Fachada da HD Bellagio Cirurgia Plástica, onde jovem morreu depois de passar por cirurgia plástica -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press)

Fachada da HD Bellagio Cirurgia Plástica, onde jovem morreu depois de passar por cirurgia plástica

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A.Press

A lista de mulheres que denunciam o atendimento e a negligência do cirurgião plástico sócio da Clínica HD Bellagio, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, cresce a cada dia. Mesmo respondendo a oito processos por suposto erro médico, a conduta do profissional saiu do judiciário e ganhou as manchetes após a morte de Thaynara Braz, de 28 anos, no fim de maio, depois de dois procedimentos estéticos.


O Estado de Minas conversou com mais uma paciente que acusa o médico de negligência. A mulher de 34 anos, que não quis se identificar, conta que para além das complicações do pós-operatório também sofre com respostas já que, inicialmente, seu procedimento seria feito por outro profissional, que a encaminhou para o sócio da clínica já no bloco cirúrgico. 


A servidora pública conta que em abril procurou um médico de sua confiança, com quem já tinha realizado uma lipoaspiração em 2021, para agendar um procedimento nas mamas. Durante as consultas, a paciente foi informada sobre uma mudança no espaço em que a intervenção aconteceria o que não estranhou, uma vez que, segundo o especialista, o novo local possuía mais recursos. 


 

Em 23 de abril, a paciente foi até a Clínica HD Bellagio onde foi surpreendida com a notícia de que quem faria a cirurgia seria outro médico. Por confiar no especialista que já conhecia, a mulher permitiu que fosse dado prosseguimento no processo. Conforme o relato, os problemas começaram logo no terceiro dia depois da operação, ao remover os curativos o primeiro profissional ficou assustado ao ver que o mamilo esquerdo da paciente começou a desenvolver necrose. 


“Meu mamilo esquerdo estava inteiramente necrosado. O médico tomou um susto, mas parece que eles se protegem, e por isso disse que era só um ‘sofrimentozinho’ e me passou alguns remédios e pomadas. Em outro retorno, quando ele tirou a pele morta, ficou uma cratera no meu seio”, relata. 


 

Apesar de afirmar que a situação seria normal e esperada, para a paciente o médico ficou preocupado e a pediu para fazer acompanhamento semanal. Apesar disso, ela se revolta com a situação, uma vez que o especialista responsável pela intervenção foi um “desconhecido”. 


“O pagamento da cirurgia foi feito ao médico que eu escolhi, no hospital consta apenas ele como responsável. A única prova que eu tenho que o sócio da clínica fez o meu procedimento é que antes de bloquear o Instagram, mandei uma mensagem perguntando sobre o meu caso e ele respondeu que estava ciente e que o acompanharia”, explica. 


A mulher também afirma que tem procurado atendimentos em outras unidades de saúde da capital, mas o atendimento lhe é negado e ela é orientada a voltar ao profissional que fez o procedimento. “Eu estou com duas feridas abertas na mama esquerda que não cicatrizaram. E quando procuro ajuda em outros especialistas, nenhum quer atender, sempre falam para procurar o responsável e sou tratada com rispidez”, relata. 


Processos 


A paciente ouvida pelo Estado de Minas se junta a outras que, há quase dois anos, vem procurando a advogada Gláucia Moura para conseguir alguma reparação judicial. A defensora afirma que são mulheres de diferentes idades que tiveram complicações após cirurgias realizadas pelo mesmo médico. Os relatos incluem casos de mutilação de mamilos, deformação das mamas e necrose da pele após mamoplastias. Os processos com pedido de indenização estão em fase de perícia, afirma a advogada.

 

Algumas das vítimas também registraram boletim de ocorrência, mas a advogada não detalha quantas. O número de mulheres vítimas pode ser ainda maior, já que algumas a procuraram e não tiveram coragem de denunciar. Segundo a advogada, após a repercussão da morte de Thaynara, mais vítimas a procuraram pedindo suporte. Além do processo na Justiça, a advogada pediu a cassação do registro do médico no Conselho Regional de Medicina (CRM). “Fiz denúncias, juntei provas, mas todos os processos administrativos foram arquivados”, disse, em entrevista ao Estado de Minas.

 

Procurado pela reportagem, o CRM-MG afirmou que todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas. "Todo o procedimento corre sob sigilo, conforme previsto no Código de Processo Ético-Profissional", registrou em nota.


 

Morte de jovem


Thaynara Braz, de 28 anos, morreu depois de passar por duas cirurgias na Clínica HD Bellagio, localizada na Avenida Portugal, no Bairro Jardim Atlântico. Os procedimentos estéticos – para substituição de prótese nas mamas e uma abdominoplastia – haviam sido feitos no último dia 28. 


À polícia, o proprietário do estabelecimento disse que a cirurgia tinha sido “um sucesso”, mas, na madrugada de quinta, a moça foi atendida às pressas no local após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Ela foi reanimada por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas morreu depois de uma segunda parada cardíaca.


Na época, por meio de nota, a Clínica HD Bellagio lamentou a morte da paciente e informou que os procedimentos pré e pós-operatórios foram conduzidos conforme os protocolos médicos. "Tanto o médico responsável pela cirurgia quanto o hospital permanecerão cooperando plenamente com as autoridades competentes para esclarecer todas as circunstâncias", diz o texto, que ressalta que o prontuário médico é sigiloso e que a perícia confirmará a causa da morte.