Em ato pela demarcação do território Kamaka Mongóio em Brumadinho, indígenas cobram justiça pela morte do cacique Merong -  (crédito: Reprodução redes sociais)

Em ato pela demarcação do território Kamaka Mongóio em Brumadinho, indígenas cobram justiça pela morte do cacique Merong

crédito: Reprodução redes sociais

Líder da Retomada Kamakã Mongoió em Brumadinho, na Região Metropolitana de BH, o cacique Merong Kamakã, 36 anos, foi encontrado morto no dia 4 de março. Três meses depois, familiares estão apreensivos pela falta de atualizações sobre o caso e cobram justiça. 


A princípio, a morte foi registrada como suicídio, mas conhecidos associam a morte do cacique à luta territorial que ele liderava. “A gente precisa de uma posição. O que aconteceu com Merong?”, questiona cacica Katorã, mãe do líder indígena, em protesto pela demarcação do território Kamakã Mongoió.

 


Acompanhada de indígenas e de uma faixa que diz “cacique Merong presente”, a cacica se emociona ao mencionar a morte do filho. Katorã pede à Polícia Federal, responsável pelo caso junto ao Ministério Público Federal, uma posição sobre a investigação “porque atrás disso tem coisa. Cacique Merong não tinha essas intenções, ele era cheio de vida, cheio de sonhos”, diz a indígena se referindo a possibilidade de o líder ter se suicidado.

 


Ao Estado de Minas, Rogério Kamakã, irmão mais novo de Merong, diz que os familiares estão angustiados porque, desde o dia em que o cacique foi encontrado morto em Brumadinho, eles não receberam notícias sobre o andamento das investigações. “Estamos com o coração na mão. A gente não tem notícias, não tem nada. Podiam dar um telefonema para a minha mãe para acalmar o coração dela”, diz o indígena, que relatou sequer saber se o caso continua sendo apurado.


Rogério, assim como a cacica Katorã e outros conhecidos do líder ouvidos pela reportagem na época do ocorrido, duvidam da possibilidade dele ter tirado a própria vida. “Eu acho que meu irmão não tinha coragem de fazer isso. Se ele fez, alguém o forçou”, disse. 


O irmão mais novo do cacique conta que Merong era um líder bondoso, querido e a perda dele “deixou um buraco em nossos corações”. O líder indígena deixou dois filhos e mais quatro irmãos.


Além de liderar a luta pela retomada do território indígena e participar de outras lutas sociais, Merong ajudava financeiramente a mãe e Rogério, que estava desempregado. De acordo com o irmão, o cacique era o único que tinha uma renda.


O caso está sendo investigado pelo Ministério Público Federal e está sob sigilo. No momento, o inquérito policial tramita a cargo da Polícia Federal. A Polícia Civil participou das investigações e ouviu testemunhas. 

 

Quem era cacique Merong

 

Pertencente ao povo Pataxó-hã-hã-hãe e da sexta geração da família Kamakã Mongoió, o cacique Merong Kamakã era conhecido pela defesa dos direitos dos povos originários e pela liderança na retomada do Vale do Córrego de Areias, em Brumadinho. A área está sob processo de reintegração de posse, razão pela qual a mineradora Vale fez pedido para proibir o enterro do líder no local.

 

O cacique nasceu em Contagem, também na Grande BH, e, na infância, foi morar na Bahia. Para o cacique, a terra significava vida e espiritualidade, razão para defendê-la ao máximo. "No momento em que a terra é explorada indevidamente, ela nos dá o retorno da sua dor", dizia. Ele atuou também no Rio Grande do Sul e participou ativamente da Ocupação Lanceiros Negros. 

 

Conforme informações do Museu Nacional dos Povos Indígenas e do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, Merong disse que "guiado pelo Grande Espírito, sentiu que precisava voltar às terras ancestrais na região de Brumadinho protegendo-as da destruição que a assola e a ameaça constantemente".

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Fernanda Borges