Febre oropouche é transmitida pelo mosquito culicoides, também conhecido como borrachudo
 -  (crédito: Prefeitura de Ipatinga / Divulgação)

Febre oropouche é transmitida pelo mosquito culicoides, também conhecido como borrachudo

crédito: Prefeitura de Ipatinga / Divulgação

Em menos de uma semana, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais confirmou 68 novos casos de febre oropouche no estado. A informação foi repassada pela pasta nessa segunda-feira (3/6). Até a última quarta-feira (29/5), havia quatro casos da doença no estado, sendo dois em Ipatinga e um em Gonzaga, ambas na Região do Vale do Rio Doce, e um em Congonhas, na Região Central. A doença é transmitida pelo mosquito Culicoides, também conhecido como borrachudo e, até então, era comum na região Norte do país. 


As contaminações foram confirmadas a partir de 427 exames de casos suspeitos de arboviroses, mas que não apresentaram resultados positivos para dengue, zika e chikungunya. As amostras foram coletadas entre março e abril deste ano e analisadas no mês seguinte. Os novos casos foram descobertos em Coronel Fabriciano - 26 contaminações; Joanésia - 30 casos; Mariléia - um exame positivo; e Timóteo - 11 casos. Na capital, três exames feitos na rede privada testaram positivo para a doença, mas ao longo da investigação epidemiológica foi constatado que os pacientes foram contaminados em Santa Catarina. 


Como estratégia de vigilância do vírus, o governo de Minas pesquisou amostras coletadas em municípios de 14 das 28 Unidades Regionais de Saúde do estado: Barbacena, Belo Horizonte, Coronel Fabriciano, Divinópolis, Governador Valadares, Januária, Manhuaçu, Montes Claros, Passos, Patos de Minas, Pouso Alegre, Teófilo Otoni, Uberaba e Uberlândia. No entanto, até o momento, os casos confirmados concentram-se em sua grande maioria na região do Vale do Aço, devido à concentração de testagem. 


 

Apesar da arbovirose ter sido identificada no Brasil em 1960, o governo de Minas afirma que não houve registros de casos ou óbitos pelo vírus até maio de 2024, quando foram localizadas as contaminações. Desde então, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Estado (Cievs-Minas) está acompanhando a evolução dos casos e “conduz a devida investigação epidemiológica no estado”. 


Eduardo Prosdocimi, subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), explica que ao longo de 2024 foi verificada uma expansão da contaminação pelo arbovírus, chegando aos estados da Bahia e Espírito Santo. Por isso, Minas incluiu a febre oropouche às doenças analisadas nos exames para arboviroses.


“Estamos ampliando a vigilância laboratorial, ou seja, a capacidade de realização de exames de arboviroses, para entender quais arbovírus circulam em nosso estado. Isso é importante porque é um agravo que tem sintomas muito semelhantes à dengue e chikungunya e consideramos fundamental entregar essa informação correta ao paciente e à equipe de saúde, para que seja realizado o manejo adequado. E dentro dessa ampliação da vigilância laboratorial, conseguimos detectar quatro amostras que já indicam a febre oropouche”, destaca.


Alerta 


De acordo com o Informe Semanal do governo federal, divulgado pelo Centro de Operação de Emergências (COE), até a última terça-feira (28/5), foram registrados 5.802 casos da doença, sendo 3.111 na Amazônia e 1.707  em Rondônia. Os demais casos foram registrados ou estão em investigação na Bahia, Acre, Espírito Santo, Pará, Rio de Janeiro, Piauí, Mato Grosso, Roraima, Santa Catarina, Amapá, Maranhão, Paraná, Pernambuco e Minas Gerais. Três dos casos investigados tiveram como local provável de infecção a Bolívia. 


Em 14 de maio, o Ministério da Saúde emitiu um alerta às secretarias de Saúde sobre a disseminação do vírus pelo país. A pasta explica que, desde sua descoberta, já foram relatados casos isolados e surtos da doença principalmente na região Amazônica. Além disso, também há relatos da doença em outros países das Américas Central e do Sul como: Panamá, Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela. 


