Com a informação de duas pacientes que testaram positivo para febre Oropouche, em Ipatinga, na Região do Vale do Rio Doce, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais confirmou outros dois relatos da doença. Conforme a pasta, as ocorrências foram em Gonzaga, também no Rio Doce, e Congonhas, na Região Central do estado. As contaminações foram detectadas a partir de amostras de sangue, devido à suspeita de dengue, chikungunya ou zika.

 

Apesar de a doença ter sido identificada no país pela primeira vez em 1960, o governo de Minas afirma que não há registros de casos ou óbitos pelo vírus até maio de 2024, quando foram localizados as contaminações. Desde então, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado (Cievs-Minas) está acompanhando a evolução dos casos e “conduz a devida investigação epidemiológica no estado.

 

Em 14 de maio, o Ministério da Saúde fez um alerta sobre a disseminação do vírus pelo país. Na época, conforme dados da pasta, foram registrados 5.102 casos da doença, sendo 2.947 na Amazônia e 1.528 em Roraima. Os demais casos foram registrados ou estão em investigação na Bahia, Acre, Espírito Santo, Pará, Rio de Janeiro, Piauí, Roraima, Santa Catarina, Amapá, Maranhão e Paraná.

 



 

No alerta, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, explicou que, em um primeiro momento, o governo Federal acreditou que as contaminações ficariam concentradas na Região Norte, mas houve um espalhamento.

 

"Introduzimos a vigilância dessa nova doença, fizemos a construção das orientações para observação clínica. A gente não tinha nenhum manual ou protocolo para febre Oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede Lacen [laboratórios centrais] e, por isso, estamos conseguindo captar, fazer o diagnóstico correto para essa doença. Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose", esclareceu Ethel.

De acordo com o Ministério da Saúde, até o momento, a maioria dos casos de febre Oropouche no país foi diagnosticada em pessoas com idade entre 20 e 29 anos. As demais faixas etárias mais afetadas pela doença são 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 10 a 19 anos.

 

Sintomas

A febre Oropouche é uma doença causada por um arbovírus, ou seja, um vírus transmitido por um mosquito, o culicoides, também conhecido como borrachudo, assim como ocorre com a dengue, zika e chikungunya, transmitidas pelo Aedes aegypti.

 

Mas não é só isso que as doenças têm em comum, os sintomas também são parecidos: dor muscular, de cabeça, nas articulações, náusea, vômitos e diarreia. Segundo Flávia Cruzeiro, médica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas, o período de incubação da doença - ou seja, o intervalo entre a data do primeiro contato com o vírus até o início dos sintomas da doença - é de três a sete dias.

 

 

“Uma característica importante da febre Oropouche, que ocorre em até 60% dos casos, são as recidivas, ou seja, o retorno dos sintomas da doença de uma a duas semanas após o início da manifestação da febre”, alerta a médica.

 

Apesar do quadro clínico dos pacientes acometidos pela Febre Oropouche ser semelhante ao de outras arboviroses, a especialista explica que é necessário se atentar às possíveis complicações. “Os quadros neurológicos, como meningite ou encefalite, são algumas complicações possíveis, principalmente em pacientes imunossuprimidos. Podem ocorrer, também, complicações hemorrágicas, caracterizadas por sangramento gengival, sangramento no nariz ou presença de manchas avermelhadas na pele”, detalha.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado por exames laboratoriais, de biologia molecular (RT-qPCR) e isolamento viral, podendo ser detectado no soro. Em Minas Gerais, os exames são realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública, da Fundação Ezequiel Dias.

 

“É importante considerar a suspeita de FO em pacientes com sintomatologia compatível, especialmente, nos casos em que os exames para dengue, chikungunya e zika tenham apresentado resultado negativo”, explica a SES-MG.

 

Conforme uma portaria publicada em março de 2023 pelo Ministério da Saúde, a febre Oropouche compõe a lista de doenças de notificação compulsória. Portanto, os casos suspeitos ou confirmados devem ser comunicados ao Cievs-MG pelas unidades de saúde, em até 24 horas.

 

Tratamento

Não há vacinas ou medicamentos antivirais específicos para a febre Oropouche. O tratamento indicado é, sobretudo, para amenizar os sintomas apresentados e a evolução dos casos geralmente é benigna, com resolução em aproximadamente uma semana.

 

“O paciente deve fazer repouso e tomar medicamentos para dor, febre ou para controlar o vômito. Os casos que evoluem com complicações, como os quadros neurológicos ou de hemorragia devem ser acompanhados por um médico e, algumas vezes, precisam de internação”, reforça a médica do Cievs-MG, Flávia Cruzeiro.

compartilhe