurança Pública (Risp), tipo de veículo, condição física da vítima e causa presumida dos acidentes registrados desde 2014 em Minas. Também é possível um mapa com posição geográfica aproximada das ocorrências, além de checar condições e tipos de vias, pavimentos, iluminação e sinalização.
"Aproveitamos o encerramento do Maio Amarelo, mês de conscientização da sociedade sobre um trânsito mais seguro, para lançar o novo Painel de Acidentes de Trânsito. Nosso propósito é dar cada vez mais transparência aos dados de Minas Gerais, para que possamos direcionar ações, programas e políticas", explica o subsecretário de Integração da Segurança Pública, Christian Vianna.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice