As peças passaram por processo de conservação e desinfestação de cupins
 -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

As peças passaram por processo de conservação e desinfestação de cupins

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Sob escolta da Polícia Militar e da Guarda Municipal de Congonhas, na Região Central de Minas, retornaram, nesta quinta-feira (13/6), à Capela da Santa Ceia, as 15 peças barrocas que compõem o espaço localizado no entorno da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, monumento reconhecido como Patrimônio Mundial.

 

Esculpido por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), o conjunto com as imagens de 12 apóstolos, Cristo e dois servos, em tamanho natural, passou pelo processo de desinfestação denominado anóxia ou anoxia, para matar cupins e evitar a proliferação dos insetos, caso presentes na madeira.

 

“Estamos satisfeitos, pois o cronograma está sendo cumprido até com folga. Acreditamos que todo o serviço será concluído entre o próximo mês e agosto. Assim, em setembro, quando ocorre o Jubileu de Bom Jesus de Matosinhos, os milhares de visitantes poderão apreciar o resultado do trabalho realizado nas 64 imagens esculpidas por Aleijadinho e nas seis capelas dos Passos da Paixão de Cristo”, disse o diretor Municipal de Patrimônio de Congonhas, Hugo Cordeiro.

 

As 15 peças sacras estão ausentes da Santa Ceia, a maior das seis capelas, há quase nove meses – em 17 de outubro, o Grupo Oficina de Restauro, tendo à frente Adriano Ramos, deu início ao tratamento das obras escultóricas. “Em dezembro, o serviço estava pronto, mas, diante de problemas no espaço, como infiltrações, tivemos que mantê-lo vazio por mais tempo para conservação e restauração”, explicou Cordeiro. O local onde o acervo ficou, na própria cidade, é mantido em sigilo pelas autoridades.

 

 

A intervenção na Capela da Santa Ceias e nos outros Passos da Paixão de Cristo, conduzida pela prefeitura local, foi feita com uso de material (cal, argamassa de cal e areia) e técnicas construtivas da época da construção, contemplando a recomposição de rebocos e algumas partes degradadas, tratamento das cúpulas, limpeza das cantarias e pintura das esquadrias de madeira. Todo o serviço tem acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois os bens são tombados pela União e integram o complexo arquitetônico e artístico (incluindo os 12 profetas esculpidos também por Aleijadinho, no adro da basílica) reconhecido como Patrimônio Mundial, em 1985, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

 

Nova etapa

 

Na terça-feira (11), a equipe do Grupo Oficina de Restauro iniciou mais uma etapa de conservação com a retirada do Anjo da amargura com o cálice, da Capela do Horto das Oliveiras. A peça será tratada na própria capela devido a suas dimensões, enquanto o conjunto (Cristo suando sangue e os apóstolos Pedro, Tiago e João) já passou pelo processo de desinfestação em outro local.

 

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Na sequência, os especialistas vão trabalhar nas peças sacras da Capela Cruz às Costas, construída entre 1864 e 1875, na qual se encontram as imagens de Cristo ao lado de duas mulheres, de guardas romanos, do mascote da guarda e de um arauto que anuncia o cortejo pelas ruas de Jerusalém. “Todas serão embaladas, e ficarão na bolha durante 45 dias, para o processo de desinfestação”, adiantou Adriano. Além da Santa Ceia, os visitantes já podem ver, concluídas, as imagens nas capelas da Prisão e Flagelação e Coroação de Espinhos.

 

 

O trabalho de desinfestação, com recurso de um termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal, é monitorado pelos especialistas. Segundo Adriano Ramos, o método (anóxia ou anoxia) consiste em colocar as imagens dentro da bolha de plástico especial – cada uma tem 3 metros de comprimento, 2m de largura e 1m de altura –, fechada com barreiras e válvulas. Quando tudo está bem acondicionado e vedado, a equipe técnica injeta nitrogênio para ser retirado todo o oxigênio existente no interior da bolha.

 

Veja como está a restauração da Capela Cruz às Costas

 

 

Passos da Paixão de Cristo, em Congonhas

 

1) Santa Ceia

Construída entre 1799 e 1808, a capela apresenta 12 apóstolos, Cristo e dois servos esculpidos por Aleijadinho, que teria também sido o responsável pelo desenho do prédio.


2) Horto das Oliveiras


Apresenta as imagens de Cristo suando sangue, o anjo da amargura com o cálice e os apóstolos Pedro, Tiago e João. Construída entre 1813 e 1818.

3) Prisão

O cenário pintado por Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) recria o Monte das Oliveiras, com colunas e decoração, arcos e vegetação para valorizar o conjunto de peças – Cristo, Judas, São Pedro e soldados.



4) Flagelação e Coroação de Espinhos

Construída entre 1864 a 1875, mostra duas cenas: do lado esquerdo, está Cristo atado a uma coluna, enquanto um soldado o esbofeteia; do direito, a imagem também conhecida como Senhor da Pedra Fria ou Cristo da Cana Verde.

 

5) Cruz às Costas


Construída entre 1864 e 1875. As imagens são de Cristo ao lado de duas mulheres, de guardas romanos, do mascote da guarda e de um arauto que anuncia o cortejo pelas ruas de Jerusalém.


6) Crucificação

As peças recriam Maria Madalena ao pé da cruz, soldados disputando as vestes de Cristo, o centurião romano São Longuinho, o bom ladrão, Dimas, e o mau ladrão, Gestas.