Com meio século de existência, a capital mineira guardava, literalmente, características do Curral del Rei. Foram ao menos três ocasiões, entre 1936 e 1944, que os jornais noticiaram vacas descontroladas colocando os belo-horizontinos para correr. Além de escoriações, uma bicicleta e uma perna quebradas, as revoltas dos bovinos não causaram grandes estragos, mas foram espetaculares o bastante para estamparem páginas do Estado de Minas e do Diário da Tarde.


A primeira foi em 28 de maio de 1936, quando a vaca Faísca fugiu de um vagão na Central e apareceu na Praça Sete. Com dois vaqueiros e um cachorro no encalço, Faísca partiu afugentando quem passava pela frente até entrar no lotado bar Café Avenida.

 

Leia também: Temperatura aumenta até 1,1°C em cidades mineiras


“Os fregueses, ante a inesperada visitante, voaram para todos os lados, chegando alguns a galgar até as prateleiras”, informava o EM do dia seguinte. O gerente do estabelecimento, Ozório Azevedo, que apanhava bebidas junto a uma cesta, foi atingido, sendo erguido pelo animal com os chifres.


“Ninguém tinha coragem de se aproximar de Faísca, muito menos os vaqueiros. Somente o cachorro, valentemente, continuava a assediá-la, até que conseguiu prendê-la pelo focinho, imobilizando-a.” Um guarda à paisana a agarrou pelos chifres. Faísca foi amarrada e levada ao vagão na Estação Central. O gerente do Café Avenida foi parar no pronto socorro, com escoriações.

 

Leia também: Ministério da Saúde inicia nova campanha de vacinação contra covid-19

 

Rebuliço e laço

 

Em abril do ano seguinte, os telefones da redação do DT tocaram cedo. O repórter correu até a Avenida do Contorno, no Bairro Floresta. Cerca de 500 pessoas se apinhavam no portão da casa de Angelo Parizi, onde, refugiada no quintal, uma vaca chifrava qualquer um. O animal havia fugido do proprietário, Helvécio Penna Mascarenhas.


Ninguém conseguia pegar o bicho, até que apareceu um herói e laçou-a. “Aí é o que o rebuliço foi maior: a vaca saiu furiosa para a avenida e os populares se dispersaram entre gritos, correrias e só pararam de correr quando viram o animal preso a um poste”, dizia o DT de 16 de abril de 1937. Finalmente, o sr. Helvécio, levou-a embora – não sem dificuldade.

 

Confusão no comércio

 

Sete anos depois, BH foi novamente palco de um bovino enfurecido. Na tarde de 24 de julho de 1944, um touro fugiu da Central do Brasil ao ser baldeado de um vagão para outro, indo parar na Afonso Pena. “E começou a correria de centenas de pessoas, que subiam nas árvores, entravam nos cafés, embarafustavam-se pelos comércios.” O comerciante Paulo Las Casas, fugindo do bicho, caiu e fraturou a perna. “Em suas cegas investidas contra tudo o que se lhe apresentava pela frente”, o touro ainda avançou sobre dois ciclistas e destruiu uma das bicicletas.


Alguns indivíduos resolveram pegar cordas em um dos comércios para laçar o animal. O touro foi, então, reconduzido ao vagão da Central, sendo acompanhado no trajeto de perto pelos curiosos. n




compartilhe