 

No aviso, a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, explicou que, em um primeiro momento, o governo federal acreditou que as contaminações ficariam concentradas na Região Norte, mas houve um espalhamento. 


"Introduzimos a vigilância dessa nova doença, fizemos a construção das orientações para observação clínica. A gente não tinha nenhum manual ou protocolo para febre oropouche. Distribuímos os testes para toda a rede Lacen [laboratórios centrais] e, por isso, estamos conseguindo captar, fazer o diagnóstico correto para essa doença. Estamos monitorando de perto e entendendo melhor essa nova arbovirose", esclareceu Ethel. 


Com resposta ao novo cenário epidemiológico, a União convocou os principais especialistas do país para uma reunião em Brasília. O encontro tem objetivo de elaborar um plano de enfrentamento para o período epidêmico de 2024/2025, considerando a possibilidade de antecipação do ciclo devido às mudanças climáticas. 


“Foi realizada uma análise detalhada do cenário para aprimorar a resposta ao próximo ciclo epidêmico, com foco na melhoria do diagnóstico clínico das arboviroses, incluindo a febre oropouche, dengue, chikungunya e zika. É importante destacar que as mudanças climáticas estão impactando no aumento e dispersão de casos de arboviroses no mundo”, informou o Executivo federal. 

 

Sintomas


A febre oropouche é uma doença causada por um arbovírus, ou seja, transmitida por um mosquito, assim como ocorre com a dengue, zika e chikungunya. Mas não é só isso que as doenças têm em comum, os sintomas entre as infecções também são parecidos: dor muscular, de cabeça, nas articulações, náusea, vômitos e diarreia. Segundo Flávia Cruzeiro, médica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas, o período de incubação da doença - ou seja, o intervalo entre a data do primeiro contato com o vírus até o início dos sintomas da doença - é de três a sete dias. 


“Uma característica importante da febre oropouche, que ocorre em até 60% dos casos, são as recidivas, ou seja, o retorno dos sintomas da doença de uma a duas semanas após o início da manifestação da febre”, alerta a médica.


 

Apesar  do quadro clínico dos pacientes acometidos pela febre oropouche ser semelhante ao de outras arboviroses, a especialista explica que é necessário se atentar às possíveis complicações. “Os quadros neurológicos como meningite ou encefalite são algumas complicações possíveis, principalmente em pacientes imunossuprimidos. Podem ocorrer, também, complicações hemorrágicas, caracterizadas por sangramento gengival, sangramento no nariz ou presença de manchas avermelhadas na pele”, detalha.


Diagnóstico


O diagnóstico é realizado por exames laboratoriais, de biologia molecular (RT-qPCR) e isolamento viral, podendo ser detectado no soro. Em Minas Gerais, os exames são realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública, da Fundação Ezequiel Dias.


“É importante considerar a suspeita de FO em pacientes com sintomatologia compatível, especialmente, nos casos em que os exames para dengue, chikungunya e zika tenham apresentado resultado negativo”, explica a SES-MG.


Conforme uma portaria publicada em março de 2023 pelo Ministério da Saúde, a febre oropouche compõe a lista de doenças de notificação compulsória. Portanto, os casos suspeitos ou confirmados devem ser comunicados ao Cievs-MG pelas unidades de saúde, em até 24 horas.


Tratamento


Não há vacinas ou medicamentos antivirais específicos para a febre oropouche. O tratamento indicado é, sobretudo, para amenizar os sintomas apresentados e a evolução dos casos geralmente é benigna, com resolução em aproximadamente uma semana.


“O paciente deve fazer repouso e tomar medicamentos para dor, febre ou para controlar o vômito. Os casos que evoluem com complicações, como os quadros neurológicos ou de hemorragia devem ser acompanhados por um médico e, algumas vezes, precisam de internação”, reforça Flávia Cruzeiro, médica do Cievs-MG.