Um escândalo envolvendo denúncias de abusos sexual, psicológico e físico na unidade do Céu Azul, em Venda Nova, em Belo Horizonte, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Minas Gerais veio à tona na última semana, quando um ex-pastor da instituição resolveu publicar informações sobre os casos em suas redes sociais.

 

Nessa segunda-feira (20/5), ele reuniu cinco vítimas para registrar as denúncias na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) e no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

 


De acordo com Leonardo Alvim, que levou a público as denúncias em suas redes sociais, o acusado possui um extenso histórico de abuso sexual, injúria racial e agressão contra mulheres e homens homossexuais. Ele conta que, desde que era pastor na igreja, recebia relatos de jovens afirmando que o homem, líder dos adolescentes, tocava suas partes íntimas, mas que a instituição abafava os casos.


“Relatei para a chefia, que sempre falava que não era para dar importância, senão daria problema, mas sempre chegava gente (para denunciar). Um dia aconteceu um problema maior, ele foi afastado e colocaram minha mulher no cargo dele”, afirma Alvim. Ainda segundo ele, sua esposa foi perseguida e ameaçada de morte após a troca.


Atualmente, o homem é pastor de uma outra igreja e já acusou Leonardo de perseguição. Uma denúncia já foi feita para o conselho estadual da Igreja do Evangelho Quadrangular. A instituição afirmou, em nota, não ter recebido denúncia formal e tomado conhecimento dos casos apenas pelas redes sociais, mas que o pastor envolvido será convocado pela direção para ser ouvido.


Devido à demora da igreja em tomar providências, Leonardo acionou o Disque 181 e reuniu algumas das vítimas para levar o caso à delegacia especializada. Entre as que aceitaram registrar ocorrências, estão duas vítimas de estupro de vulnerável – ambas possuíam menos de 14 anos na época dos crimes –, uma de abuso sexual e cárcere privado, uma de abuso psicológico e uma de agressão física. Todos terão a identidade preservada. 


Ao todo, 86 capturas de tela (prints) e vídeos que provam os abusos serão levados para o Ministério Público ainda nesta terça-feira (21/05).


Abusos eram normalizados


Uma das vítimas, que não quis ser identificada, relata que entrou para a igreja em questão em 2013, por ter gostado do ambiente jovial que a instituição proporcionava. Com o tempo, passou a integrar as atividades da igreja e a criar laços com os outros integrantes. Em um momento de confiança, confidenciou ao pastor sobre sua sexualidade.


“Nessa conversa eu me abri para ele, acreditando que era uma pessoa de Deus. Que era uma pessoa que estava ali para me acolher. De certa forma, eu estava totalmente vulnerável às palavras dele”, conta.


 

O jovem afirma que o pastor estava sempre cercado de jovens, em sua maioria meninos, e que tocava ou pedia para ver os órgãos genitais, dava selinhos, sempre disfarçado de brincadeira. Também havia momentos em que era agressivo, chegando a dar tapas e puxando o cabelo de pessoas em público. O pastor também expôs a sexualidade do rapaz aos pais, sem seu consentimento.


“Não era escondido, era público, as pessoas viam. Ele fazia isso na casa das pessoas, quando estava na reunião do grupo de adolescentes, disfarçado de brincadeira, como uma coisa normal. Isso era normalizado, quando não deveria ser normalizado, ainda mais vindo de uma figura de um pastor”, afirma o ex-membro.


Segundo ele, durante uma visita à sua casa, o pastor entrou em seu quarto e colocou o pênis para fora e coagiu a vítima para que tocasse no órgão, que resistiu e se negou a realizar a ação. A partir dessa recusa, o pastor passou a excluir a vítima do convívio na igreja, chegando a ameaçar ele e sua família, e divulgar que o jovem estava morto, de modo que apenas sua versão dos fatos fosse conhecida na comunidade.


“Ele ameaçou me matar e matar minha família. A gente (ele e as outras vítimas) ainda sofre até hoje essa pressão. Por isso que a gente está nesse movimento, por isso que a gente está na busca para que a justiça seja feita, até para que outras pessoas não não venham sofrer como a gente sofreu, e que sofre até hoje com os traumas psicológicos”, afirma.


Grande parte do receio das vítimas em denunciar os abusos, tanto psicológicos quanto sexuais, se deve à grande influência do pastor, que se vale de sua posição na igreja para se proteger. Ao ver a postagem de Leonardo, o jovem teve coragem de se posicionar e se juntar a outras vítimas para oficializar uma denúncia junto à polícia.


Outras denúncias


Alvim espera que essas denúncias incentivem outras vítimas a procurarem ajuda e também registrem as ocorrências. Na seção de comentários dos vídeos e fotos referentes aos casos no perfil de Leonardo, o público expressa solidariedade com as vítimas e alguns ainda relatam ter passado por situações similares com o pastor.


“Já fui humilhada e maltratada por esse indivíduo que se diz pastor”, escreveu uma internauta. “Fui membra e obreira desta denominação, vivi e vi muitas coisas, e estou apoiando a causa (das denúncias)”, comentou outra.



Sobre as denúncias registradas nessa segunda-feira (20/5), a Polícia Civil informa que foram instaurados três procedimentos para apuração dos fatos na Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente de Belo Horizonte.

 

Nota da Igreja do Evangelho Quadrangular em Minas

 

"A Igreja do Evangelho Quadrangular tomou conhecimento da exposição da instituição nas redes sociais através dos conteúdos que foram postados e mencionados o nome da igreja.

Informamos que até o presente momento não foi protocolado nenhum tipo de denúncia formal junto à atual direção da igreja.

O pastor envolvido será convocado pela direção para ser ouvido.

Atenciosamente
Assessoria de Imprensa"


O pastor acusado foi procurado pela reportagem, mas ainda não se manifestou a respeito dos casos. O espaço continua aberto para quaisquer pronunciamentos.

 


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