Os bailes no Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, estão suspensos por tempo indeterminado. O anúncio foi feito nesse fim de semana por meio das redes sociais da comunidade.

 

A medida vai afetar bailes de oito vilas: Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Santana do Cafezal, Novo São Lucas, Fazendinha, Chácara e Marçola. A suspensão inclui a proibição de carros de som na Praça do Cardoso.

 

"Entendemos que essa medida pode gerar questionamentos, mas queremos assegurar que é uma decisão tomada com responsabilidade e por motivos relevantes. Pedimos a compreensão de todos e prometemos, assim que for possível, retomar as atividades. Estamos juntos nessa jornada e contamos com o apoio de cada um de vocês", conclui o comunicado.

 

 


 

Motivações

 

Um morador da Serra ouvido pelo Estado de Minas afirma que um dos motivos para a suspensão são transtornos consequentes do intenso fluxo de pessoas que têm ido aos bailes no aglomerado. Apesar do lado positivo, uma vez que o público movimenta a economia local por meio de compras de bebidas e alimentos, ele diz que “há também um número muito grande de pessoas vindo de outros lugares que não estão só para curtir. Que ‘perdem a linha’, que quebram ônibus, que mijam na porta das outras pessoas sem sequer ter uma atenção, uma empatia com os moradores.” 


O residente diz que outro transtorno consequente é a complicação do trânsito no local pois as pessoas estacionam o carro “em qualquer lugar” e, às vezes, até mesmo em frente a garagem de moradores. Ele também reforça que “não é que nós não queremos que tenha baile. Ao contrário, nós queremos que tenha, mas que possa ter ordem e decência".


“Infelizmente, a falta de controle tem atraído elementos indesejados, como ladrões. E os jovens, por sua vez, muitas vezes não estão demonstrando o devido respeito pelos mais velhos. O ruído excessivo das motos e a falta de pagamento da passagem de ônibus são apenas alguns exemplos desses comportamentos problemáticos”, diz outro morador, que preferiu não se identificar.


Ele também ressalta que esse tipo de atitude é realizada majoritariamente por pessoas que não moram no aglomerado, e que a decisão de suspensão foi dos próprios organizadores. “Esses comportamentos estão gerando uma imagem negativa dos bailes funk, que deveriam ser um símbolo de resistência e celebração da cultura local. É essencial que medidas sejam tomadas para garantir a segurança e o respeito dentro e ao redor desses eventos, a fim de preservar sua importância e valor para a comunidade”, conclui.


A Polícia Militar garantiu que a proibição da realização dos bailes não partiu da corporação. 

 

Repercussão


Nos comentários do post que anuncia a suspensão, diversos moradores comemoraram. "Se tudo der certo, não volta nunca mais", disse um homem. Uma moradora comentou: "Que paz foram a sexta e o sábado sem esses bailes. Os moradores precisam de paz, e, sinceramente, espero que continue assim, porque as pessoas que viram a madrugada na rua com suas algazarras não trabalham no dia seguinte e pouco se importam com os outros."

 

A maioria dos comentários agradece pelo descanso e sossego que os moradores vão ter com a suspensão dos bailes. Outros habitantes do Aglomerado da Serra convidam os frequentadores dos bailes para frequentarem as igrejas, afirmando que elas estarão de porta abertas para recebê-los. 

 

Maior favela de Minas

 

Barracões e casas assentados nos declives da serra que emoldura Belo Horizonte formam a maior favela de Minas Gerais. O Aglomerado da Serra teve o primeiro baile funk com alvará de Minas, em 2018. A reportagem do Estado de Minas realizou uma matéria especial, acompanhando o baile.

 

Na época, a Polícia Civil afirmou que não havia registro de violência no baile, mas afirmou que há presença de vulnerabilidade na comunidade, com registros de perturbação. Destacou também como o baile leva cada vez mais pessoas para o aglomerado, aumenta a possibilidade da ocorrência de mais crimes.  

 

Como o aglomerado tem oito vilas, a polícia explica que cada uma tem seu esquema de comercialização de drogas, portanto, os conflitos acontecem. No fim do ano passado, uma adolescente de 14 anos foi estuprada e colocada para fora da casa do suspeito, na Vila Nossa Senhora de Fátima. O suspeito era um homem de 22 anos, que ela teria acabado de conhecer em um baile funk na comunidade.

 

*Estagiários sob supervisão dos subeditores Gabriel Felice e Thiago Prata

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