A Policia Civil de Minas Gerais (PCMG) vai utilizar imagens tridimensionais captadas por um scanner 3D para reconstituir o acidente do ciclista atropelado por um ônibus no dia 12 de abril, no Centro de Belo Horizonte. Na tarde desta quarta-feira (15/5), o cruzamento entre a Rua dos Guaranis e Rua dos Carijós, local do acidente, foi fechado por cerca de uma hora para que o equipamento pudesse fazer a captura das imagens. Também foi utilizado um drone para fazer fotos aéreas.

 

Esta é a primeira vez que a PCMG utiliza o scanner 3D em uma investigação de crime de trânsito. O equipamento, adquirido em dezembro do ano passado, é o mais moderno do Brasil e está lotado na Divisão de Crimes Contra a Vida, sendo usado, principalmente, para recriar cenas de homicídios.

 

O uso desta tecnologia é apropriado neste caso uma vez que a perícia não foi feita no momento do acidente, pois o local foi descaracterizado durante o socorro da vítima.

 

"Vão ser extraídas todas as imagens pelo perito com o drone e com o scanner 3D. E, junto com as informações levantadas pelos investigadores com testemunhas e com as câmeras do local do acidente, o perito vai reconstruir, o mais próximo possível da realidade, o momento em que aconteceu o atropelamento", explicou Renata de Oliveira Lima, chefe da Divisão Especializada em Prevenção e Investigação de Crimes de Trânsito.

 



 

Segundo a delegada, a ideia de usar o equipamento na solução do acidente com o ciclista veio depois que um aparelho similar foi usado na investigação do caso da Porsche, em São Paulo. Na ocasião, um empresário que dirigia o carro de luxo bateu no veículo de um motorista de aplicativo a mais de 150 km/h. O caso aconteceu no dia 31 de março.

 

Reconstituição avançada

A previsão é de que a conclusão da perícia seja feita em 30 dias. A tecnologia por trás dos equipamentos utilizados hoje é capaz de reconstituir a cena do acidente sem a necessidade de recolocar fisicamente uma bicicleta e um ônibus na rua onde o fato ocorreu. Além disso, o scanner 3D é capaz de mapear o local do acidente com até 2 mm de erro, explica o perito André Godoy.

 

“O equipamento faz o mapeamento do local, mas a gente tem que ter investigação através de oitivas, de imagens, de câmeras. Ele não resolve sozinho, mas vai auxiliar e trazer elementos significativos para a investigação”, detalha o perito.

 

O scanner 3D gera imagens 360º que facilitam o trabalho da perícia

Túlio Santos/EM/D.A Press

 

O scanner 3D gera uma “nuvem de pontos” que permite fazer medições do tamanho de objetos presentes na cena do acidente, como postes e calçadas, e calcular a distância entre eles. Também são feitas imagens 3D da rua, semelhantes ao Google Street View. Com esse cenário recriado tridimensionalmente no computador, será possível fazer as investigações “como se estivesse andando de novo pelo local”.

 

“O equipamento emite fechos de laser que vão trazer essa nuvem de pontos. E, posteriormente, nos softwares, a gente consegue utilizar inteligência artificial para fazer a junção com as imagens obtidas por outras fontes”, explica.

 

Relembre o caso

O ciclista que morreu no acidente com o ônibus era Fabrício Bruno da Cruz Almeida, de 38 anos, artista plástico e funcionário do IBGE. O atropelamento ocorreu na tarde de 12 de abril. O ônibus, de prefixo 11015 e que fazia a linha 5034 (Confisco/Centro), chegou a ficar com uma das rodas por cima do ciclista, que foi levado para o Hospital João XXIII, onde morreu de hemorragia interna horas depois.

 

O motorista do coletivo alegou para os policiais militares que registraram a ocorrência que Fabrício teria saído de trás de caminhão um caminhão de lixo que estava parado, não dando tempo para frear.

 

Uma semana depois do acidente, ciclistas protestaram em frente à Prefeitura de Belo Horizonte derrubando bicicletas na rua e pedindo por justiça para Fabrício. Em entrevista ao Estado de Minas, a irmã do ciclista, Fabíola Ingrid Cruz de Almeida, disse que o protesto se deu para que ele não seja somente mais um nas estatísticas.

 

“É preciso falar e debater sobre o trânsito violento nas grandes metrópoles. Quero que meu luto seja transformado em luta. Meu irmão não estava errado (no acidente). Ele era prudente e andava todo equipado. Em memória dele, vou lutar por mais mobilidade”, declarou Fabíola.

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