A MRS, empresa brasileira de logística e transporte ferroviário, causou confusão na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, ao começar a construir um muro no entorno da linha férrea que divide os bairros Lindéia e Tirol. Os moradores da região alegam que a obra, que começou no início do ano, está atrapalhando a circulação entre os bairros vizinhos.
Por esse motivo, partes do muro construído foram derrubadas, na última semana. De acordo com Helton Junior, morador do Bairro Lindéia há mais de 20 anos, grande parte dos moradores é contra a construção do muro. “Há alguns meses os funcionários da empresa passaram avisando que seriam cortadas algumas árvores para a construção de um muro de vedação da faixa de domínio da linha férrea e foi aí que começou todo o problema”, relembra.
A reportagem do Estado de Minas percorreu toda extensão da Rua das Petúnias, local mencionado pelo morador. Foi possível observar que em grande parte da via os muros já foram erguidos, mas na manhã desta quinta-feira (13), diversos trabalhadores ainda estavam no local, onde máquinas pesadas dividem o espaço com as pessoas que estavam indo trabalhar ou caminhar.
De acordo com Helton, o motivo da desaprovação por parte dos moradores se deve ao isolamento que o muro provoca, impossibilitando que as pessoas transitarem entre os bairros. A população também avalia que o muro gera mais insegurança por comprometer a visibilidade, além de desaprovar o impacto ambiental, já que mais de 60 árvores, algumas delas de grande porte, foram cortadas para a realização da obra.
No local, é possível ver várias árvores cortadas, com apenas as raízes expostas, além de diversos troncos espalhados. “Muitas destas árvores foram plantadas pelos primeiros moradores do bairro. Pessoas que faleceram e já nem estão aqui mais com a gente. Não se trata só da questão ambiental, mas também do valor afetivo que tem para a população local”, ressalta.
Ainda segundo Helton, as obras começaram sem um diálogo com os moradores que, desde então, tentam conversar com a empresa responsável, mas quase nada do que é discutido sai do papel. Até agora, a MRS cumpriu apenas uma exigência da população, o alívio na poeira gerada pelas obras. Para isso, um caminhão pipa passa jogando água na rua todos os dias.
As demandas por um muro misto com partes em tela para aumentar a visibilidade, além da construção de passagem de nível e passarela para pedestres, não foram atendidas pela empresa.
Em reunião, a MRS se comprometeu a replantar as árvores na região para compensar as que foram suprimidas. Insatisfeitos com o posicionamento da empresa, alguns moradores derrubaram o muro em diversos trechos.
O Estado de Minas entrou em contato com a empresa sobre o caso. A MRS informou que "todas as atividades mencionadas estão sendo realizadas dentro da faixa de domínio da MRS e devidamente autorizadas pelos órgãos competentes. Além disso, toda intervenção na região foi criteriosamente avaliada de forma a minimizar os impactos na vegetação local".
A empresa também informou que a segurança na linha férrea é uma prioridade e por isso realiza obras como a do Barreiro. "Trata-se da eliminação de 9 travessias clandestinas da linha férrea, que foram abertas por terceiros, sem a devida autorização. Esse tipo de passagem não oficial, além de representar riscos para a operação ferroviária, compromete a segurança das comunidades vizinhas à ferrovia. Garantir a segurança ferroviária é uma obrigação da MRS. Diferentemente das travessias clandestinas, as passagens em nível oficiais são estabelecidas em locais seguros, são devidamente sinalizadas e suas manutenções são garantidas pela empresa. No local, estão sendo construídos muros de vedação da ferrovia, que totalizam 3.415 metros e, com isso, estabelecidas 4 passagens em nível oficiais, uma para veículos e 3 para pedestres, para garantir o ir e vir seguro das pessoas que atravessam a ferrovia naquela região", explicou a MRS em nota.
Por fim, a empresa afirmou que fez contato com a comunidade local e mantém o canal de diálogo aberto com os moradores da região.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) também foi procurada e informou que a área é de jurisdição federal. Portanto, as questões envolvendo alterações e licenciamento ambiental são de responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O órgão foi contatado, mas não deu retorno.