(Muita) chuva lá. Seca aqui. Numa prova dos extremos do clima no Brasil e das consequências das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que o Rio Grande do Sul sofre com a calamidade em decorrência das fortes chuvas, que provocaram as mortes de 90 pessoas, até a tarde desta terça-feira (7/5), o Governo de Minas publicou um decreto prorrogando por mais 180 dias a situação de emergência em 95 municípios do estado, mas por causa da seca.

 

O documento, assinado pelo governador Romeu Zema (Novo), foi publicado no Diário Oficial do Estado nesta terça-feira, abrangendo municípios do Norte de Minas e dos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, que se encontravam em situação emergencial por causa da falta de chuvas. O antigo decreto estadual, publicado em 8 de novembro de 2023, vale até esta quarta-feira (8/5). Com a prorrogação, as referidas cidades vão permanecer em estado de emergência por um ano ininterrupto.

 

 

Assim como outras administrações estaduais, o Governo de Minas Gerais anunciou, também nesta terça-feira, o envio de ajuda ao Rio Grande do Sul para o socorro aos atingidos pelas inundações, incluindo 28 bombeiros especializados em busca e salvamento em grandes desastres, equipes da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Defesa Civil, Copasa e da Cemig.

 

No decreto da prorrogação do estado de emergência, o Governo de Minas justifica que, “apesar dos índices pluviométricos registrados no Estado no último período chuvoso, muitos municípios já se encontram com problemas de abastecimento em comunidades rurais, inclusive para o consumo humano e animal, reduzindo o padrão de qualidade de vida da população afetada e trazendo também prejuízos na agricultura e na pecuária".

 

Também argumenta que “apesar das ações adotadas pelos municípios e pelo Estado, há necessidade da atuação de todos os integrantes do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil nas ações de resposta ao desastre”. Outra justificativa é a necessidade da manutenção de auxílio aos município com o serviço do fornecimento de água às comunidades por meio de caminhões-pipas.

 

O presidente da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (AMAMS) e prefeito de Padre Carvalho, José Nilson Bispo de Sá, o Nilsinho, afirma que a região continua sofrendo com as consequências da estiagem prolongada de 2023, apesar de ter registrado chuvas no período de janeiro ao inicio de abril deste ano. “Tivemos a pior seca da história em 2023 e vão demorar anos para que os municípios consigam se recuperar dos estragos”, comenta Nilsinho.

 

Segundo ele, mesmo com a “recuperação parcial dos mananciais”, em todas cidades do Norte de Minas continuam circulando caminhões-pipas para o abastecimento das comunidades rurais. Outro efeito da falta de chuvas é representado pelos prejuízos nas lavouras de subsistência de milho e feijão. “As perdas nas plantações em muitos lugares foram da ordem de cem por cento”, afirma o presidente da Amams.

 

Seca só tende a piorar, alerta meteorologista

A ocorrência de fortes chuvas no Sul do pais está relacionada com as mudanças climáticas, que também são responsáveis pelo aumento da temperatura e estiagem severa no semiárido mineiro, que compreende o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. Mas, também por causa das alterações do clima, a tendência do semiárido mineiro é ter uma “seca cada vez pior”. O alerta é do meteorologista Ruibran dos Reis, do Climatempo.

 

Ruibran lembra que no ano passado no Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, as chuvas foram interrompidas em fevereiro e só retornaram em 20 de dezembro. “Em 2023, tivemos uma das piores secas da história no Norte de Minas nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri. De janeiro até o início de abril deste ano, houve precipitações nessas regiões, mas foram chuvas isoladas, em forma de 'pancadões'. Não foram chuvas intermitentes de vários dias seguidos, com capacidade de reabastecer o lençol freático”, explica.

 

“Foi uma chuva que caiu e foi embora. Daí, os municípios continuam ainda com o problema de (falta de) água”, descreve.

