O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais ajudou no resgate de 1.313 atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A corporação enviou 28 militares à região, que trabalharam durante sete dias, a partir de 2 de maio. A partir da quinta-feira (9/5), os agentes começaram a retornar para Minas Gerais e, ao chegarem no estado, não apresentaram nenhum problema de saúde. Estiveram na operação de auxílio e coordenação em terras gaúchas membros do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad) e do Batalhão de Operações Aéreas (BOA) dos Bombeiros.


A base de operações foi instalada no município de Bento Gonçalves, que registrou mais de 100 deslizamentos na área. Por isso, a cidade foi considerada uma localização chave para proximidade dos militares aos atingidos, o que possibilitou que a equipe estivesse 24 horas por dia auxiliando, disse o major Heitor Mendonça, comandante das ações mineiras, em coletiva nesta terça-feira (14/5). Além disso, membros do CBMMG destacaram e avaliaram positivamente a autossuficiência da operação, que, por ter sido independente de apoio local, não sobrecarregou o estado, que já estava afetado pela catástrofe. 




Os principais locais de atuação da equipe mineira foram nos municípios de Bento Gonçalves, São Leopoldo, Eldorado de Sul, Canoas e Guaíba. O major também explicou que a operação se deu em dois cenários: resgates ligados a áreas atingidas por deslizamento de terras e consequentes soterramentos, ocorridos principalmente na região serrana do estado, e apoio em áreas de inundações e enchentes.

 

Diante disso, foram deslocadas também cinco viaturas equipadas para operar em ambos os cenários e dois cães do CBMMG especializados em localização de vítimas de soterramento, os pastores-belga-malinois Logan e Bono. Heitor destacou a importância que os animais tiveram para que os corpos fossem recuperados e as famílias tivessem “dignidade na despedida final de seus entes queridos.” Além do resgate de pessoas e a recuperação de 9 corpos, a equipe mineira salvou 22 animais e transportou itens essenciais como água, alimentos e medicamentos.

 

Ao todo, foram levados ao estado gaúcho 2,5 toneladas de equipamentos, que após as operações, retornaram para Minas.

 

 

Dificuldades enfrentadas 

Na coletiva, o major também contou que as maiores dificuldades para operar foram a instabilidade nos terrenos, com a iminência de deslizamentos, a extensão da área alcançada e o número significativo de pessoas atingidas. As inundações afetam uma população de 2,1 milhões de pessoas em 447 dos 497 municípios gaúchos. “Algumas vezes os militares do CBMMG, ao tripularem uma embarcação, caminharam 3-4 quilômetros dentro da malha urbana das cidades, completamente inundadas. Não dava para perceber onde eram as delimitações dos rios”, descreveu. 

 

À imprensa, o subtenente Faria, ligado ao planejamento operacional, disse que uma ação primordial foi o mapeamento e monitoramento constante das condições dos terrenos para que as técnicas adequadas fossem utilizadas. Ao Estado de Minas, o militar, que, além de atuar no Rio Grande do Sul, trabalhou na época em que a barragem de Brumadinho rompeu, disse que as atuações no município mineiro em 2019 “trouxeram uma expertise e uma maturidade operacional muito grande, onde nós pudemos levar todo esse conceito para Bento Gonçalves, principalmente na avaliação dos terrenos, de áreas, para fazer o mapeamento.” 

 

Durante as operações, bombeiros de Minas relataram dificuldades para resgatarem os corpos após terem sido localizados. Segundo o CBMMG, algumas vítimas ficaram presas embaixo de escombros de construções, árvores ou grande volume de lama.

 

 


Auxílio aéreo

O capitão Matos, do Batalhão de Operações Aéreas, detalhou que foram utilizadas duas aeronaves pertencentes à Secretaria de Estado de Saúde e operadas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais – o helicóptero Arcanjo 06, vindo de Uberaba, utilizado principalmente para resgate de pessoas ilhadas em telhados e lajes, que operou 32h30 horas no total; e uma aeronave de asas fixas, Arcanjo 11, que transportou principalmente a equipe de militares e itens básicos, operando por quase 20 horas.


As condições meteorológicas foram as principais dificuldades enfrentadas na operação aérea. “No dias iniciais, o cenário estava bem degradado, o teto - camada de nuvens - estava muito baixa”, diz o capitão, que também comentou que as condições aumentam os riscos de colisão em construções e entre as diversas aeronaves que estavam sobrevoando a região, além de impedimento o voo em alguns casos. A contemplação geral da área também foi comprometido, uma vez que pela impossibilidade de ganhar altitude, a visão não era muito ampla.

 

Matos contou que após o resgate de pessoas ilhadas nos topos das construções, o perfil de operação da equipe aérea foi voltado principalmente para a ajuda humanitária por meio da entrega de itens essenciais a pontos focais de pessoas já removidas de áreas sob perigo. 

 

Retorno à Minas

Na coletiva, o tenente coronel Welter Chagas, do Bemad, explicou que o retorno da equipe à Minas se deu pelo revezamento entre equipes de bombeiros de diferentes estados, coordenado pelo Conselho Nacional de Corpos de Bombeiros Militares (Ligabom). No entanto, o CBMMG reforçou que tem acompanhado a situação e segue em prontidão para auxílio caso seja demandado novamente. 


“É com imensa satisfação que a gente retorna para Minas Gerais com esse sentimento de dever cumprido”, avaliou o major Heitor.


O CBMMG também já atuou no auxílio técnico em eventos como os incêndios no Amazonas, na Operação Verde Brasil e em catástrofes ocorridas nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e no Vale do Taquari/RS, em outubro do ano passado. Já no cenário internacional, a corporação participou das ações humanitárias, coordenadas pela Agência Brasileira de Cooperação em Moçambique, Haiti, Turquia, Canadá e, mais recentemente, na Guiana. 


Segurança dos militares


Militares do CBMMG reforçam que a preocupação com a segurança dos membros da equipe também prevaleceu durante a ida ao Rio Grande do Sul. “Não seríamos nada de melhores se não cuidássemos da nossa própria segurança”, reforçou o subtenente Faria. O militar explicou que para isso, assim como para os salvamentos de civis, o mapeamento e acompanhamento contínuo das áreas de operações, inclusive durante a ação dos companheiros, foram fundamentais. 


Apesar do zelo pela integridade, o major Heitor ressaltou que nos locais de desastres os riscos ainda são uma realidade, “esse é o espírito do bombeiro militar, em certos momentos não há como gerenciar todos os riscos, nós tentamos, mas em desastres como esse é necessário que os bombeiros que ali estão se entreguem de corpo e alma.”

 

Veja balanço das enchentes no RS

- Municípios afetados: 446- Pessoas em abrigos: 76.884

- Desalojados: 538.545

- Afetados: 2.124.203

- Feridos: 806

- Desaparecidos: 124

- Óbitos confirmados: 148

- Pessoas resgatadas: 76.483

- Animais resgatados: 11.002


*Estagiária sob supervisão do subeditor Fábio Corrêa

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