 

Segundo Ruibran dos Reis, as precipitações do Norte Minas no ano chuvoso entre outubro de 2023 e abril de 2024 alcançaram um volume de 809 milímetros, 6% acima da média histórica do período na região, que é de 769 milímetros. Apesar de ser pouco acima da média histórica, a densidade pluviométrica não foi suficiente para a recuperação dos da seca, principalmente, pela má distribuição das chuvas, explica o representante do Climatempo.

 

 

De acordo com o especialista, a previsão é que extensão do território mineiro que compreende o Norte de Minas e os vales do Jequitinhonha e do Mucuri vai enfrentar nova estiagem pelo menos nos próximos quatro meses, no período que também terão uma onda de calor, com temperaturas acima da média climatológica.

 

“Somente na segunda quinzena de setembro poderemos ter algumas pancadas de chuvas isoladas nessas regiões, onde a temperatura deverá ficar entre entre três e cinco graus acima da média nos meses de outono e inverno”, informa Ruibran dos Reis. “Neste ano, vamos ter um inverno mais quente em relação à estação dos anos anteriores”, assegura o meteorologista.

 

Reis lembra que as populações do Norte e o Nordeste de Minas, há alguns anos, vêm sofrendo com estiagens severas por conta das mudanças climáticas, cujos efeitos, segundo ele, vão se intensificar mais ainda. “Teremos extremos (do clima) de agora em diante. A seca tende a ser cada vez pior, com temperatura mais elevadas”, afirma o especialista, ao se referir ás previsões climáticas para o Norte de Minas e para os vales do Jequitinhonha e do Mucuri, historicamente castigadas pelas estiagens prolongadas e pelo flagelo das falta d água.

 

Confira a lista dos municípios em decreto de emergência por causa da seca em Minas

1 Águas Vermelhas

2 Almenara

3 Aricanduva

4 Arinos

5 Berilo

6 Berizal

7 Bocaiúva

8 Bonito de Minas

9 Botumirim

10 Brasilândia de Minas

11 Buritizeiro

12 Campo Azul

13 Capitão Enéas

14 Carbonita

15 Catuti

16 Chapada do Norte

17 Chapada Gaúcha

18 Cônego Marinho

19 Coronel Murta

20 Cristália

21 Curral de Dentro

22 Engenheiro Navarro

23 Espinosa

24 Felisburgo

25 Francisco Dumont

26 Francisco Sá

27 Fruta de Leite

28 Gameleiras

29 Glaucilândia

30 Grão Mogol

31 Guaraciama

32 Ibiaí

33 Ibiracatu

34 Icaraí de Minas

35 Indaiabira

36 Itacambira

37 Itacarambi

38 Jacinto

39 Jaíba

40 Januária

41 Japonvar

42 Jequitaí

43 Jequitinhonha

44 Joaquim Felício

45 Jordânia

46 José Gonçalves de Minas

47 Josenópolis

48 Juramento

49 Juvenília

50 Leme do Prado

51 Lontra

52 Luislândia

53 Mamonas

54 Manga

55 Mato Verde

56 Minas Novas

57 Mirabela

58 Miravânia

59 Montalvânia

60 Monte Azul

61 Monte Formoso

62 Montezuma

63 Ninheira

64 Novo Cruzeiro

65 Novorizonte

66 Olhos-d’Água

67 Padre Carvalho

68 Pai Pedro

69 Pedra Azul

70 Pintópolis

71 Pirapora

72 Ponto Chique

73 Ponto dos Volantes

74 Porteirinha

75 Riachinho

76 Riacho dos Machados

77 Rubelita

78 Santa Cruz de Salinas

79 Santo Antônio do Retiro

80 São Francisco

81 São João das Missões

82 São João do Pacuí

83 São João do Paraíso

84 Serranópolis de Minas

85 Taiobeiras

86 Turmalina

87 Ubaí

88 Uruana de Minas

89 Urucuia

90 Vargem Grande do Rio Pardo

91 Varzelândia

92 Vazante

93 Verdelândia

94 Veredinha

95 Virgem da Lapa

 

Fonte: Diário Oficial do Estado – "Minas Gerais – 07.05.2024

 

 


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